Apesar de muitos desconfiarem que os aceleradores de partículas, por serem capazes de criar muita energia em colisões de partículas poderosas, têm a capacidade de destruir o planeta, os cientistas garantem que eles são bastante inofensivos para nós.
Isso é, caso fiquemos do lado de fora deles. A radiação dentro de um acelerador é muito grande, e já faz algum tempo que nós sabemos os males que tal exposição podem causar a nossa saúde.
No entanto, o único caso conhecido de pessoa “atingida” por um raio de um acelerador não teve – felizmente – o resultado que os pesquisadores esperavam. Ao invés de uma morte certa, Anatoli Petrovich Bugorski saiu relativamente ileso, com apenas algumas condições médicas que não ameaçam sua vida.
O acidente
O cientista russo é o único a ter enfiado a cabeça em um acelerador de partículas em execução. Bugorski era pesquisador do Instituto de Física de Alta Energia em Protvino (na antiga União Soviética, hoje Rússia), e trabalhava com o acelerador de partículas Síncrotron U-70, que tinha 1% do poder que o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) tem.
Um síncrotron é um acelerador de partículas cíclico, no qual um campo magnético e um campo elétrico são cuidadosamente sincronizados com um feixe de partículas viajando. O campo magnético faz as partículas circularem e o campo elétrico as acelera.
Em 13 de julho de 1978, Bugorski estava verificando uma peça do equipamento que estava com defeito. Conforme se inclinou para analisá-la, ficou com a cabeça presa através da parte do acelerador na qual o feixe de prótons é acionado.
Ele relatou ter visto um flash que era “mais brilhante do que mil sóis”, mas não sentiu qualquer dor quando isso aconteceu.
O feixe media 2.000 grays (unidade de radiação absorvida; 1 gray = 1 joule/kg) ao entrar no crânio de Bugorski, e cerca de 3.000 grays quando saiu do outro lado.
Um exemplo de onde esta medida é comumente usada é em raios-X. Para referência, a absorção de 5 grays a qualquer momento normalmente leva à morte num prazo de 14 dias.
No entanto, ninguém antes tinha experimentado tamanha radiação sob a forma de um feixe de prótons em movimento próximo à velocidade da luz. Pensava-se que, com 3.000 grays absorvidos, Bugorski fosse certamente morrer – mas isso não aconteceu.
Efeitos
Como é possível ver na foto acima, o raio entrou na parte de trás da cabeça de Bugorski e saiu próximo a seu nariz.
Logo depois que isso aconteceu, o lado esquerdo de seu rosto inchou. Ele foi levado para o hospital e acompanhado de perto, principalmente porque os médicos esperavam que morresse dentro de poucos dias, no máximo.
O que aconteceu, no entanto, foi que a pele da parte de seu rosto e de trás de sua cabeça onde o feixe o atingiu descascou ao longo dos próximos dias. Apesar do feixe ter queimado através de seu crânio e tecido cerebral, Bugorski viveu com apenas algumas condições (e esquisitices) médicas:
- Sua capacidade intelectual permaneceu a mesma de antes. Ele passou a ficar muito mais cansado com trabalho mental, mas chegou até a obter seu doutorado após este incidente;
- Bugorski perdeu a audição no ouvido esquerdo e experimenta um constante ruído desagradável na orelha esquerda a partir de então;
- A metade esquerda de seu rosto ficou lentamente paralisada ao longo dos próximos dois anos;
- Bugorski passou a ter ocasionais crises de ausência e, mais tarde, convulsões tônico-clônicas. Durante crises de ausência, a pessoa parece estar apenas olhando para o nada. Não há espasmos ou contrações típicas. Vítimas crise de ausência muitas vezes se deslocam de um local para outro sem propósito ou pensamento por trás desta ação – a parte do cérebro que mantém a consciência normal de um indivíduo é interrompida durante a crise. Já convulsões tônico-clônicas possuem duas fases. Na fase tônica, a pessoa perde a consciência e os seus músculos ficam tensos. Isso geralmente dura apenas alguns segundos. Durante a fase clônica, os músculos começam a se contrair e relaxar rapidamente, levando a pessoa a convulsionar, às vezes severamente;
- Por fim, o efeito colateral mais bizarro que ocorreu a Bugorski é que a parte atingida de seu rosto não envelheceu. Enquanto a metade direita de sua face parece a de um homem enrugado normalmente pela idade, a metade esquerda parece ter congelado no tempo, há 19 anos. Aparentemente, Botox não chega nem perto de um feixe de prótons para parar o envelhecimento.
Bugorski ainda trabalhou como cientista por muitos anos. Em 1996, ele quis se declarar inválido para receber medicação de epilepsia gratuita, mas foi recusado. Também tentou fazer-se disponível para estudo a pesquisadores ocidentais, mas não teve dinheiro para deixar Protvino.[TIFO, Science-fact]