O projeto de uma garota de 12 anos, Lauren Arrington, para uma feira de ciências acabou contribuindo para uma pesquisa maior sobre o peixe-leão, conduzida por ecologistas. As descobertas de Lauren foram citadas mais tarde em um artigo publicado na revista científica Environmental Biology of Fishes.
Lauren cresceu em Jupiter, cidade da Flórida (EUA), mergulhando e pescando no oceano com seu pai, Albrey Arrington, diretor executivo do Loxahatchee River District (LRD).
Por causa desse contato com o mar, a garota teve interesse em realizar seu projeto para a feira de ciências de sua escola sobre o peixe-leão.
O peixe-leão, endêmico do Pacífico, tem se tornado um problema em várias partes do globo, como na Flórida. Ele é considerado uma espécie invasora que vem se alastrando como uma praga pelo Caribe, alterando drasticamente os ecossistemas marinhos por onde passa. Uma vez que se instala num recife, o peixe-leão toma conta do ecossistema e se torna quase que uma espécie única, comendo todas as outras que cabem em sua boca. Tem-se mostrado praticamente impossível erradicá-lo.
[box] Nos últimos anos, o peixe-leão alcançou regiões mais ao sul do Caribe, e muitos temem que seja apenas uma questão de tempo até que ele invada o litoral brasileiro. Um indivíduo da espécie já foi encontrado em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. Salve-se quem puder! [/box]
Zachary Jud, que teve sua pesquisa fundada pela LDR, e Craig Layman, professor de ecologia da Universidade Estadual da Carolina do Norte, antes professor da Universidade Internacional da Flórida, estudam a questão da invasão do peixe-leão na ilha de Abaco, nas Bahamas, desde 2006.
Em 2010, eles descobriram que era muito provável que esses peixes invadissem rios e estuários. Em agosto do mesmo ano, ao analisar o rio Loxahatchee, os pesquisadores encontraram pela primeira vez um peixe-leão em um estuário da região. Isso levou os ecologistas a crerem que o animal podia sobreviver em água quase doce.
Onde entra Lauren
Lauren queria testar se peixes-leão poderiam sobreviver em água doce. No início, pensou em realizar seu teste colocando o peixe-leão em gaiolas em diferentes pontos do rio, mas teve que simplificar o projeto.
“Era apenas um projeto pequeno, da sexta série, e eu realmente não tinha todas as ferramentas necessárias”, conta a garota.
Assim, seu pai, que tem doutorado em ecologia de peixes, sugeriu que ela colocasse a espécie em tanques em vez disso.
Lauren teve ajuda de adultos para capturar seis peixe-leões e colocá-los em seis tanques diferentes. Obedecendo a um rigoroso conjunto de regras oferecidas pelos organizadores da feira de ciências, ela observou todos os seus objetos de pesquisa atentamente.
Ela já sabia que o peixe-leão podia viver em água com níveis de salinidade de 20 partes por mil. Um dos seis peixe-leão serviu como controle, e o resto foi experimental. Todas as noites, durante oito dias, ela diminuiu a salinidade nos tanques destes peixes experimentais em 5 partes por mil.
No oitavo dia de sua experiência, com surpresa, Lauren descobriu que seus peixes estavam vivendo em salinidade de apenas 6 partes por mil.
O artigo
Craig Layman, que tinha contato com o pai de Lauren e havia ajudado a garota com seu projeto, mais tarde realizou um verdadeiro estudo científico controlado que confirmou os resultados que ela viu em seu projeto. “Ele creditou uma aluna da sexta série com a sua ideia”, afirmou Lauren em êxtase.
As descobertas de Craig foram publicadas em um artigo no qual Lauren é citada duas vezes e mencionada nos agradecimentos.
De acordo com Craig, o projeto de Lauren foi uma manipulação que explorou mais a fundo uma observação de campo em um ensaio de laboratório. “Até este momento, que eu saiba, não havia relatos publicados sobre a [exata] tolerância à salinidade do peixe-leão. Então, Lauren fez uma contribuição para a ciência”, explica.
Após a feira de ciências, Albrey e Craig discutiram com Lauren se ela gostaria de desenvolver este projeto em um estudo publicável em uma revista científica, explicando à garota o esforço que seria necessário para transformar suas observações em um artigo. Lauren decidiu não se comprometer com esse esforço, o que é normal para sua idade. Por isso, a pesquisa seguiu sem ela.
Ainda assim, essa é uma história inspiradora para a comunidade científica. Esperamos que cada vez mais jovens se interessem por assuntos como esse, e se tornem um dia as novas mentes que vão nos ajudar a desvendar mistérios do universo e salvar nosso meio-ambiente. [NPR, AbacoScientist, Estadao]