Pesquisas recentes apontam que a eficácia do exame de toque retal (ETR) na detecção do câncer de próstata, seja isoladamente ou em conjunto com um exame de sangue, não é superior à utilização exclusiva do exame de sangue. Essa descoberta desafia a crença anterior na eficiência do exame de toque e sugere a possibilidade de sua exclusão em exames de rotina para o câncer de próstata em homens sem sintomas.
Tradicionalmente, a detecção do câncer de próstata envolve o ETR e o teste de sangue para medir os níveis de antígeno prostático específico (PSA). O PSA, uma proteína produzida tanto por células prostáticas normais quanto cancerígenas, pode indicar câncer ou aumento benigno da próstata quando encontrado em níveis elevados. O ETR, procedimento diagnóstico bem conhecido, é frequentemente utilizado em conjunto com o teste de PSA.
A questão de saber se um método é mais eficaz que o outro no diagnóstico do câncer de próstata, ou se ambos são necessários, tem sido um tópico de discussão. Esta questão pode ter sido respondida por um estudo realizado pelo Comprehensive Cancer Center da Universidade Médica de Viena e pelo Hospital Geral de Viena.
O estudo analisou dados de oito estudos diferentes, abrangendo 85.738 participantes com idades entre 45 e 98 anos. Dentre esses estudos, três eram ensaios controlados randomizados e cinco eram estudos diagnósticos prospectivos. Os critérios de inclusão focaram em homens submetidos a rastreamento para câncer de próstata usando ETR em comparação com aqueles que realizaram o teste de PSA, avaliando a precisão diagnóstica desses métodos com base em sua capacidade de prever e detectar o câncer.
Os resultados mostraram que o uso combinado de ETR e PSA para rastreamento não aumentou significativamente a previsão ou detecção de câncer em comparação com o uso apenas do PSA. Embora não houvesse diferença notável na precisão preditiva de ETR e PSA, o PSA sozinho demonstrou uma taxa de detecção de câncer substancialmente maior.
Shahrokh Shariat, autor principal do estudo, comentou sobre as descobertas: “A eficácia do exame de toque retal na identificação do câncer de próstata não é particularmente notável, sugerindo que a realização rotineira deste exame durante a triagem pode ser desnecessária se não houver indicações clínicas.”
A subjetividade do ETR mina sua confiabilidade como ferramenta de triagem. Um estudo de 2008 destacou a variabilidade nas taxas de detecção entre examinadores, com achados suspeitos variando de 4% a 28%. Dadas essas descobertas, e considerando outros métodos de triagem, como a ressonância magnética (RM) – que mostrou uma taxa de detecção de câncer significativamente mais alta (63%) em comparação com o PSA (29%) – os pesquisadores defendem o uso de RM e PSA em vez da combinação de ETR e PSA.
Este estudo inicia uma discussão sobre a utilidade e vantagens do ETR na detecção precoce do câncer de próstata. Dado o menor custo e o menor desconforto e ansiedade associados aos testes de PSA, as evidências sugerem que o teste de PSA pode ser um método mais eficaz e menos angustiante do que o ETR. Os pesquisadores também observam que a aversão ao ETR frequentemente impede os homens de realizar exames de rastreamento do câncer de próstata, aumentando potencialmente seus riscos à saúde.
Shariat enfatiza a necessidade contínua de aprimorar as técnicas de rastreamento do câncer de próstata: “O aprimoramento contínuo dos métodos de rastreamento é crucial para a proteção da saúde dos homens em todo o mundo. Esperamos que, ao eliminar esse obstáculo, mais homens participem do rastreamento do câncer de próstata.”
Além disso, é importante ressaltar que a detecção precoce do câncer de próstata é fundamental para um tratamento eficaz. A pesquisa sugere que métodos menos invasivos e mais confortáveis para os pacientes podem incentivar uma maior adesão aos programas de rastreamento. Isso é especialmente relevante em contextos culturais onde exames como o ETR podem ser vistos com relutância ou mesmo estigma.
Os resultados desse estudo têm implicações significativas para as políticas de saúde pública e as práticas médicas em relação ao rastreamento do câncer de próstata. Eles indicam uma mudança em direção a métodos mais baseados em evidências e centrados no paciente, refletindo uma evolução na abordagem do diagnóstico e tratamento do câncer de próstata.
A consideração cuidadosa das preferências dos pacientes, juntamente com a análise crítica das evidências disponíveis, é essencial para garantir que as estratégias de rastreamento do câncer de próstata sejam tanto eficazes quanto aceitáveis para aqueles que são mais afetados por elas. A pesquisa contínua e a avaliação de novas tecnologias e métodos diagnósticos permanecerão fundamentais para otimizar a detecção e o tratamento do câncer de próstata. [New Atlas]