A Helicobacter pylori é uma espécie de bactéria que infecta a mucosa do estômago humano. Ela é conhecida por causar condições como úlceras, alguns tipos de gastrite e até câncer do estômago.
Sendo assim, temos todas as razões do mundo para ficar bem longe dela, não é mesmo?
Talvez não.
Em 2005, Barry Marshall, um médico gastroenterologista australiano, fez um experimento em si mesmo para provar que a H. pylori provoca úlceras pépticas no estômago, e ganhou um Prêmio Nobel. Agora, ele questiona: mas e se a bactéria tem um lado bom?
H. pylori danifica a camada de muco que protege o estômago de ácidos. Se você está infectado e tem uma forte resposta imunológica, bem como alta secreção de ácido – ambos as quais se tornaram mais comuns, conforme o padrão de vida e nutrição melhorou no mundo -, isso aumenta a probabilidade de uma úlcera.
A epidemia de úlcera do século 20, segundo Marshall, foi um sinal de boa saúde no povo americano – boa dieta, forte acidez e resposta imune saudável podem causar úlceras.
Depois de testar a bactéria em si, no entanto, o médico começou a desconfiar que a bactéria modula o sistema imunológico, impedindo-o de ficar demasiado hiper-reativo.
“Eu acho que [a H. pylori] pode ter ajudado as migrações humanas iniciais. Se os seres humanos evoluíram em uma pequena área da África, eles só conheceram plantas e animais dentro de um raio de 100 quilômetros por um milhão de anos. Quando começaram a migrar, não tinham tido contato com diferentes animais e plantas – e, potencialmente, podem ter tido um monte de problemas de alergia. Talvez, se já tivessem a H. pylori, as alergias não foram tão perigosas para eles por responder a diferentes alérgenos”, explica Marshall.
Apesar disso, a cada 10 a 20 anos, em qualquer país onde o padrão de vida está aumentando, a água é mais limpa e as famílias menores, a incidência da bactéria diminui em 10% ou mais.
Na empresa de biotecnologia do gastroenterologista, Ondek, abrigada na Universidade da Austrália Ocidental em Perth, pesquisadores estão desenvolvendo novas variedades e diferentes formulações da H. pylori, observando como ela muda o sistema imunológico.
“O nosso trabalho é principalmente em camundongos, por isso não é definitivo. Mas vamos avançar para um ensaio clínico utilizando um produto de H. pylori em pessoas com alergias”, conta Marshall.
A ideia dele e de seus colegas é isolar uma estirpe segura da bactéria. Existem tipos realmente ruins, e outros mais fracos que não são tão arriscados. “Ainda não encontrei um que é 100% seguro, mas acho que está por aí”, opina. [NewScientist]