Em filmes e seriados médicos, é bastante comum ver a seguinte cena: paciente na cama do hospital, o monitor cardíaco emitindo sinais agudos, mostrando apenas uma linha verde, reta. O médico então se aproxima, carrega as pás do desfibrilador, ordena que todos se afastem e então aplica a alta dose de energia no paciente, cujo corpo dá um salto. O sinal sonoro do monitor cardíaco cessa, as ondas vermelhas reaparecem e tudo fica bem. Apesar de emocionante, isso é uma representação bastante errônea.
Para explicar – e entender melhor – o que acontece, é necessário saber porque a parada cardíaca ocorre. O sistema elétrico do coração controla a capacidade do órgão de bombear o sangue para o resto do corpo. Se o fluxo dessa energia se torna desorganizado ou o músculo cardíaco deixa de responder, normalmente a ação de bombeamento regular é perdida. O sangue deixa de fluir e os tecidos do corpo têm que lidar com a súbita falta de fornecimento de oxigênio.
Podemos ver os vários padrões de ondas elétricas do coração em parada cardíaca com eletrocardiograma ou ECG. Existem quatro principais ritmos que você pode ver durante uma parada cardíaca:
- Taquicardia ventricular sem pulso (TV) é um ritmo cardíaco muito rápido e ineficiente. O coração está batendo tão rápido que ele não pode preencher adequadamente entre os batimentos. Portanto, a circulação cai rapidamente para níveis perigosamente baixos.
- Ventricular atrial (VF) são contrações basicamente caóticas e descoordenadas do músculo cardíaco. Imagine um coração tremendo como uma tigela de geleia, incapaz de realizar uma contração adequada para enviar o sangue.
- Atividade elétrica sem pulso (PEA) é onde o ritmo cardíaco parece normal no ECG, mas a atividade elétrica não produz qualquer movimento do músculo cardíaco. As luzes estão acesas, fisiologicamente falando, mas ninguém está em casa.
- Assistolia é a completa ausência de qualquer atividade elétrica detectável do músculo cardíaco. Ele aparece como uma linha reta nos monitores. É evidente que este é o pior tipo de parada cardíaca e há pouca chance de volta.
Estes quatro resultados de ECG são classificados em “chocáveis” e “não chocáveis”, dependendo se eles respondem à corrente elétrica do desfibrilador. Taquicardia ventricular sem pulso e fibrilação ventricular (1 e 2) são chocáveis, em grande parte porque tendem a ser causadas pela atividade elétrica do coração que está fora de sintonia, e não pelo músculo cardíaco que está sendo danificado.
Bater o músculo cardíaco com uma grande dose de energia elétrica funciona um pouco como Ctrl-Alt-Delete em seu computador (ou Alt + Comando + Esc para os usuários de Mac). Em quase metade dos casos, um único choque faz com que a circulação volte a um ritmo normal se realizado poucos minutos depois do início.
Atividade elétrica sem pulso e assistolia (3 e 4), em contrapartida, não são passíveis de choque, pois não respondem a desfibrilação. Esses ritmos indicam que o músculo cardíaco é disfuncional. As causas são difíceis de reverter e as taxas de sobrevivência são muito baixas. O tratamento de escolha para assistolia é continuar a RCP (ressuscitação cardiopulmonar) e dar uma dose de adrenalina. Na verdade, se você parar a ressuscitação para dar um choque inapropriado, as perspectivas do paciente não são das melhores.[MedicalXpress]