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Para fabricar ferramentas mais complexas, é preciso um cérebro mais complexo

Apesar de hoje se inventarem coisas novas a todo instante, levou 2.000 anos para nossos antepassados trocarem as lascas de pedra afiada por machados mais complexos, utilizados para caça e luta. Porque será que eles demoraram tanto para melhorar algo tão simples?

As primeiras ferramentas de pedra datam de 2,6 milhões de anos atrás, e marcam o início do período Paleolítico Inferior. Esse período terminou 2.000 anos mais tarde, quando os primeiros seres humanos fabricaram ferramentas mais complexas que exigiam mais habilidade, os machados de mão em forma de gota.

Os pesquisadores têm debatido a questão da demora da invenção há tempos. Nossos antepassados não eram suficientes espertos, ou não tinham suficiente destreza para desenhar formas mais complexas de ferramentas?

Para responder a essa pergunta, cientistas analisaram os movimentos necessários para fabricar ferramentas diferentes, e concluíram que a resposta para tal mistério está no desenvolvimento do cérebro.

Escaneamentos cerebrais anteriores tinham mostrado uma sobreposição de áreas responsáveis pela fabricação de ferramentas e processamento da linguagem. A sobreposição é maior quando as pessoas estão fazendo ferramentas complexas. Algumas partes do lado direito do cérebro, envolvidas em processamento de linguagem, tornam-se mais ativas nesta situação.

No entanto, apesar dessas diferenças na atividade cerebral, a destreza ainda poderia ser a causa para a demora da invenção. Se fabricar machados de mão requer mais trabalho com a mão esquerda do que fazer simples pedras afiadas, por exemplo, os exames também mostrariam uma maior ativação do lado direito do cérebro, porque a mão esquerda é controlada pelo lado direito do cérebro.

Para entender qual era a causa, então, os pesquisadores pediram a um artesão para criar réplicas de ambos os tipos de ferramenta, enquanto mediam e rastreavam seus movimentos.

Os resultados foram surpreendentes: os tipos de movimento necessários para fabricar o machado não eram mais complexos e não necessitaram de mais destreza física do que os necessários para fazer ferramentas simples.

Assim, a destreza foi descartada. A descoberta apóia a tese anterior de escaneamento do cérebro, que sugere que a complexidade da ferramenta e o desenvolvimento da linguagem estão ligados.

Ou seja, pode-se inferir que a demora teve algo a ver com a complexidade da tarefa. Machados são fabricados em várias etapas, o que exige alternância entre as tarefas, sugerindo que um maior nível de complexidade é necessário no cérebro.

Uma linguagem mais complexa exige que você tenha pensamentos estruturados mais complexos, da mesma forma que a fabricação de ferramentas mais complexas requer ações mais complexas. [NewScientist]

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