Christian de Duve, ganhador do prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina em 1974 por descobrir a função do lisossoma, morreu no sábado, dia 4 de maio, de eutanásia (morte assistida).
A Bélgica, país em que de Duve vivia, foi o segundo país do mundo a legalizar a eutanásia, em 2002, depois da Holanda.
O professor de Duve, com 95 anos, escolheu a eutanásia depois de ver sua saúde deteriorar nos últimos anos. Ele será cremado na quarta-feira, dia 8, “na mais estrita intimidade”.
Um cientista
Duve nasceu no Reino Unido, filho de pais belgas que haviam se refugiado lá por ocasião da Primeira Guerra Mundial. Nos anos 1920, ele retornou para a Bélgica com a família.
Nos anos 1940, usou uma centrífuga e outras técnicas para separar e examinar os componentes das células, descobrindo desta forma o lisossoma.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi médico no exército belga, tendo sido capturado com sua unidade na França, e escapado para a Bélgica. Seu trabalho de graduação foi uma tese sobre a insulina, assunto de um livro que ele escreveu mais tarde.
Foi estudando a insulina que o dr. de Duve acabou descobrindo, sem querer, os lisossomos, ao notar que a maneira de dividir as células alterava o funcionamento de uma enzima. Mais tarde, ele percebeu que a enzima estava contida em uma organela que era muito mais danificada quando ele usava um blender do que quando usava um pistilo para dividir as células.
Ele confessou que a curiosidade levou a melhor sobre sua pesquisa: a nova descoberta atraiu tanto a sua atenção que o estudo sobre insulina nunca avançou muito.
Agraciado com o Francqui Prize de Ciências Biológicas e Médicas em 1960, em 1974 ele dividiu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina com Albert Claude e George Palade, pela descrição da estrutura e função de organelas (lisossomos e peroxissomos) em células. Seu trabalho também contribuiu para o consenso de que a teoria endossimbiótica é correta.
Um descrente
Christian de Duve decidiu recorrer à eutanásia depois de sofrer uma queda em casa, no início de maio. Ele apenas aguardou a vinda de seu filho que estava nos EUA para morrer rodeado dos familiares.
Há um mês, ele deu uma entrevista em que afirmou que “seria exagerado dizer que não tenho medo da morte, mas não tenho medo do que vem depois porque não sou crente. Quando desaparecer, vou desaparecer, não vai sobrar nada”.
Segundo sua filha Françoise, “ele deixou-nos de forma serena e recusou-se a tomar qualquer medicamento para ansiedade antes da injeção final. Deixou-nos com um sorriso e um adeus”.
Christian de Duve é a segunda pessoa célebre na Bélgica a morrer de eutanásia. Segundo um colega de trabalho, ele sofria de vários problemas de saúde, incluindo câncer. [MedicalXpress, Wikipedia, G1, NYTimes]