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Orcas com Facas: Centenas de Glifos de Nazca São Descobertos

Entre os novos glifos descobertos, há representações de pássaros, animais, cabeças e, nosso favorito, orcas empunhando facas. (Sakai et al., PNAS, 2024)

Uma nova era de exploração começou no deserto do sul do Peru, onde centenas de glifos de Nazca, que haviam permanecido ocultos por séculos, foram recentemente descobertos. Esses glifos incluem representações de pássaros, animais e até orcas portando facas, mostrando que a imaginação dos antigos habitantes da região era tão vasta quanto o próprio deserto.

Os geoglifos de Nazca, esculpidos no chão árido entre 500 a.C. e 500 d.C., revelam sua verdadeira essência apenas quando vistos do céu. Desde a primeira descoberta na década de 1940, aproximadamente 430 desses fascinantes símbolos já haviam sido identificados na Pampa de Nazca. Porém, a inovação chegou com o uso de drones e inteligência artificial, liderados pelo arqueólogo e antropólogo Masato Sakai, da Universidade de Yamagata, no Japão. Em um feito impressionante, a equipe conseguiu localizar mais 303 glifos em apenas seis meses, quase duplicando o número conhecido.

Alguns dos glifos são interpretados como figuras humanoides ou humanos utilizando cocares. (Sakai et al., PNAS, 2024)

Essa nova onda de descobertas trouxe à tona informações valiosas sobre a função desses enigmáticos desenhos. De acordo com Sakai, as investigações anteriores falharam em esclarecer a distribuição e os tipos de geoglifos, mas a combinação de tecnologia de sensoriamento remoto e inteligência artificial agora permitiu uma análise mais precisa. Os pesquisadores acreditam que esses glifos foram criados como parte de uma peregrinação sagrada para Cahuachi, um importante centro cerimonial da cultura Nazca.

As dificuldades para desenterrar esses glifos são numerosas. A erosão ao longo dos séculos tornou muitos deles quase invisíveis, e a vasta extensão da Pampa de Nazca, com seus 400 quilômetros quadrados, dificulta ainda mais a pesquisa em campo. Uma pequena comparação: você precisaria de bastante energia para atravessar essa área a pé, e não estamos falando de uma caminhada relaxante no parque.

Orcas com facas. (Sakai et al., PNAS, 2024)

Desde 2004, Sakai e sua equipe têm utilizado tecnologias modernas para explorar a Pampa. Antes dessa nova pesquisa, eles já tinham descoberto 318 dos glifos conhecidos. Embora os humanos sejam hábeis em identificar sinais de geoglifos desbotados, a equipe apostou na inteligência artificial para encontrar padrões que antes passaram despercebidos.

A colaboração com o IBM Thomas J. Watson Research Center resultou na criação de um algoritmo que identifica os glifos menos visíveis nas imagens capturadas por drones. Impressionantemente, mais da metade dos novos glifos, ou seja, 178 deles, foram sugeridos pela IA, demonstrando o potencial dessa tecnologia em ajudar nas investigações arqueológicas.

Os novos glifos pertencem à categoria dos geoglifos do tipo relevo, que são mais pequenos e mais desafiadores de identificar do que os geoglifos do tipo linha. A descoberta é intrigante, considerando que os 430 glifos conhecidos anteriormente incluíam 380 do tipo relevo e 50 do tipo linha. Os geoglifos do tipo relevo geralmente retratam humanos e animais domesticados, enquanto os do tipo linha tendem a representar animais selvagens. A disposição e a localização deles oferecem pistas sobre seus possíveis usos.

Um glifo mostrando a interação entre um humano e um animal. Como você pode perceber, o glifo é difícil de identificar. (Sakai et al., PNAS, 2024)

As trilhas que levam aos geoglifos do tipo relevo foram criadas para que as pessoas pudessem apreciá-los durante suas caminhadas. Já os geoglifos do tipo linha estão concentrados nos pontos de partida e término de uma rede interconectada de geoglifos, ligando centros cerimoniais e locais sagrados, sugerindo que os antigos Nazcas percorriam essas rotas em busca de significado espiritual.

Cahuachi, como se sabe, era um destino de peregrinação, onde os visitantes se reuniam para cerimônias e eventos. Embora os detalhes de seu uso permaneçam obscuros, a quantidade crescente de geoglifos revelados sugere que há mais segredos a serem desvendados.

Com mais de 700 geoglifos agora disponíveis para estudo, os pesquisadores esperam encontrar respostas mais concretas sobre a informação transmitida através desses símbolos. Sakai está determinado a decifrar o que esses desenhos antigos podem nos contar sobre a sociedade andina. A pesquisa foi publicada na Proceedings of the National Academy of Sciences, e é só o começo de uma jornada de descobertas que promete muito mais. [Science Alert]

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