Cientistas fizeram uma descoberta muito importante para o meio ambiente: segundo eles, uma ilha subantártica e suas águas circundantes parecem ainda mais ricas em espécies de animais marinhos que as lendárias Ilhas Galápagos.
A South Georgia (em português, Geórgia do Sul), uma ilha de cerca de 170 quilômetros de comprimento e mais de três vezes o tamanho de Hong Kong, localizada no oceano antártico, é a mais meridional das águas dos oceanos do mundo.
Oliver Hogg, ecologista marinho, brinca: “Parece que um gigante pegou os Alpes e os colocou no meio do oceano antártico”.
A nova pesquisa mostra que as centenas de ilhas são a morada de muitas espécies marinhas, algumas não encontradas em nenhum outro lugar do mundo.
Os pesquisadores realizaram o primeiro estudo detalhado das criaturas marinhas na zona da plataforma continental em torno da Geórgia do Sul, uma região que abrange cerca de 44.000 quilômetros quadrados.
Eles analisaram mais de 25.000 registros que datam de mais de 130 anos, coletados em cruzeiros científicos, navios de pesca e por mergulhadores em torno da ilha. Hogg conta que, em novembro passado, mergulhadores experientes conduziram a maior exploração das águas da Geórgia do Sul, enfrentando condições de zero grau Celsius para coletar amostras das águas do norte da ilha.
A pesquisa demonstrou que a Geórgia do Sul e as ilhas circundantes são a área mais rica em vida marinha no oceano antártico. Com base em dados atuais, o local apoia muito mais espécies do que Galápagos e Equador juntos. Durante a época de reprodução, abriga a mais densa massa de mamíferos marinhos na Terra.
Ouriços-do-mar, vermes, peixes, aranhas do mar e crustáceos estão entre as 1.445 espécies registradas em mais de 17.000 amostras analisadas. E esse valor é conservador. “Algumas estimativas estão bem acima de 2.000”, conta Hogg.
Segundo os cientistas, a área é tão diversa devido a uma combinação de fatores. A ilha é antiga; começou a separar-se da massa terrestre da América do Sul cerca de 45 milhões de anos atrás. Isso lhe permitiu se desenvolver. Combinado com o fato de que é muito isolada, permitiu a evolução de novas espécies.
Além disso, a área útil é de grande porte, oferecendo diversos habitats e um grande alvo para potenciais novos habitantes. A ilha está próxima a correntes ricas em nutrientes, que também podem fornecer espécies de climas temperado e antártico na forma de larvas ou adultos (que pegam carona em “balsas” de alga marinha).
A ilha não parece ter espécies invasoras marinhas, o que permite que a comunidade natural se desenvolva sem perturbação. Também é demasiado distante ao norte para ser atingida com icebergs (que caem no leito do mar, esmagando grande parte da vida selvagem), é demasiado ao sul para ter interação humana.
Quando comparado com um de seus vizinhos mais próximos, as ilhas Orkney, a plataforma continental da Geórgia é de apenas 75% do tamanho, mas tem quase 40% mais espécies.
Em termos de outras ilhas do oceano antártico, a Geórgia do Sul também teve a vantagem de não ter sua plataforma totalmente coberta durante a última idade do gelo. Assim, sua vida selvagem foi capaz de colonizar e se desenvolver relativamente intacta por mais tempo.
Essa é a primeira vez que alguém traçou a biodiversidade de um pequeno arquipélago polar no oceano antártico. Os resultados são fundamentais para controlar a forma como essas espécies podem responder a futuras mudanças ambientais.
As águas próximas da superfície em torno da Geórgia do Sul são alguns dos locais mais rápidos de aquecimento da Terra. A nova pesquisa pode ajudar a identificar áreas e espécies ecologicamente sensíveis, bem como identificar as prioridades de conservação.
A maior preocupação é a extinção de criaturas, incapazes de lidar com mudanças em seu ambiente. Ainda assim, Hogg observa que não sabemos com certeza a capacidade da maioria das espécies de lidar com mudanças de temperatura.
“A temperatura da água no sul da Geórgia pode variar em até 5 graus Celsius anualmente. Sendo assim, é plausível que algumas espécies da ilha tenham predisposição para tolerar mudanças de temperatura”, diz o ecologista.
No futuro, os pesquisadores esperam mapear as águas da ilha de forma mais completa. O interesse primordial é a área sul, que tem recebido pouca atenção até agora; as possibilidades de encontrar novas espécies lá, portanto, são grandes.[OurAmazingPlanet]