Profissionais da saúde trabalham com o conceito de “meia infância”. Trata-se, em linhas gerais, do período em que a criança termina de desenvolver a primeira fase do corpo, deixando de ter a silhueta gordinha de um bebê, até antes de entrar na puberdade. O auge dessa época, que seria entre os cinco e seis anos de idade, foi sempre tratado como um momento no qual o corpo apenas cresce, mas se modifica pouco. Pesquisas recentes, no entanto, contestam essa tese.
Estudos sobre fatores físicos e psicológicos, feitos não apenas pela pediatria mas também por outros ramos da medicina, têm dado novo significado à meia infância. Pesquisadores da Universidade de Utah (EUA) afirmam que essa idade é fértil em ambos os fatores.
O período entre a primeira infância e a puberdade representa um significativo desenvolvimento do sistema nervoso. O volume de sinapses cerebrais, por exemplo, alcança um patamar inédito durante esta fase, o que é acompanhado pelo desenvolvimento pleno dos neurônios. É por essa época, também, que os hormônios auxiliadores de atividades cerebrais de um adulto (tais como a deidroepiandrosterona, ou DHEA) passam a ser produzidos com regularidade.
Mas não é apenas o cérebro que encontra seu desenvolvimento pleno durante a meia infância. Alguns pontos cruciais da vida de um ser humano também passam por transformações durante esta fase. É na meia infância, por exemplo, que ocorre a troca de dentes. Com a arcada definitiva, a criança amplia seu leque de opções alimentares, e boa parte das produções hormonais sofre influência direta ou indireta por conta disso.
Algumas teorias evolutivas vão ainda mais longe, afirmando que a meia infância é um ganho do Homo Sapiens moderno. Segundo esta ideia, os Neandertais, por exemplo, passavam muito rapidamente da primeira infância ao período que poderia ser chamado de puberdade, razão pela qual certas partes do corpo não eram tão desenvolvidas nos humanos como são atualmente.
E mesmo a puberdade, em seu ápice, não representa uma explosão de mudanças de uma só vez: tudo é feito por partes. Quando uma menina tem sua primeira menstruação aos doze anos, por exemplo, o desenvolvimento do corpo está longe de terminar, podendo se prolongar além dos dezoito. Da mesma forma, a meia infância é um marco de algumas mudanças no corpo que encontram continuidade nos anos que seguem. [NewYorkTimes]