De tempos em tempos, sociedades secretas extintas, que viveram ocultas nas sombras, são trazidas à tona por pesquisadores que encontram artefatos ou localizam documentos. Na última semana, um grupo de pesquisadores finalmente conseguiu decifrar um manuscrito de uma das sociedades secretas mais misteriosas da história: a ordem dos oculistas.
Surgida no que hoje é a Alemanha nos anos 1700, a ordem dos oculistas era uma sociedade cujos membros eram fascinados e trocavam experiências sobre cirurgias oculares. Logo depois da Guerra Fria, quando a Alemanha Oriental e a Ocidental voltaram a ser uma só, cientistas puderam circular pela Berlim Oriental. Em uma visita, encontraram um documento deixado por esse clã.
Trata-se de um manuscrito feito sobre papel de brocado (um tecido ricamente confeccionado e decorado, usado para gravar conteúdos importantes por muitas civilizações), de cor verde e dourada. O documento apresenta, no total, 105 páginas e mais de 75 mil caracteres. São 90 tipos diferentes de símbolos. Além das 26 letras do alfabeto romano, o nosso alfabeto convencional, há caracteres desconhecidos cujo significado ainda não havia sido revelado.
Uma equipe internacional de pesquisadores resolveu decodificar o documento. O modo como eles trabalharam é uma verdadeira aula de criptografia. A primeira tentativa para atingir a meta, como conta um professor da Universidade da Califórnia (EUA), foi a mais óbvia: isolar as letras do alfabeto, uma por uma, do resto do texto com caracteres desconhecidos, e juntá-las para ver se formavam um texto coerente. Mas isso não funcionou.
A primeira certeza que colocou a equipe de pesquisadores perto de um resultado foi a descoberta de que todos os símbolos convergiam para formar palavras em alemão antigo. Depois de nada menos que 80 tentativas, conseguiram decodificar as duas primeiras expressões de todo o documento: “Cerimônias de Iniciação” e “Sociedade Secreta”.
O texto todo fala sobre isso: funcionamento interno da ordem dos oculistas, seus objetivos políticos e sociais. Depois que as primeiras expressões foram decodificadas, apareceram padrões que ajudaram a decifrar o resto. Descobriu-se, com surpresa, que as letras em alfabeto romano não significavam absolutamente nada; eram ardis para enganar quem tentasse decifrar o documento e podiam ser descartadas dele.
Para saber o que cada símbolo desconhecido queria dizer, os pesquisadores mapearam todos os pontos em comum entre os caracteres. Todos os símbolos que levavam um acento circunflexo (^), por exemplo, significam a letra “e”, ou seja, a diferença entre símbolos era só mais um engodo para disfarçar. Um conjunto fixo de caracteres, por sua vez, representa o som “cht”, comum no alemão. A partir de deduções acertadas como essas, o manuscrito foi sendo destrinchado.
No campo histórico, as revelações dessas mensagens têm valor de pesquisa: ajuda a entender como, e até que ponto, sociedades secretas como essa influenciaram em episódios da humanidade. No campo específico da criptografia, como explicam os decifradores da ordem dos oculistas, cada nova descoberta aperfeiçoa as técnicas para descobrir o que há por trás de mensagens em código que ainda são um mistério. [LiveScience]