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O Grande Colisor de Hádrons está interessado apenas no bóson?

Físicos do Grande Colisor de Hádrons (GCH) estão preparando o equipamento de novo, prontos para uma última tentativa de confirmar a descoberta do bóson de Higgs, a última peça do quebra cabeça para o Modelo Padrão de física das partículas.

E depois o quê? Tanto alarde foi feito pela busca ao bóson que você poderia imaginar que o GCH só serve para isso.

Mas não é bem assim. Apenas dois dos detectores experimentais, no círculo de 27 quilômetros do GCH, estão procurando pelo Higgs, e ambos estão interessados em muito, muito mais.

A declaração de missão do experimento Atlas – chamada de Mapeando os Segredos do Universo – não faz menção ao bóson, preferindo focar nas forças que moldaram nosso universo, dimensões extras de espaço, a unificação de forças fundamentais e evidências da matéria escura.

“Nós estamos todos felizes de finalmente resolver a hipótese do Higgs, de um jeito ou de outro”, comenta Andy Parker, membro da equipe Atlas. “Mas isso é apenas uma parte de um processo muito maior, e nós temos um grande número de outras coisas que também estamos procurando. Não há pausa na marcha da ciência, nesse caso”.

“Sopa primordial”

Enquanto isso, no experimento Alice, eles estão colidindo pesados íons de chumbo para explorar a criação da matéria e a natureza da força nuclear gerada logo após o Big Bang.

“Nós estamos recriando, em uma bola de fogo sub-atômica, as condições que existiram em um milionésimo de segundo após o Big Bang”, explica David Evans, que trabalha na equipe do Alice. “É tão quente e tão denso que até os prótons e os nêutrons derretem, e nós terminamos com uma espécie de sopa primordial conhecida como ‘plasma quarks-glúons’”.

Evans fica particularmente frustrado com a ênfase no Higgs. O bóson é importante, ele acredita, mas existem muito mais coisas acontecendo no GCH.

“O que é ainda mais amedrontador é que, se o Higgs não for comprovado, as pessoas vão dizer que o GCH é uma falha”, adiciona.

Até mesmo o homem, Peter Higgs, que fez a bola rolar nos anos 60, afirmou que as autoridades do Colisor fizeram um grande erro ao dar tanta ênfase na partícula que carrega seu nome.

“Eles falaram muito sobre a pesquisa pelo bóson de Higgs”, comenta. “Tanto que agora existe o perigo dos patrocinadores chegarem e ‘Oh, bem, vocês acharam isso, não precisamos mais dessa máquina tão cara’”.

O professor Jon Butterworth compreende que existe um foco muito grande no bóson, mas diz que você não pode culpar os cientistas por tirar vantagem da publicidade gratuita que a mídia gerou, esperando um momento “eureka”.

“Mesmo para pessoas como eu, o Higgs é apenas o número um de uma lista”, afirma. “Essa máquina abre as portas para um novo cômodo, mas nós precisamos vasculhar nele. É uma grande questão, mas está longe de ser a única”. [BBC]

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