Ícone do site HypeScience

Nem mortas, nem vivas: estas criaturas estão em um terceiro estado

No futuro, biobots poderão ser projetados para administrar medicamentos e remover placas arteriais. (Kriegman et al. 2020/PNAS, CC BY-SA)

Imagine um limbo entre a vida e a morte, mas sem fantasmas. Cientistas estão explorando o conceito de um “terceiro estado”, em que células de organismos que já bateram as botas continuam a trabalhar – ou até mesmo a formar novas criaturas multicelulares. Sim, estamos falando de algo além dos limites usuais entre o viver e o morrer.

Normalmente, quando pensamos em morte, é algo definitivo: tudo desliga e “fim de jogo”. Porém, como visto em práticas como a doação de órgãos, partes do corpo ainda conseguem continuar ativas por um tempo, levantando a intrigante pergunta: o que faz com que algumas células simplesmente se recusem a desistir?

Nós, pesquisadores, estamos estudando esse mistério. Em nosso mais recente trabalho, mostramos que algumas células, quando recebem um bom combustível (oxigênio, nutrientes e alguns sinais químicos), podem se reorganizar em novas formas de vida multicelulares – como se estivessem apenas começando uma segunda carreira.

Vida e Morte? Que Tal Algo Novo?

Esse “terceiro estado” está desafiando nossa compreensão básica sobre como células se comportam. Se você pensou que as transformações de lagartas em borboletas ou de girinos em sapos eram estranhas, espere até ver células mortas organizando-se em novos seres vivos. Exemplo disso são os xenobots, organismos formados por células de embriões de rãs que, após morrerem, voltaram à vida de uma forma… completamente nova.

Esses xenobots, por exemplo, podem se mover e navegar usando pequenos cílios, que em embriões vivos de rãs servem apenas para mover muco. Então, enquanto essas pobres células pensavam que sua vida seria limitada a empurrar lodo por aí, depois de mortas elas se transformam em robôs biológicos capazes de navegar em novos terrenos.

Os xenobots podem se mover, se regenerar e interagir com o ambiente de forma autônoma

Xenobots: Os Robóticos Ressuscitados

O que é mais interessante (ou assustador, dependendo do seu ponto de vista) é que esses xenobots não apenas se movem, mas também podem se autorreplicar, sem sequer crescer. Eles fazem cópias de si mesmos como se estivessem jogando Tetris biológico. Esse tipo de replicação, diferente do crescimento tradicional, é algo raro e espetacular.

E não são só as rãs que têm esse talento pós-morte. Pesquisas mostraram que células pulmonares humanas podem se organizar espontaneamente e formar minúsculos organismos multicelulares, apelidados de “antrobôs”. Essas pequenas maravilhas não apenas se movimentam, mas também reparam outras células danificadas, como se fossem pequenos mecânicos celulares.

Sobrevivência Após o ‘Apito Final’

Nem todas as células são tão resilientes, mas algumas se destacam por conseguir viver dias – até semanas – após a morte do organismo original. Por exemplo, em humanos, glóbulos brancos conseguem segurar as pontas por cerca de três dias, enquanto células musculares esqueléticas de camundongos podem ser regeneradas após duas semanas.

A capacidade de sobrevivência das células depende de muitos fatores, como o ambiente em que estão, quanto de energia ainda precisam para funcionar, e se tiveram a sorte de ser preservadas adequadamente. O congelamento, por exemplo, ajuda a manter amostras de medula óssea em funcionamento.

O Diagrama A mostra um antrobô construindo uma ponte sobre um neurônio danificado ao longo de três dias. O Diagrama B destaca a “costura” em verde ao final do terceiro dia. (Gumuskaya et al. 2023/Advanced Science, CC BY-SA)

Além disso, algumas células ativam genes de emergência logo após a morte, como se gritassem “Socorro!” dentro de si mesmas para manter funções básicas. Isso inclui genes relacionados ao estresse e ao sistema imunológico, que são acionados para tentar manter o equilíbrio por um pouco mais de tempo.

Aplicações Médicas e Surpreendentes

Essa capacidade de sobrevivência pode abrir portas para novas terapias médicas. Os “antrobôs”, por exemplo, poderiam ser usados para entregar medicamentos sem causar reações indesejadas, navegando dentro do corpo como pequenos médicos robóticos. Quem sabe, no futuro, essas pequenas criaturas possam dissolver placas nas artérias de pacientes com aterosclerose ou limpar o excesso de muco de quem sofre com fibrose cística. O melhor de tudo? Eles vêm com um “botão de desativação”. Após cerca de quatro a seis semanas, eles naturalmente se degradam e desaparecem – nada de invasores celulares descontrolados.

Em suma, essas descobertas estão desafiando tudo o que sabemos sobre o que significa morrer. Quem diria que, depois de nos despedirmos de um organismo, algumas de suas células poderiam estar só começando a explorar novos caminhos? Se isso não é uma segunda chance de vida, não sabemos o que é!

Sair da versão mobile