Pesquisas recentes na área genética indicam que fatores genéticos e evolutivos podem influenciar o comportamento bissexual, levantando debates sobre as implicações éticas de tais descobertas.
Um estudo relatado pela revista Science investiga os aspectos genéticos da bissexualidade, sugerindo uma inclinação maior para comportamentos de risco. Essa característica se diferencia dos fatores genéticos associados à homossexualidade. Publicado na Science Advances, o estudo intitulado “Variantes genéticas subjacentes ao comportamento bissexual humano são vantajosas reprodutivamente” resgata antigas discussões sobre se o comportamento humano é determinado biologicamente ou pelo ambiente, um tema que tem sido polêmico nas discussões sobre orientação sexual.
O estudo, que apresenta descobertas intrigantes, foi conduzido por Jianzhi Zhang e Siliang Song, geneticistas evolucionários da Universidade de Michigan. Eles enfatizam que sua pesquisa, que associa a bissexualidade ao comportamento de risco, não deve ser vista como um julgamento moral, mas sim como uma observação empírica. Zhang aponta que, como muitas características, o comportamento de risco pode ter resultados positivos ou negativos, dependendo do contexto.
Eles analisaram dados do UK Biobank, um extenso banco de dados genéticos, e diferiram de um estudo significativo de 2019 sobre genética dos comportamentos de mesmo sexo ao separar comportamentos homossexuais e bissexuais auto-relatados. A análise revelou que, embora as variantes genéticas associadas a comportamentos bissexuais e homossexuais estejam relacionadas, elas também são distintas entre si.
Curiosamente, o estudo descobriu que a predisposição genética para comportamentos de risco na bissexualidade era mais evidente em homens do que em mulheres. Essas variantes genéticas também pareciam aumentar o sucesso reprodutivo.
O estudo sugere vantagens evolutivas da bissexualidade, mas, como aponta Andrea Camperio Ciani, geneticista comportamental da Universidade de Pádua, Itália, ele não explica completamente o papel evolutivo do comportamento homossexual, presente universalmente, mas sempre em baixa frequência.
A dependência do estudo em comportamentos sexuais auto-relatados, em vez de orientação ou identidade, gera questionamentos, principalmente considerando o demográfico mais velho dos respondentes do UK Biobank. Esse grupo pode ter relatado comportamentos de um período em que a homossexualidade era ilegal e fortemente estigmatizada.
As implicações de tal pesquisa são significativas na sociedade atual, onde a bissexualidade, embora mais aceita, ainda enfrenta concepções errôneas e preconceitos. Robbee Wedow, sociogenomicista da Purdue que co-autorou o estudo de 2019 sobre homossexualidade, expressou preocupações sobre as implicações do novo estudo na bissexualidade e aptidão evolutiva, classificando-as como potencialmente prejudiciais.
Contudo, Zhang defende a importância de tais pesquisas no avanço da ciência, tecnologia e sociedade, mesmo que inicialmente sejam consideradas controversas. A busca por entender a complexidade do comportamento humano, especialmente no contexto da sexualidade, é essencial para desvendar as múltiplas camadas que compõem nossa natureza. Estudos como este abrem caminho para uma maior compreensão de como a genética e a evolução moldam não apenas nossas características físicas, mas também nossas inclinações comportamentais e identidades.
Além disso, a discussão levantada pelo estudo traz à tona a necessidade de abordar questões de diversidade sexual com sensibilidade e rigor científico, evitando estigmatizações e julgamentos precipitados. O diálogo entre a ciência e a ética se faz mais relevante do que nunca, especialmente em um campo tão pessoal e socialmente carregado como o da sexualidade humana.
Portanto, o avanço no entendimento da bissexualidade através da genética não apenas desafia antigas concepções, mas também oferece novas perspectivas sobre a complexidade do comportamento humano. Esse equilíbrio entre descoberta científica e consideração ética é crucial para o desenvolvimento de uma sociedade mais informada e inclusiva. [Futurism]