Investigações científicas recentes revelaram que fatores genéticos podem influenciar a tendência de uma pessoa em consumir vegetais. Um estudo inovador identificou uma conexão entre a adoção de uma dieta estritamente vegetariana e cerca de 34 genes distintos. Esses genes desempenham um papel na funcionalidade cerebral e na forma como nossos corpos processam as gorduras da dieta, fornecendo uma possível explicação para essa conexão. No entanto, pesquisas adicionais são necessárias para confirmar e compreender melhor essa relação.
De acordo com dados de uma pesquisa da Gallup, aproximadamente 4% da população dos EUA segue atualmente um estilo de vida vegetariano. Essa estatística tem se mantido relativamente estável ao longo dos últimos vinte anos, apesar de haver evidências de uma redução geral no consumo de carne. Surpreendentemente, uma proporção significativa de indivíduos que se identificam como vegetarianos ainda consome carne ocasionalmente. Por exemplo, um estudo de 2015 descobriu que 48% das pessoas que se consideravam vegetarianas haviam consumido carne, aves ou frutos do mar recentemente.
O desafio de manter o vegetarianismo, apesar das fortes razões éticas e de saúde para adotar tal dieta, levou os autores do estudo a investigar mais a fundo. Estudos anteriores mostraram que a genética pode influenciar nossas preferências alimentares, então os pesquisadores estavam interessados em verificar se isso se aplicava ao vegetarianismo.
Para isso, os pesquisadores utilizaram dados do UK Biobank, um amplo projeto de pesquisa que coleta informações genéticas e de saúde de uma grande parte da população do Reino Unido. Eles conduziram um estudo de associação genômica ampla (GWAS), que identifica genes ou variações genéticas estatisticamente relacionadas a doenças específicas ou características em grandes populações.
Neste estudo, os cientistas compararam o material genético de mais de 5.000 indivíduos que seguiam rigorosamente uma dieta vegetariana (evitando todos os peixes, carnes e aves) com mais de 320.000 indivíduos não vegetarianos. Eles encontraram três genes fortemente associados ao vegetarianismo e outros 31 genes potencialmente ligados a ele.
Esta pesquisa pioneira, publicada na revista PLOS-One, representa um marco no campo, como afirmou Nabeel Yaseen, professor emérito de patologia na Northwestern University Feinberg School of Medicine.
Em sua comunicação com a Gizmodo, Yaseen destacou que este estudo é a primeira investigação totalmente revisada por pares e indexada sobre a genética do vegetarianismo.
Estudos GWAS são essenciais para entender as várias maneiras pelas quais a genética afeta nossas vidas, mas têm suas limitações. Por exemplo, eles podem estabelecer correlações entre variáveis, mas não a causalidade direta. Neste contexto, a base genética do vegetarianismo ainda é parcialmente compreendida.
Yaseen apontou que, embora diferenças genéticas significativas entre vegetarianos e não vegetarianos tenham sido identificadas, junto com vários genes-chave, as variantes exatas de genes cruciais para o vegetarianismo ainda são desconhecidas. Espera-se que pesquisas futuras explorem esses genes e variantes em grupos étnicos diversos, inicialmente focando em caucasianos brancos para minimizar fatores de confusão. Esse conhecimento poderia eventualmente levar a recomendações dietéticas mais personalizadas ou a melhores alternativas à carne.
Contudo, esses achados são preliminares, oferecendo alguma direção para investigações futuras. Alguns dos genes identificados estão envolvidos no metabolismo de lipídios (gorduras) em nossa dieta. Como a carne contém lipídios complexos diferentes dos encontrados em alimentos à base de plantas, Yaseen teoriza que a preferência por carne pode ser decorrente de uma necessidade inconsciente desses lipídios. Ele sugere que vegetarianos estritos podem possuir variantes genéticas que lhes permitem sintetizar esses lipídios independentemente, embora isso ainda seja especulativo neste estágio.
Além disso, a pesquisa ressalta a importância de se considerar a genética na compreensão dos hábitos alimentares e na promoção de escolhas dietéticas mais saudáveis. À medida que avançamos, as descobertas deste estudo podem desempenhar um papel crucial na abordagem personalizada da nutrição e na promoção de estilos de vida mais sustentáveis. A genética, conforme demonstrado por essa pesquisa, não é apenas um fator determinante em nossas escolhas alimentares, mas também pode nos fornecer insights valiosos sobre como adaptar nossas dietas para atender às nossas necessidades individuais e preferências.
Essa abordagem personalizada poderia ser particularmente útil em casos onde as pessoas lutam para adotar uma dieta vegetariana, seja por motivos de saúde ou preferências pessoais. Entender os componentes genéticos que influenciam a escolha de alimentos pode levar a intervenções nutricionais mais eficazes, ajudando indivíduos a alcançar seus objetivos de saúde e bem-estar de maneira mais eficiente.
Em resumo, o estudo de Yaseen e sua equipe abre novos caminhos na compreensão do papel da genética no vegetarianismo. Ele oferece um vislumbre intrigante de como nossas predisposições genéticas podem moldar nossos hábitos alimentares e, por extensão, nossa saúde geral. À medida que a pesquisa avança, pode-se esperar que essas descobertas levem a avanços significativos na nutrição personalizada e no desenvolvimento de alternativas alimentares que se alinhem melhor com nossas necessidades genéticas e preferências dietéticas. [Gizmodo]