Um novo estudo sugere que mulheres que usam óvulos doados para engravidar por fertilização in vitro (FIV) podem ter um risco maior para uma complicação na gravidez do que as mulheres que usam a fertilização in vitro tradicional.
Os cientistas já acreditavam que a técnica FIV, na qual um óvulo é fertilizado fora do corpo, e em seguida implantado no útero de uma mulher, aumentava o risco de pré-eclâmpsia. Agora, parece que usar um óvulo doado poderia aumentar ainda mais esse risco, porém, são necessários mais estudos para confirmar tais resultados.
Essa complicação ocorre quando a pressão sanguínea da mulher aumenta durante o segundo ou terceiro trimestre da gravidez, e os rins perdem a capacidade de reter proteínas. Apesar de relativamente comum, a pré-eclâmpsia não é bem explicada. A doença se desenvolve em cerca de uma em cada vinte gestantes, e a única cura é o parto.
Para as mulheres que carregam um bebê de pelo menos 37 semanas, os médicos podem induzir o parto. Em outros casos, os médicos acompanham as pacientes de perto para se certificar de que os sintomas não pioram até o parto.
Segundo os pesquisadores, a descoberta não deve ser alarmante ou assustadora. Pelo contrário; essa pode ser a hora de usar a descoberta para ajudar os médicos a entender o que causa a pré-eclâmpsia, e como aconselhar as pacientes que podem estar em risco.
Estudos anteriores mostraram que mulheres que usam o esperma de um doador, ou que ficam grávidas a partir da relação sexual com um novo parceiro apresentam os maiores índices de pré-eclâmpsia. Isso sugere que a condição pode estar relacionada à resposta imune do organismo às células que não reconhece. Assim, os pesquisadores resolveram testar se o padrão continuava válido para os óvulos que o corpo considerasse “estranhos”.
Eles compararam 77 mulheres que tiveram filhos com óvulos doados, entre 1998 e 2005, com 81 mulheres com características semelhantes que tinham ficado grávidas por FIV usando seus próprios ovos. Os pesquisadores notaram quantas mulheres em cada grupo foram diagnosticadas com pré-eclâmpsia ou pressão arterial alta associada à gravidez durante o terceiro trimestre, bem como quantas deram à luz a seus bebês prematuramente.
Os resultados mostram que cerca de 5% das mulheres que usaram seus próprios óvulos desenvolveram pré-eclâmpsia, comparado com quase 17% das mulheres que usaram óvulos de doadoras. Mulheres que usaram óvulos de doadoras também foram mais propensas a ter pressão arterial alta sem problemas renais, e partos prematuros.
Os resultados também apontam que mulheres que engravidaram usando embriões congelados e descongelados tinham maior risco de pré-eclâmpsia do que mulheres que usaram embriões frescos.
Os pesquisadores sugerem que os médicos mantenham um olho nas pacientes que engravidaram usando óvulos doados, para se certificar de que elas não comecem a desenvolver sinais de pré-eclâmpsia.
Ainda assim, os cientistas advertem que esse estudo foi pequeno, e que, ao invés de olhar registros de mulheres que já deram à luz, novas pesquisas deverão ser iniciadas com mulheres assim que elas fiquem grávidas, para controlar sua saúde conforme elas passam por sua gravidez. Embora mais difícil de realizar, esse tipo de estudo muitas vezes pode gerar informações mais precisas.
Ainda assim, o estudo realizado pode fornecer aos cientistas mais pistas sobre como a pré-eclâmpsia se desenvolve. Os sinais continuam a apontar que a doença tem algo a ver com a resposta imunológica do organismo quando ele reconhece células estranhas. Isso faria sentido, pois a resposta imune é importante tanto na implantação quanto no desenvolvimento do feto.
Os médicos precisam aprender mais sobre a forma como o feto se implanta no útero, porque este é, provavelmente, o período no qual se inicia a pré-eclâmpsia, mesmo que as mulheres não apresentem sintomas até o segundo ou terceiro trimestre.
Segundo os pesquisadores, a mensagem principal do estudo não é que as mulheres que engravidam usando óvulos doados devem ter medo de desenvolver pré-eclâmpsia. É que os médicos devem estar cientes dos possíveis riscos envolvendo as pacientes, e, mais importante, que monitorem a resposta do sistema imunológico das mulheres grávidas. [Reuters]