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Gaydar existe? Podemos dizer se uma pessoa é homossexual só de olhar para ela?

O “radar gay”, também conhecido como gaydar, é a capacidade de dizer a orientação sexual de alguém só de olhar para ela. Será que isso existe?

Segundo os pesquisadores da Universidade de Washington e da Universidade Cornell (EUA), Joshua A. Tabak e Vivian Zayas, sim.

O fato de que existe um “radar gay”, ou seja, de que é possível identificar a orientação sexual de alguém só pela sua aparência, não significa que isso sempre vá dar certo, no entanto.

Os cientistas, cujo estudo foi publicado no periódico PLoS One, mostraram 96 fotos de rostos de homens e mulheres homossexuais e heterossexuais para 129 estudantes.

As fotos continham realmente apenas rostos: penteados, óculos, tatuagens, piercings, ou qualquer coisa que remetesse a uma cultura e pudesse “dedar” a orientação sexual foi retirada das imagens. Além disso, os participantes só viram as fotos por cerca de 50 milissegundos, o suficiente para o cérebro saber que viu a foto, mas não para analisá-la muito bem.

Ainda assim, eles acertaram a orientação sexual das pessoas 60% das vezes. Isso pode parecer pouco, mas é estaticamente significativo, ou seja, não foi por acaso: o radar gay entrou em ação.

E o que fez com que os participantes soubessem quem era gay e quem não era, se eles não olharam as pessoas por muito tempo, e não tiveram dicas de seu vestuário ou seu trejeito, muitas vezes usados como “indicadores” de orientação sexual pela sociedade?

Segundo os pesquisadores, foram as características faciais (como o olho ou lábio), e, principalmente, a “configuração” dessas características espacialmente no rosto (como a distância entre os olhos ou a proporção entre largura e altura facial) que levou às conclusões.

Por exemplo, a relação largura-altura facial normalmente difere entre homens e mulheres (é maior nos homens), porque tem a ver com a liberação de testosterona durante a adolescência.

Dado os estereótipos de gênero aplicados aos gays – homens gays como relativamente femininos e mulheres gays como relativamente masculinas -, essa relação pode desempenhar um papel na forma como as pessoas julgam a orientação sexual dos outros.

E, claro, não poderia faltar o elemento cultural. Mulheres podem usar azul desde pequenas, enquanto homem que gosta de rosa quando pequeno é visto como “projeto de homossexual”. A mesma coisa para os brinquedos: ninguém se importa muito com menina que gosta de praticar esportes como o futebol, mas um menino querer uma boneca…

Isso refletiu no estudo. Os participantes acertaram mais quando uma mulher era gay (65%) do que quando um homem era gay (57%). Isso significa que os homens foram classificados de forma errada mais vezes. Qualquer rosto de homem com características mesmo um pouco afeminadas já era incorretamente classificado como gay, porque somos mais rigorosos com o “universo macho”.

E será que dizer que é possível saber que alguém é gay só de olhar para ele é preconceito? Os pesquisadores acham que não. Sabemos que alguém é homem ou mulher só de olhar para ele, ou que alguém é branco ou negro só de olhar para ele, então deveria ser a mesma coisa para a orientação sexual.

O problema, é claro, é óbvio: a sociedade ainda não aceita de todo o elemento “gay”, que não deveria ser objeto de preconceito, mas o é. Segundo eles, dessa forma, a melhor arma não é tentar esconder que alguém é gay, mas justamente o contrário.

Infelizmente, o preconceito, de qualquer tipo – por raça, orientação sexual, religião –, nunca poderá ser totalmente sanado, a não ser que todos os seres humanos aprendam a conviver com as diferenças sem querer matar uns aos outros por elas.

Apesar de muitos chamarem tal façanha de “utopia”, temos que continuar tentando. Os governos têm que continuar criando programas e leis que amparem a sociedade como um todo, porque é o certo, e é o único jeito, pelo menos por enquanto. [NyTimes, Estadão, Uol]

Agradecimentos ao leitor Helder Alencar pela sugestão de artigo.

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