O que motiva alguém a estudar?

Por , em 24.09.2012

Por Mustafá Ali Kanso

Tenho observado que na base de boa parte da metodologia de ensino brasileiro, está a definição dos comportamentos terminais almejados, que devem coroar o processo de ensino e também das estratégias que serão as mais adequados para se alcançar tais determinantes respostas.

Num exemplo corriqueiro, pretende-se preparar o estudante para realizar exames vestibulares ou ENEM ou qualquer que venha ser o nome adotado para o mecanismo que faculte seu ingresso ao ensino superior. Assim o que se busca é um determinado comportamento no dia do exame, que resume a efetividade ou não daquele processo “preparatório”.

Para isso são adotadas estratégias que maximizem a capacidade do estudante de “captar” o maior número de informações no menor tempo possível, com enfoque prioritário muitas vezes na memorização.

Se não me falha a memória esta metodologia tem um viés fortemente behaviorista mesmo que muitos propagandistas queiram vesti-la com os mantos do construtivismo, ou outro “ismo” qualquer que estiver na moda.

Em minha modesta opinião, não importa quantos floreios existam no enunciado de questões de vestibulares, ENEM, etc., pois a ideia que gera o exame é a mesma.
Como consequência disso, tudo o que se passa no quadro de giz brasileiro, está mais para Skinner do que para Piaget. Ou estou enganado?

E mesmo assim, segundo Skinner, para que exista uma metodologia de ensino efetiva é importante que se compreenda tanto o comportamento do aprendiz quanto o comportamento dos componentes do sistema de ensino no qual ele encontra-se inserido.

A manutenção do sistema quase sempre determina a política adotada. Para compreender um determinado sistema de ensino, é necessário conhecer as contingências e regras que o influenciam, a ponto de modificar a forma de agir e de pensar dos responsáveis por sua execução.

O sistema de ensino utilizado por determinado segmento social possui um valor que está intimamente relacionado à capacidade de promover sua adaptação e garantir a sua sobrevivência e também a evolução de sua cultura, agindo no sentido de maximizar as oportunidades que a cultura tem, não só de lidar com os seus problemas, mas também de aumentar sua capacidade de fazê-lo.

Os grupos sociais que desenvolveram uma política de educação universal tiveram sua probabilidade de sobrevivência aumentada e se tornaram mais “fortes”. Sendo que uma cultura será tanto mais forte quanto maior for o número de seus membros que for capaz de educar. Enfatizando-se que educar deve ser entendido como um processo bem diferente daquele de condicionar.

Tenho observado que na média, o que tem motivado o estudante brasileiro são suas metas, propósitos ou o sentido pessoal do objeto do aprendizado. Em nosso exemplo singelo – passar no vestibular.

Mais uma vez – são formas de condicionamento operante, tendo em vista que existem vários reforços, que surgem no fim da carreira de estudo, tais como conseguir um bom emprego, promoção social, etc.

Porém, devido à grande distância temporal de tais metas, não se tem podido utilizá-las como reforço nessa situação de instrução. Daí muitos utilizarem a simples vitória no exame em lide como elemento preponderante para estimular o processo.

É comum, também, encontrar consequências aversivas, no comportamento de estudo, tais como a exigência da atenção constante por horas a fio e a demanda de um esforço pessoal considerável, que além de cansativo pode ser completamente desestimulante.

Para que tais efeitos aversivos do ato de estudar não atuem como elementos “imobilizadores”, tornou-se urgente um arranjo adequado de novos estímulos de reforço. Eu mesmo, como professor, tenho buscado constantemente inovações, principalmente na área das neurociências, como recursos que visem atenuar a carga massacrante de “trabalho de Sísifo” tanto para os estudantes quanto para os professores. Mesmo sabendo que o processo como um todo está intimamente comprometido como esse modelo.

Tenho refletido que mesmo do ponto de vista behaviorista, deve-se reforçar apenas o comportamento considerado ideal.

Mas será que esse comportamento que tanto se tem buscado reforçar é realmente o melhor para o estudante – ou numa visão mais abrangente – para o cidadão de qualquer nação que almeje o tão sonhado bem comum?

-o-

[Imagem: “Sísifo” de Tiziano – Wikipedia ]

 

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Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

20 comentários

  • Igor José:

    “Mas será que esse comportamento que tanto se tem buscado reforçar é realmente o melhor para o estudante”, por isso Skinner desenvolveu na ciência behaviorista a Analise Funcional, para que assim possa ser criado um Ensino Individualizado para o estudante (já que as dificuldades de um, não são as mesmas de outro) e um Ensino Programado (a famosa Maquina de Ensinar, algo parecido com os aplicativos para ensinar que hoje se tem nos computadores e celulares, que dariam feedback para os professores sobre os progressos dos alunos). Skinner foi um grande critico da metodologia de ensino e avaliação do seculo XX, e provavelmente seria também do atual seculo, pois não houve tantas mudanças, uma das criticas que ele faz é sobre o sistema de avaliação (provas), por alunos terem dificuldades diferentes as provas não poderiam ser iguais, o tema pode ser o mesmo, mas nível não. Como assim? Imagine o seguinte cenário: Dois alunos da mesma turma, o tema da prova é o mesmo, para matemática é função de segundo grau e para historia Revolução Francesa, o aluno A tem dificuldade em matemática e é bom em historia, contudo o aluno B é bom em matemática e ruim em historia, o professor faz uma prova diferente para cada um deles e avalia com o passar do tempo a melhora de cada um deles e dessa forma mudando a prova (aumentando os níveis cada vez que a dificuldade vai diminuindo). O objetivo não é fazer uma prova mais fácil para aquilo que o aluno tem dificuldade, mas sim o professor avaliar essa dificuldade e trabalhar em sua melhora, enquanto potencializa aquilo que ele é bom. No livro altamente criticado na época que foi lançado, Tecnologia do Ensino, o psicologo fala sobre a utilização da metodologia behaviorista para ensino, no qual se baseava em uma boa relação professor-aluno e uma maior autonomia do aluno (para que assim o aluno pudesse discutir e ensinar os outros ao seu redor). Então quando você diz que vê mais Skinner do que Piaget, eu discordo bastante.
    Respondendo a pergunta “O que motiva alguém a estudar?”, como diria Skinner: “A singularidade do indivíduo é incontestável na visão científica”, o único jeito de responder bem essa pergunta é Analisando Funcionalmente.

  • Ramon De Souza Vieira:

    ”O que motiva alguém a estudar?”
    R: Pontos

  • Lios Liosx:

    O Ensino das escola pública estar cada vez pior por causa de não investimento na Educação e aumenta muito a pobresa no nosso país e deixarei o link da imagem para vocês verem o que os nosso governantes estão aprontado Link: https://fbcdn-sphotos-a-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash4/390058_482262015152528_290505352_n.jpg . no dia 06/11/2012 os nossos governantes recusaram a proposta de aumento de verba na educação da prioridade para Copa do Mundo e Olin-píada. Aqueles que estudam em Escóla e Colégio Público estar a mercê da miséria e os coitados são os nossos professores que alem de não ter os melhores salários, terá que dá aulas com os pagamento atrasado o que incentivas mais gréve na Escóla Pública e Colégio… Agóra eu duvido que um politicos vai deixar os seus filhos estudarem na escola públicas.

  • Deam Gene Sinn-Klyss:

    Antes quero agradecer ao pessoal que produz e que visita/comenta neste site; pois percebo que vão mesmo atrás de informações.
    De certo modo estamos no breu, ou atolados num brejo, em termos de Educação. Até há piadas de todo tipo pra isso. Mas horrível mesmo será trancafiar os estudantes, ou enjaulá-los em um tempo integral(ainda por cima com escolas vigiadas por “firmas-de-segurança”e tuteladas por interesses avessos à Educação). Tenho recebido depoimentos e denúncias gravíssimas de estudantes sobre vários problemas acontecendo nos bastidores das escolas e até de universidades. Contudo, a gente faz alguma coisa pra mudar esse estado falido de nosso aspecto social.
    Postei um texto intitulado QI, Sexo, Reflexão, Intuição; no blog Gene Klyss. Nele, de propósito, instigo as pessoas que se consideram ativas psicologicamente a refletir uns “probleminhas fáceis” do Ensino Fundamental. Deixei uma proposição aberta à várias especulações afim de estimular mesmo as pessoas a se avaliarem sobre o quanto estão “afiadas” no que aprenderam na escola e até nas universidades. Se quiserem, disponham.

  • gloria:

    Bom artigo!Tudo é válido para alunos q ingressem nos cursos suoeriores, ir bem num curso ou ñ depende muito do passado estudantil de cada um, mesmo aqueles q tem dificuldades se quiser luta, estuda e aprende, o resto só mesmo a faculdade da vida irá lhe ensinar com o passar dos anos, se com estudo está dificil ,imagina então sem ele!O ensino brasileiro ñ é dos piores ñ, vejo sempre estudantes brasileiros fazendo bonito lá fora, são cientistas, matémáticos, analistas,músicos e muitos outros, o bom aluno e o bom professor são sempre recompensados por seus esforços.

  • Max Montagnoli Steiner:

    O que me incomoda muitas vezes no hyperscience, é essa falta de “science” por aqui. Reflexões e filosofias pessoas são ótimas para discussões informais, mas ficam feias em um domínio que, acredito eu, deveria prezar pela dissiminação de conhecimento científico reconhecido. Cabe ao autor do tópico se debruçar antes sobre os PCN´s e PCN+, antes de vir compartilhar suas reflexões pessoais como indícios da realidade. Adiantando, no Brasil a teoria é linda, e hoje em dia temos diversos pesquisadores reconhecidos a nível internacional no que diz respeito a pesquisa de ensino, o que nos falta é praticar, seguir, o que os parâmetros curriculares propõe. É inserir a pesquisa em sala de aula e começar a testar teorias antes de começar a promover novas. Evidente que, nenhum ser vivo é capaz de procurar por novas tecnologias, táticas, bibliografias, para melhorar sua própria prática e aulas, enquanto leciona 40 horas por semana no mínimo, chegando fácil aos 60~70, ao mesmo tempo que briga para não passar fome e pagar o aluguel. A questão é que temos um nós muito bem dado no sistema de ensino, pois, enquanto as pessoas não dão valor a educação, em sua maioria, a resposta seria melhorar a mesma para provar seu valor incostestável, entretanto por ser mal vista, poucos são aqueles que tem condição de por si mesmos, serem a melhora necessária em sala de aula, enquanto não tem condições dignas de vida.

    • Mustafá Ali Kanso:

      Meu caro Max, você não prestou atenção no título dessa coluna – “hipercrônicas”. Apesar do neologismo, o termo crônica caracteriza: “Texto jornalístico redigido de forma livre e pessoal, e que tem como temas fatos ou idéias da atualidade, de teor artístico, científico, político, esportivo, etc., ou simplesmente relativos à vida cotidiana.
      É evidente que expressar pareceres e reflexões sobre behaviorismo e as Teorias de Skinner se enquadra perfeitamente no que denominamos crônica com teor científico. Em tempo: em minha dissertação de mestrado “Projetando Ambientes de Aprendizagem Hipermídia com Recursos da Inteligência Artificial” (UFSC, 2001) você encontrará outras reflexões com o mesmo cunho, do abordado nesse artigo.
      Grato pela audiência.

    • aguiarubra:

      Muito mal, Max!

      Se não gosta do tema e não tem críticas contrutivas a fazer, por favor, responda outros tópicos de seu único e exclusivo interesse. Há muita gente por aqui que aprecia as contribuições de Mustafá

      É difícil tratar o tema educacional no país, principalmente com o tipo de conselhos que gente como vc costuma dar nesse país.

      Se vc se acha ‘dono’ daquilo que é tratado no Hypescience e se arroga ao direito auto-concedido de repudiar assuntos docentes aqui, espero que Mustafá compreenda o narcisismo inerente a personalidades como a sua e não se deixe incomodar com essa demonstração infeliz de ego inflado.

  • Joinha Da Silva:

    Leiam um pouco do epistemólogo Karl R. Popper.
    Dois dos livros dele, apesar de serem a respeito do conhecimento científico, justificam cada uma das palavras propostas pelo autor do texto.
    Ainda assim, podem pesquisar por um professor que, ainda irá ficar famoso pela maneira como trata a educação: Luiz Gonzaga Roversi Genovese, professor do IF-UFG.
    Abraços, caros amigos.

  • Danilo Moço:

    Eu não consigo mais ficar sem estudar,depois que me formei no ensino médio fiquei 4 anos sem colocar a mão nos cadernos então achei que me ficou faltando alguma coisa,agora eu estou cursando uma faculdade de Ciências Biológicas e no momento me sinto realizado!!

  • phoenix:

    Às vezes acho que se não fosse o preguiçoso, não haveriam invenções. Basta pensar que a maioria das coisas que foram inventadas diminuem o trabalho a ser realizado ou proporcionam maior conforto. Dá pra pensar: Os pais das invenções são os preguiçosos. Não digo preguiça mental, pois isso não existe aos inventores. Mas nós (seres humanos) sempre buscamos uma forma mais fácil de realizar alguma tarefa e então colocamos o cérebro para trabalhar. Até dormindo nosso cérebro trabalha e nos brinda com ideias.

  • José Marcello Vertemati Pinto:

    Sistema de ensino? Nós temos um sistema de ensino?

    • Guilherme Euripedes:

      Temos um bom sistema que na teoria funciona muito bem. Mas poucos professores o praticam. E muitos dos que praticam não recebem retorno dos alunos. O que o degenera o Sistema…

      Um Círculo Vicioso.

  • luysylva:

    se não fossem ás pessoas inteligentes; não existiria nada, a rede para pesca, o arado, até o microfone para canta, foi inventado por uma mente pensante, as armas da antiguidade, a fuga, a lança, o escudo e a espada foram inventadas por pessoas instruídas, nossas facilidades são graças as mentes pensantes, sem elas não teríamos nada, nem estaríamos aqui comentando online ao vivo.

  • Cleme Hajia:

    Olá Caro Mustafá,

    tá complicada a situação brasileira, quanto a educação.
    Em não havendo medidas governamentais sérias estaremos sujeitos a permanecer como 6ª economia provisoriamente e seremos os eternos classificados entre os últimos quanto a educação: Skinner, ou Piaget? Acho que estamos mais para Afrikiner.

  • tommy lommy:

    Penso que um grande erro de quase todo professor é superestimar seu trabalho. Com isso ele absorve uma grande carga que a ele não pertence.
    O interesse pelo conhecimento em si, salvo as pequenas metas de cada dia, só acontece a partir de uma motivação interna. Ninguém sabe o que gera essa motivação. Maioria das vezes, mesmo que não se tenha consciência disso, ela nasce de questões não-práticas; da abstração.
    Parece que o professor pode apenas dar ferramentas para a construção dessas estruturas lógicas de pensamento. Tal qual um semeador, que apenas semeia ideias. Se elas germinarão ou não, depende de muitos fatores alheios ao semeador…

    • Guilherme Euripedes:

      Penso que não Tommy. Como você mesmo disse, e concordo, o interesse pelo conhecimento deve vir do aluno, e de preferência que venha de motivações que não sejam provas e vestibulares.

      Mas essa “motivação” em especial, quando não vem de forma natural (que na verdade consiste em exposição social, seja na familia ou na “rua”), ela deve vir do professor. Está ai a real função do professor no final. Propiciar um ambiente onde o aluno tenha o interesse (e a capacidade)em aprender.

  • Arthur França:

    Realmente isso acontece. Deve-se lembrar que o que determina a eficiência de uma escola, hoje em dia, é o número de aprovações no vestibular, ENEM ou concursos. Infelizmente, os vestibulares não servem para medir conhecimento dos alunos, mas para os ‘derrubar’ na seleção. Pois, a política de nosso país não oferece vagas para TODOS os que se mostrem preparados, porém vagas muito limitadas para os que forem mais ‘malandros’ na seleção. E, isso NÃO determina grau de eficiência.

  • zide:

    Achei o artigo desinteressante principalmente pela maneira como foi redigido. Parece-me que houve uma maior preocupação em escrever utilizando palavras caras e conceitos requintados do que propriamente transparecer uma ideia ou ponto de vista de uma forma clara e concisa.

  • Elcio Ielpo:

    Sem ‘floreios’, prof. Mustafá; Seu artigo é excelente!! Parabéns por sua sistemática contribuição para disseminar o conhecimento.

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