Conexões atmosféricas de longa distância entre os pólos Norte e Sul estão ligando o tempo e o clima em partes distantes do globo, de acordo com dados de uma sonda da NASA. Chamadas de “teleconexões”, os pesquisadores dizem que elas explicam por que a temperatura do ar de inverno em Indianápolis, nos Estados Unidos, durante o chamado vórtice polar, estava correlacionada com uma redução de nuvens de alta altitude sobre a Antártica, a milhares de quilômetros de distância.
“As mudanças nas regiões polares do Norte foram ‘comunicadas’ até o outro lado do mundo”, disse Cora Randall, cientista atmosférica da Universidade do Colorado, Boulder (EUA) e membro da equipe científica da sonda espacial Aeronomy of Ice in the Mesosphere (AIM – em português: Aeronomia do Gelo na Mesosfera).
A sonda AIM da NASA foi lançada em 2007 para estudar nuvens noctilucentes, que se formam a mais de 80 quilômetros acima da superfície da Terra, em uma camada conhecida como a mesosfera. As nuvens, que brilham em azul elétrico após o anoitecer ou de madrugada, são compostas de cristais de gelo que se acumulam sobre a “fumaça de meteoros”, o pó retirado de meteoros conforme eles passam através da atmosfera.
Ao estudar essas nuvens, os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir estas teleconexões. Ventos na estratosfera do Hemisfério Norte, a segunda camada da atmosfera da Terra, estavam afetando, algumas semanas mais tarde, a mesosfera do Hemisfério Sul, a camada acima da estratosfera.
Especificamente, o enorme sistema de vento conhecido como vórtice polar – que trouxe temperaturas frias para a América do Norte em janeiro passado – abrandou. Essa desaceleração, por sua vez, fez a mesosfera do Hemisfério Sul ficar mais quente e seca, causando a formação de menos nuvens noctilucentes.
“Quando você altera a circulação, você muda temperaturas”, conta Randall. Se você alterar as temperaturas em uma área, mas não em outra, os ventos mudam. Ela explica que é criado um sistema de feedback, de modo que tudo o que acontece no Hemisfério Norte se propaga até o Hemisfério Sul.
A equipe encontrou uma ligação estatística entre o tempo invernal no estado norte-americano de Indiana e um declínio nas nuvens noctilucentes sobre a Antártida, duas semanas depois. Randall disse que ela escolheu estudar Indiana porque tem família lá, mas a mesma ligação se provou verdadeira para outras áreas da América do Norte.
Planeta conectado
O tempo frio na América do Norte não fez com que as nuvens sobre a Antártica mudassem, nem as nuvens causaram o tempo frio. Em vez disso, a estratosfera do Norte é que altera ambos.
Tais teleconexões entre a estratosfera do Norte e mesosfera do Sul já tinham sido observadas antes, e os cientistas também sabiam que as condições na estratosfera poderiam afetar o clima na superfície. Mas, agora, parece que a estratosfera influencia, em paralelo, o tempo na superfície local e partes distantes da mesosfera.
Outro estudo recente descobriu que essas nuvens estão se tornando mais comuns sobre latitudes mais baixas, incluindo o sul do Canadá e o norte dos Estados Unidos. Os resultados mostram como as mudanças feitas em uma parte da atmosfera – incluindo aquelas causadas por atividades humanas – não são restritas a apenas essa área. A liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono e metano na atmosfera pode provocar a formação de nuvens no Hemisfério Sul, e essas nuvens podem ser usadas como um indicador da mudança climática. “Estamos descobrindo o quão conectada toda a Terra realmente é”, concluiu Randall. [Space]