A antecipação da dor é o que podemos chamar de uma fonte inesgotável de sofrimento. É aquele medo de sentir dor, que na grande maioria dos casos pode acabar sendo pior do que a própria dor.
Quem nunca descobriu que ia ter que tomar uma injeção, ou fazer um exame de sangue, e ficou com os olhos cheios de lágrimas só de pensar na agulha, e chegou lá na hora e foi MESMO só uma picadinha?
Quando a dor promete ser maior, o medo da dor, nem preciso dizer, é maior ainda.
Pessoas que sofrem de condições dolorosas que vem de longa data dizem que isso acontece mesmo. O tal medo da dor pode ser mais incapacitante do que a própria dor.
O que os cientistas têm a dizer sobre isso?
Pesquisadores do Instituto de Inovação Global de Saúde no Imperial College de Londres e do Wellcome Trust Center para Neuroimagem na UCL, ambos na Inglaterra, buscaram compreender os processos fundamentais pelos quais as pessoas antecipam a dor, com a esperança de proporcionar uma nova visão sobre estas condições.
Para isso, eles reuniram 35 voluntários e pediram para que eles escolhessem entre tomar choques eléctricos de diferentes intensidades, e que ocorreriam em momentos diferentes (que eles também poderiam escolher – por exemplo entre “o quanto antes” ou “o mais tarde possível”).
Assim, eles descobriram que a maioria das pessoas prefere encarar a dor “o quanto antes” ou aceitar uma dor mais intensa do que adiar esse momento. Uma minoria bem pequena escolheu adiar esse confronto ao máximo.
A partir desse levantamento, eles entenderam que, de uma maneira geral, as pessoas preferem não sofrer com o “medo da dor” – que pode ser pior do que a própria dor.
O tradicional medo de dentista
Eles encontraram resultados semelhantes quando pediram aos voluntários para escolher entre consultas odontológicas imaginárias que envolviam diferentes níveis de dor.
Em 71% dos casos, os participantes escolheram ter a dor mais cedo, mesmo que isso significasse uma dor maior.
De acordo com o Dr. Giles Story, do Instituto de Inovação Global de Saúde, quando as pessoas têm a oferta de uma recompensa, eles preferem tê-la o mais rapidamente possível. Isso poderia significar que experiências futuras são entendidas por nós como menos significativas quando estamos em um momento de tomada de decisões.
Este raciocínio também por sugerir que nós teríamos a tendência de adiar as coisas desagradáveis. Mas não é sempre assim que funciona.
“Nós descobrimos que este não é o caso para a maioria das pessoas. Se a dor não pode ser evitada, a maioria das pessoas escolhe tirá-la do caminho o mais cedo possível, mesmo que isso signifique uma dor pior”, explica o Dr. Giles Story. [sciencedaily]