Adesivos e chicletes de nicotina são usados por milhões de fumantes, mas eles podem não trazer nenhum benefício duradouro, de acordo com o mais rigoroso estudo de longo prazo já realizado.
O estudo incluiu cerca de 800 pessoas tentando parar de fumar durante um período de vários anos e levantou o debate sobre a validade de alternativas para a nicotina e sua reposição a partir de produtos como os adesivos e chicletes.
Em estudos médicos, os produtos tem se revelado eficazes, fazendo com que as pessoas larguem o cigarro mais facilmente, pelo menos a curto prazo. Esses resultados animadores foram a base para diretrizes federais que recomendam os produtos para o fim do tabagismo.
Mas na nova pesquisa, fumantes que usaram os produtos de reposição de nicotina mais do que o recomendado, como parte de um programa ou por conta própria, relataram pouco benefício. O novo estudo analisou um grupo de fumantes para ver se a reposição de nicotina afetaria suas chances de largar o hábito ao longo do tempo – mas isso não aconteceu.
O mercado para produtos de reposição de nicotina decolou nos últimos anos, subindo para mais de R$1,4 bilhões anuais em 2007, de R$232 milhões em 1991.
Médicos que tratam fumantes disseram que as conclusões do estudo não foram inesperados, dada a forma casual como muitos fumantes usam os produtos. “A adesão dos pacientes é uma questão muito importante”, disse Dr. Richard Hurt, diretor do Centro de Dependência de Nicotina da Clínica Mayo, que não esteve envolvido no estudo.
Hurt disse que esses produtos são necessários, mas devem ser usados em combinações e doses de tratamento que correspondam às necessidades individuais de cada paciente, ao contrário dos fumantes que tentam se tratar sozinhos.
Os produtos têm provocado opiniões controversas desde 2002, quando pesquisadores da Universidade da Califórnia informaram a partir de uma ampla pesquisa que eles pareciam não oferecer nenhum benefício. Entretanto, o estudo não acompanhou fumantes por muito tempo.
Um painel do governo dos EUA que incluiu reposição de nicotina como parte das diretrizes federais para o tratamento do tabaco também veio sob o fogo, até porque os membros do painel tinham recebido pagamentos dos fabricantes dos produtos.
No novo estudo, realizado em Massachusetts, nos EUA, os pesquisadores acompanharam uma amostra representativa de 1.916 adultos, incluindo 787 pessoas que disseram no início do estudo que tinham recentemente parado de fumar.
Eles entrevistaram os participantes três vezes, uma vez a cada dois anos durante a década de 2000, questionando fumantes e ex-fumantes sobre o uso de chicletes, adesivos e outros produtos, os seus períodos sem não fumar e suas recaídas.
Em cada fase, cerca de um terço das pessoas tentando parar de fumar tiveram uma recaída. O uso de produtos de substituição de nicotina não fez diferença.
Um subgrupo, os que mais fumavam (definidos como aqueles que fumaram seu primeiro cigarro dentro de meia hora depois de acordar), que usaram produtos de substituição sem orientação foram duas vezes mais propensos a terem recaídas, comparados com os fumantes que não usavam.
Os pesquisadores afirmam que, embora a reposição de nicotina pareça ajudar as pessoas a parar de fumar, isso não é o suficiente para prevenir recaídas ao longo do tempo. A motivação importa muito, assim como o apoio de amigos, familiares, e as regras impostas no local de trabalho. Campanhas na mídia, impostos sobre o tabaco e o endurecimento de leis anti-fumo também tem mostrado efeitos positivos. [The New York Times]