Grande parte da nossa experiência musical é um mistério para a ciência. Por exemplo, por que algumas músicas nos fazem chorar, enquanto outras nos fazem dançar? Por que algumas pessoas parecem ter uma habilidade natural de tocar música, enquanto outras têm dificuldade até de cantar afinado?
Muitas perguntas vão permanecer sem resposta, mas alguns avanços têm sido feitos nesse campo de estudo. Uma nova pesquisa descobriu, por exemplo, que tais diferenças individuais não são apenas aleatórias, mas em parte devidas à personalidade das pessoas.
Os tipos de personalidades
David Greenberg, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e seus colegas evidenciaram que as preferências musicais das pessoas estão ligadas a três estilos de personalidade.
Os empáticos (tipo E) têm um forte interesse em pensamentos e emoções das pessoas. Sistêmicos (Tipo S) tem um forte interesse em padrões, sistemas e regras que governam o mundo. Aqueles que pontuam relativamente igual em empatia e sistematização são classificados como tipo B, de “Balanceados”.
95% das pessoas podem ser classificadas em um destes três grupos. Por sua vez, os grupos podem prever muito do comportamento humano, por exemplo, se alguém estuda matemática e ciências ou humanidades na universidade.
Pela primeira vez, cientistas mostraram que esses tipos também podem prever o comportamento musical.
O estudo
Para estudar este fenômeno, várias experiências foram feitas com mais de 4.000 participantes. Os pesquisadores coletaram dados sobre seus estilos de pensamento, e os participantes tiveram que ouvir até 50 trechos musicais de uma ampla gama de gêneros e indicar as suas preferências.
Os cientistas descobriram que os empáticos preferiam música suave que tinha pouca energia, emoções tristes e profundidade emocional, como gêneros como R&B e rock leve. Por exemplo, a empatia estava ligada à preferência pela música “Come Away With Me” de Norah Jones e a gravação de “Aleluia” de Jeff Buckley.
Por outro lado, sistêmicos preferiam músicas mais intensas, como hard rock, punk e gêneros de metais pesados. Também preferiam música com profundidade e complexidade intelectual como em gêneros clássicos avant-garde. Por exemplo, sistematização estava ligada à preferência por “Etude opus 65 no 3” de Alexander Scriabin.
É importante ressaltar que as pessoas do tipo B tinham uma tendência mais eclética, ou seja, preferiam músicas que se estendiam por um intervalo maior de gêneros.
Talento musical
Em uma experiência mais recente, os cientistas também confirmaram que traços de personalidade podem prever a capacidade musical das pessoas, mesmo que elas não saibam atualmente tocar qualquer instrumento.
Mais de 7.000 participantes foram avaliados em cinco dimensões de personalidade: abertura, conscienciosidade, extroversão, afabilidade e neuroticismo/estabilidade emocional. Eles também realizaram várias tarefas que mediram sua capacidade musical, incluindo lembrar melodias e escolher ritmos.
Ao lado da formação musical, o traço de personalidade de abertura foi o mais forte preditor de sofisticação musical. Pessoas com pontuação alta para a abertura eram mais imaginativas, tinham uma ampla gama de interesses, e eram abertas a novas maneiras de pensar e a mudanças em seu ambiente.
Aqueles com pontuação baixa em abertura eram mais fechados, preferiam a rotina e o familiar, e tendiam a ter valores mais convencionais. Além disso, os extrovertidos eram muitas vezes mais falantes, assertivos e possuíam maiores habilidades de canto.
Usando a personalidade para descobrir talento musical
Os pesquisadores puderam fazer essas asserções mesmo para as pessoas que não sabiam tocar nenhum instrumento musical. Isso indica que há pessoas que têm um potencial para talento musical, mas estão inconscientes dele.
“Esperamos que estes resultados possam ajudar professores, pais e médicos. Com base em informações sobre a personalidade, os educadores podem garantir que as crianças com potencial de talento musical tenham a oportunidade de aprender um instrumento musical. Musicoterapeutas podem usar informações sobre estilo de pensamento para ajudar a adequar as suas terapias para os clientes também”, disseram os cientistas. [ScienceAlert]