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Novo detector de neutrinos que pode “quebrar a física” é ativado

O sistema SBND de detecção de partículas (Fermilab)

O mais recente avanço científico nos aproximou da descoberta de partículas subatômicas misteriosas e intangíveis, possivelmente revolucionando as leis fundamentais da física.

Pela primeira vez, o Short-Baseline Near Detector (SBND), do Laboratório Nacional de Aceleradores Fermi (Fermilab), conseguiu capturar interações de neutrinos — um passo monumental em um esforço de décadas para decifrar alguns dos segredos mais bem guardados do Universo.

Neutrinos são tão minúsculos e difíceis de detectar que, apesar de 100 trilhões deles passarem pelo seu corpo a cada segundo, você não sente nada. Ainda assim, são partículas tão estranhas que entender suas propriedades pode lançar luz sobre mistérios profundos, como por que o Universo é formado por matéria e não por outra coisa qualquer, como… nada, talvez.

Até agora, conhecemos três tipos principais de neutrinos: o muônico, o eletrônico e o tau. Mas há indícios de que um quarto tipo, ainda mais escorregadio, possa estar esperando nas sombras — o chamado neutrino “estéril”. O SBND tem como missão ajudar a comprovar sua existência.

Andrew Mastbaum, físico da Rutgers School of Arts and Sciences, afirma que os neutrinos podem ser fundamentais para responder questões gigantescas, como a busca por uma teoria que explique as menores escalas da natureza, ou até mesmo a origem do próprio Universo.

O SBND, recheado com 112 toneladas de argônio líquido ultracongelado, foi projetado para capturar interações minúsculas e efêmeras de neutrinos por meio da força nuclear fraca. A construção levou quase uma década, mas agora o detector finalmente está pronto para caçar essas partículas esquivas.

Os detectores estão em busca de padrões fora do comum. (Samantha Koch, Fermilab)

Ao redor do mundo, existem outros detectores de neutrinos, como o IceCube, na Antártida, que tenta capturar os neutrinos que vêm de reações cósmicas. No entanto, o SBND tem uma vantagem: ele pode detectar neutrinos gerados artificialmente aqui na Terra, onde temos mais controle sobre o ambiente.

O SBND trabalha em parceria com o ICARUS (Imaging Cosmic And Rare Underground Signals), um detector instalado em 2017 a 500 metros de distância. Juntos, os dois dispositivos analisam os feixes de partículas disparados pelo acelerador de partículas do Fermilab, à espera de interações raras, mas reveladoras.

A previsão é que cerca de 7.000 interações de neutrinos sejam registradas diariamente — um número expressivo, considerando o quão evasivos são esses eventos. As equipes de pesquisadores esperam que o monitoramento dessas colisões possa revelar indícios de novos tipos de neutrinos, ou até algo totalmente inesperado.

Richard Van de Water, do Laboratório Nacional de Los Alamos, explica que a detecção dos fótons produzidos durante as interações ajuda a definir o tempo exato dos eventos, oferecendo uma visão mais completa da física em ação. Com esses dados, é possível rastrear com precisão os padrões gerados pelas partículas.

O SBND tem o potencial de fornecer observações com precisão inédita, o que poderia até mesmo expor anomalias que vão além do Modelo Padrão da física, incluindo possíveis pistas sobre a misteriosa matéria escura. Não seria surpresa se, nos próximos anos, ouvíssemos muito mais sobre os achados do Fermilab, SBND e ICARUS.

De acordo com David Schmitz, da Universidade de Chicago, entender as estranhezas observadas em experimentos anteriores tem sido uma prioridade para a física de partículas nos últimos 25 anos. O SBND e o ICARUS estão agora posicionados para testar essas anomalias de forma incomparável.

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