Você se lembra do último truque de mágica realizado pela Terra, na semana passada, fazendo uma ilha aparecer do nada, certo? A nova porção de terra no meio do mar foi consequência de um grande abalo sísmico registrado no Paquistão (de magnitude 7,7), no dia 24 de setembro, cujo saldo de mortos já saltou para 515 pessoas até o momento.
Agora, foi liberada uma série de imagens de satélite, feitas pouco dias depois do terremoto, que revelam mais detalhes sobre a ilha, que apareceu próxima à costa da cidade de Gwadar. O local possui formato arredondado e o relevo é predominantemente plano, embora existam rachaduras e fissuras nas rochas, como uma espécie de torta feita de lama por uma criança – além de ser muito maior do que se imaginava anteriormente.
O satélite francês Pleiades foi o responsável por mapear as dimensões do morro lamacento no meio do mar. Descobriu-se que a ilha possui 175,70 metros de comprimento em sua extensão máxima, por 160 metros no seu lugar mais largo. As estimativas anteriores, baseadas em fotografias aéreas registradas pelo Instituto Nacional de Oceanografia do Paquistão, indicavam que a nova ilha era muito menor do que os dados liberados pelo satélite Pleiades.
Segundo a autoridade paquistanesa, o monte que emerge da água teria apenas 60 metros de comprimento. Em relação à altura da ilha, porém, a estimativa do Instituto Nacional de Oceanografia local continua sendo a mais aceita: cerca de 15 a 20 metros.
A cidade de Gwadar está localizada aproximadamente a 380 quilômetros do epicentro do terremoto. De acordo com Shuhab Khan, geocientista da Universidade de Houston, Estados Unidos, a mais provável origem do tremor de magnitude 7,7 foi a Falha de Chaman, que possui 850 quilômetros de extensão, o que faz dela a maior falha geológica ativa localizada no Paquistão e no vizinho Afeganistão.
Segundo os geólogos envolvidos no caso, a nova ilha, batizada de Zalzala Koh, foi criada a partir da lama expelida por um vulcão do fundo do mar quando alguns gases que estavam presos conseguiram escapar devido ao abalo ou por causa da água subterrânea, que foi violentamente expulsa durante o terremoto.
A nova ilha em si pode ser um vulcão de lama, que se forma quando a água quente subterrânea se mistura com sedimentos e gases como o metano e o dióxido de carbono. “Se essa pasta fluida e nociva encontra uma válvula de escape, como uma rachadura aberta por um terremoto, o vulcão de lama entra em erupção”, conta James Hein, cientista do Serviço Geológico dos Estados Unidos. Geólogos da Marinha do Paquistão Zalzala Koh relataram que a ilha está lançando gás inflamável. Entretanto, os sedimentos no fundo do mar frequentemente retêm bactérias produtoras de metano, de modo que o gás pode vir de lá.
O poderoso terremoto do mês passado pode ter afrouxado os sedimentos do fundo do mar no litoral do Paquistão, sacudindo-os como geleia. Os grandes rios que descem do Himalaia despejam toneladas de sedimentos nas águas do Mar Arábico a cada ano. “A nova ilha poderia ser um exemplo gigantesco de liquefação, quando um abalo sísmico faz com que sedimentos saturados ajam como se fossem líquidos e a água presa escapa de repente”, diz Michael Manga, geofísico da Universidade da Califórnia, Estados Unidos.
Ilhas semelhantes já apareceram na costa do Paquistão após fortes terremotos na área nos anos 1945 e 2001. Se a atual seguir o exemplo das anteriores, a ilha não vai durar nem um ano, devido ao poder erosivo do bater das ondas e das tempestades de monção. É esperar para ver. [Live Science]