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O que motiva alguém a estudar?

Por Mustafá Ali Kanso

Tenho observado que na base de boa parte da metodologia de ensino brasileiro, está a definição dos comportamentos terminais almejados, que devem coroar o processo de ensino e também das estratégias que serão as mais adequados para se alcançar tais determinantes respostas.

Num exemplo corriqueiro, pretende-se preparar o estudante para realizar exames vestibulares ou ENEM ou qualquer que venha ser o nome adotado para o mecanismo que faculte seu ingresso ao ensino superior. Assim o que se busca é um determinado comportamento no dia do exame, que resume a efetividade ou não daquele processo “preparatório”.

Para isso são adotadas estratégias que maximizem a capacidade do estudante de “captar” o maior número de informações no menor tempo possível, com enfoque prioritário muitas vezes na memorização.

Se não me falha a memória esta metodologia tem um viés fortemente behaviorista mesmo que muitos propagandistas queiram vesti-la com os mantos do construtivismo, ou outro “ismo” qualquer que estiver na moda.

Em minha modesta opinião, não importa quantos floreios existam no enunciado de questões de vestibulares, ENEM, etc., pois a ideia que gera o exame é a mesma.
Como consequência disso, tudo o que se passa no quadro de giz brasileiro, está mais para Skinner do que para Piaget. Ou estou enganado?

E mesmo assim, segundo Skinner, para que exista uma metodologia de ensino efetiva é importante que se compreenda tanto o comportamento do aprendiz quanto o comportamento dos componentes do sistema de ensino no qual ele encontra-se inserido.

A manutenção do sistema quase sempre determina a política adotada. Para compreender um determinado sistema de ensino, é necessário conhecer as contingências e regras que o influenciam, a ponto de modificar a forma de agir e de pensar dos responsáveis por sua execução.

O sistema de ensino utilizado por determinado segmento social possui um valor que está intimamente relacionado à capacidade de promover sua adaptação e garantir a sua sobrevivência e também a evolução de sua cultura, agindo no sentido de maximizar as oportunidades que a cultura tem, não só de lidar com os seus problemas, mas também de aumentar sua capacidade de fazê-lo.

Os grupos sociais que desenvolveram uma política de educação universal tiveram sua probabilidade de sobrevivência aumentada e se tornaram mais “fortes”. Sendo que uma cultura será tanto mais forte quanto maior for o número de seus membros que for capaz de educar. Enfatizando-se que educar deve ser entendido como um processo bem diferente daquele de condicionar.

Tenho observado que na média, o que tem motivado o estudante brasileiro são suas metas, propósitos ou o sentido pessoal do objeto do aprendizado. Em nosso exemplo singelo – passar no vestibular.

Mais uma vez – são formas de condicionamento operante, tendo em vista que existem vários reforços, que surgem no fim da carreira de estudo, tais como conseguir um bom emprego, promoção social, etc.

Porém, devido à grande distância temporal de tais metas, não se tem podido utilizá-las como reforço nessa situação de instrução. Daí muitos utilizarem a simples vitória no exame em lide como elemento preponderante para estimular o processo.

É comum, também, encontrar consequências aversivas, no comportamento de estudo, tais como a exigência da atenção constante por horas a fio e a demanda de um esforço pessoal considerável, que além de cansativo pode ser completamente desestimulante.

Para que tais efeitos aversivos do ato de estudar não atuem como elementos “imobilizadores”, tornou-se urgente um arranjo adequado de novos estímulos de reforço. Eu mesmo, como professor, tenho buscado constantemente inovações, principalmente na área das neurociências, como recursos que visem atenuar a carga massacrante de “trabalho de Sísifo” tanto para os estudantes quanto para os professores. Mesmo sabendo que o processo como um todo está intimamente comprometido como esse modelo.

Tenho refletido que mesmo do ponto de vista behaviorista, deve-se reforçar apenas o comportamento considerado ideal.

Mas será que esse comportamento que tanto se tem buscado reforçar é realmente o melhor para o estudante – ou numa visão mais abrangente – para o cidadão de qualquer nação que almeje o tão sonhado bem comum?

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[Imagem: “Sísifo” de Tiziano – Wikipedia ]

 

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Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa Mustafá Ali Kanso, nesse seu novo livro “A Cor da Tempestade” premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove.

Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

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