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Lesão incrivelmente comum relacionada ao aumento do risco de demência

Quando uma pessoa idosa cai, não é apenas o corpo que bate no chão. De acordo com um estudo recente realizado nos Estados Unidos, essas quedas podem ser uma espécie de alarme silencioso, um prenúncio de que algo não vai bem no cérebro. Pesquisadores descobriram que idosos que sofrem lesões decorrentes de quedas têm uma probabilidade significativamente maior de desenvolver demência em até um ano, em comparação àqueles que sofrem outros tipos de ferimentos. Mas como entender essa relação entre um joelho ralado e a perda de memórias preciosas?

O mistério das quedas: um aviso precoce ou coincidência?

Quedas entre idosos são tão comuns quanto histórias repetidas em almoços de domingo. Aproximadamente um terço das pessoas com mais de 65 anos se machuca em uma queda anualmente. Mas, segundo Alexander Ordoobadi, do Brigham and Women’s Hospital, essas quedas podem ser mais do que simples acidentes: elas podem ser como um farol piscando na neblina, sinalizando que o cérebro já está começando a perder parte de sua vitalidade.

Ainda que o estudo não afirme que as quedas causam diretamente a demência, ele aponta que podem ser um sinal precoce de problemas neurológicos, incluindo a doença de Alzheimer. Imagine um prédio que começa a mostrar rachaduras: as quedas seriam essas primeiras fissuras, que indicam que a estrutura está enfraquecendo por dentro, mesmo que o exterior pareça sólido.

Como a pressa pode nos fazer perder a cabeça (literalmente)

Uma questão que Ordoobadi levanta é que, em muitos hospitais e centros de trauma, os atendimentos são focados nas lesões visíveis, como ossos quebrados e cortes profundos. E a triagem cognitiva, aquela que detectaria problemas de memória ou atenção, muitas vezes fica de lado. Quem tem tempo para perguntar sobre lapsos de memória quando a prioridade é engessar um braço?

A cada ano, cerca de 10 milhões de novos casos de demência são registrados em todo o mundo, afetando não só os pacientes, mas também suas famílias. E como ainda não existe um remédio milagroso, a melhor forma de lidar com a demência é encontrá-la cedo, antes que ela transforme a mente em um emaranhado de pensamentos confusos. Por isso, identificar esses sinais iniciais é tão importante quanto perceber um sintoma de infarto a tempo.

Tropeços que revelam segredos do cérebro

Analisando dados de mais de 2,4 milhões de idosos que buscaram atendimento médico por lesões nos EUA, os pesquisadores descobriram uma pista valiosa: idosos que sofreram quedas com lesões tiveram 20% mais chances de desenvolver demência no ano seguinte, em comparação àqueles que sofreram outros tipos de acidentes. Pode parecer pouca coisa, mas, em uma população tão numerosa, essa porcentagem é como uma gota que faz transbordar o balde.

Ordoobadi sugere que esses números são um forte argumento para incluir avaliações de memória em casos de quedas. Imagine um idoso que chega ao hospital com um pulso fraturado após uma queda. Ao invés de apenas tratar o osso, os médicos também deveriam se perguntar: “Será que essa queda foi um sinal de algo mais sério?”

O ciclo vicioso entre quedas e demência

Para Molly Jarman, especialista em epidemiologia de lesões, a conexão entre quedas e demência funciona em duas direções, como uma rua de mão dupla em uma cidade movimentada. À medida que a mente se enfraquece, o corpo perde sua estabilidade, aumentando o risco de tropeços e quedas. E o trauma dessas quedas, por sua vez, pode acelerar o enfraquecimento da mente, tornando o diagnóstico de demência mais provável. É um ciclo que, uma vez iniciado, se torna difícil de quebrar.

Pesquisas anteriores já mostraram que problemas cognitivos aumentam as chances de quedas. A ciência explica que o controle do equilíbrio depende de várias áreas do cérebro, e quando uma dessas áreas começa a falhar, o risco de cair cresce consideravelmente. Assim, quando um idoso perde o equilíbrio, isso pode ser um reflexo de algo muito mais profundo do que um simples escorregão.

Outras pistas que o corpo oferece

Além das quedas, o corpo dá outros sinais de que algo não vai bem com a mente. Uma visão que perde a nitidez, mudanças no humor e até mesmo sonhos perturbadores podem ser os primeiros indícios de que a demência está se aproximando. Estudos já mostraram que a perda de visão pode estar relacionada a uma diminuição no volume do cérebro, o que aumenta o risco de demência.

Esses sinais, no entanto, são muitas vezes ignorados em meio à correria dos cuidados diários. Um idoso que relata pesadelos frequentes ou mudanças de humor pode ser apenas considerado “teimoso” ou “melancólico”. Mas, para quem entende a linguagem silenciosa do corpo, esses pequenos sinais são como peças de um quebra-cabeça que precisa ser montado antes que falte alguma peça.

Mais do que um tropeço: uma oportunidade de agir

O estudo publicado no JAMA sugere que existe uma janela de oportunidade para agir antes que a demência tome conta. Se pudermos identificar as quedas como um dos sinais de alerta iniciais, seria possível intervir e adotar medidas preventivas que desacelerem a perda das funções mentais.

Imaginemos que, após uma queda, um idoso passe por um exame que avalie sua memória e outras funções cognitivas. Descobrir que algo não vai bem poderia ser o primeiro passo para retardar os efeitos devastadores da demência, um pouco como detectar cedo um vazamento no telhado antes que toda a casa seja inundada. É um lembrete de que, mesmo quando tudo parece normal na superfície, a atenção aos detalhes pode fazer toda a diferença na saúde mental dos idosos.

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