A curiosa evolução do beijo

Por , em 13.10.2013

O ditado diz que você tem que beijar muitos sapos para encontrar o seu príncipe. Uma nova pesquisa sugere que o clichê é verdadeiro, sim – pelo menos quando o analisamos no nível evolutivo.

De acordo com dois novos estudos, o ato de beijar pode ter sido mantido pela evolução como uma forma de avaliar a qualidade dos potenciais parceiros. As mulheres, que tendem a ser mais exigentes sobre envolvimentos românticos do que os homens, também se preocupam mais com beijos nas primeiras fases de um relacionamento, o que indica que, se o cara não tiver a famosa “pegada”, são grandes as chances de ele ser dispensado. Além disso, as mulheres dão atenção especial à importância de um bom beijo durante as fases férteis do ciclo menstrual.

O pesquisador Rafael Wlodarski, doutorando na Universidade de Oxford, Reino Unido, lembra que o beijo existe em praticamente todas as culturas da Terra: alguns dos registros mais antigos deixados pela humanidade, incluindo os vedas hindus (os textos escritos por volta de 1.500 aC que formam a base das escrituras sagradas do hinduísmo) e antigos murais egípcios, representavam pessoas se beijando. “Isso deve servir para algum propósito, uma vez que é algo tão comum”, resume Wlodarski.

As teorias sobre por que nós nos beijamos se encaixam em três categorias. Alguns acreditam que nossos ancestrais continuaram a se beijar até que o costume chegou a nós para ajudar as pessoas a avaliarem potenciais companheiros, talvez transmitindo feromônios, ou sinais químicos que poderiam transportar informações sobre a saúde ou a compatibilidade imunológica. “É apenas uma desculpa para que duas pessoas que estão interessadas uma na outra fiquem próximas o suficiente para se darem uma fungada”, diz Wlodarski.

Nenhum composto em particular provou ser uma espécie de feromônio humano, mas existem evidências de que o odor transporta informações. Um estudo publicado em abril de 2013 descobriu que as mulheres preferem o cheiro de homens que têm altos níveis do hormônio masculino testosterona.

Outra linha de raciocínio afirma que o beijo permanece em nossas vidas até os dias de hoje para manter uma conexão física e emocional entre os casais ou para aumentar a excitação antes do sexo. Para testar essas teorias, Wlodarski e seus colegas recrutaram 902 adultos, estadunidenses e britânicos, para responderem a algumas perguntas sobre suas atitudes em relação ao beijo.

Os participantes classificaram quão importante eles consideravam o beijo em vários estágios nos relacionamentos. Cerca de metade dos participantes que estavam em relacionamentos também relataram o quanto eles e seus parceiros se beijavam e quão satisfeitos estavam no relacionamento.

Os resultados deram pouco suporte à ideia de que o beijo evoluiu para facilitar o caminho até o sexo (mesmo que muitas vezes ele seja usado dessa forma). As pessoas em relacionamentos de curta duração viam no beijo uma importante prévia do sexo, mas não houve outra indicação de que as pessoas se beijam, principalmente, como um aquecimento para a atividade sexual.

Na realidade, as pessoas em relacionamentos associavam intimamente a quantidade e a qualidade dos beijos do casal com a satisfação quanto ao relacionamento. Ou seja, quanto mais os pares se beijavam, mais felizes eles eram. A quantidade de sexo, por outro lado, mostrou não ter ligação alguma com a satisfação com o relacionamento.

Estas últimas descobertas revelam que o beijo serve a um propósito de conexão entre os membros dos casais, ajudando-os a demonstrarem afeto e compromisso. No entanto, o beijo também parece ajudar as pessoas a avaliar o potencial de relacionamento da pessoa.

Se o beijo é uma forma de avaliar os companheiros, aqueles que impõem mais dificuldades para o início de uma relação devem ser os que mais dão importância à qualidade do beijo. De fato, este parece ser o caso: as mulheres – que assumem o risco da gestação, do parto e do cuidado posterior dos filhos quando têm relações sexuais – geralmente são mais exigentes em relação aos companheiros do que os homens. Wlodarski e seus colegas também descobriram que as moças são mais propensas do que os rapazes a considerar o beijar um fator importante na relação – além de terem maior probabilidade de afirmar que o primeiro beijo mudou a atração por outra pessoa.

As pessoas que se autoclassificaram como atraentes – e, portanto, provavelmente podem se dar ao luxo de serem exigentes – também acabaram sendo as mais interessadas no beijo e as mais propensas a afirmar que o beijo poderia influenciar suas percepções de atração em relação ao seu par romântico. Wdolarski e seus colegas relatam estes resultados na próxima edição da revista científica Archives of Sexual Behavior.

Um segundo estudo realizado pelos mesmos pesquisadores, publicado na edição de setembro da revista especializada Human Nature, examinou apenas as atitudes femininas sobre o ato de beijar. De acordo com a pesquisa, se o beijo comunica algumas informações sobre a saúde, a fertilidade ou a compatibilidade genética do casal, então as mulheres que possuem mais chances de engravidar são mais propensas a pensar que o beijo é importante – afinal, se tudo ocorrer bem, elas podem acabar com um bebê.

Os pesquisadores entrevistaram 84 mulheres dos Estados Unidos e do Reino Unido e lhes pediram para informar as datas de seu ciclo menstrual e para responder a perguntas sobre quão importante é, para elas, o beijo em vários estágios de um relacionamento. Dentre as moças consultadas, 50 estavam em sua fase menos fértil do ciclo, enquanto 34 estavam justamente em um dos picos de fertilidade.

As mulheres mais férteis foram mais propensas do que as moças menos férteis a avaliar o beijo nos estágios iniciais da relação como sendo muito importante, dando credibilidade à ideia de que elas poderiam estar, mesmo que inconscientemente, farejando os melhores genes para sua prole em potencial. Por outro lado, ambos os grupos se mostraram igualmente inclinados a considerar a importância do beijo mais tarde em um relacionamento – o que deixa claro o papel do vínculo afetivo que o costume de se beijar possui para os casais.

“Em momentos diferentes na relação, o beijo é usado para funções diferentes”, explica Wlodarski. O pesquisador planeja, na sequência, ir além dos beijos e se aventurar em profundidades ainda mais escuras. “Estou interessado em realizar mais estudos sobre o que é o amor para os seres humanos”, conta. “O que é que nos faz tão intimamente atraídos por uma pessoa específica?”. É esperar para ver. [Life Science]

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