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Por que ainda não encontramos civilizações alienígenas inteligentes? A hipótese de um ‘limite universal para o desenvolvimento tecnológico’

Em menos de um século, a humanidade passou de voar em máquinas frágeis a caminhar na Lua. E em pouco mais de cem anos, evoluímos de cálculos em máquinas rudimentares para dispositivos que cabem no bolso e nos conectam a quase toda a sabedoria humana em questão de segundos. Esse progresso vertiginoso alimenta a crença de que nossas capacidades tecnológicas podem ser infinitas. Mas, se a tecnologia não conhece fronteiras, por que ainda não encontramos sinais de vida inteligente além da Terra?

O enigma do silêncio cósmico

O questionamento sobre a ausência de indícios de civilizações alienígenas ressoa desde a década de 1950, quando o físico Enrico Fermi lançou o famoso paradoxo que leva seu nome. Se o universo é antigo e vasto, com bilhões de estrelas e planetas, por que a Terra parece tão isolada? Nossa galáxia é um bairro movimentado, mas somos a única casa iluminada? Se outras formas de vida inteligentes surgiram antes de nós, por que não vimos nenhuma nave estelar ou mensagens intergalácticas?

Uma possível resposta para esse mistério foi proposta por Antonio Gelis-Filho, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP), no Brasil. Ele sugere que pode haver um “limite universal para o desenvolvimento tecnológico” (LUDT) que impede qualquer espécie inteligente de alcançar um patamar capaz de dominar ou colonizar a galáxia. Segundo essa hipótese, todas as civilizações estariam condenadas a esbarrar em barreiras que as impedem de dar o próximo grande salto tecnológico.

O preço de desvendar o universo

Ao longo da história, as civilizações humanas floresceram e caíram, como árvores que crescem vigorosamente até que o solo não consegue mais sustentar suas raízes. Gelis-Filho argumenta que a trajetória das civilizações no cosmos pode seguir uma lógica semelhante: à medida que avançamos em ciência e tecnologia, o custo desses avanços cresce exponencialmente. Projetos como o Grande Colisor de Hádrons, que custou cerca de $4,75 bilhões de dólares (aproximadamente 24 bilhões de reais) para ser construído e demanda mais de $286 milhões de dólares (1,4 bilhões de reais) anuais para operar, mostram que investigar as fronteiras do conhecimento tem um preço alto.

É como explorar um vasto oceano onde cada nova ilha descoberta se encontra a uma distância cada vez maior. A cada salto, é preciso mais energia, mais esforço e mais recursos. E, em algum ponto, talvez seja preciso escolher entre construir um acelerador de partículas do tamanho de uma galáxia ou investir em infraestrutura para manter a própria civilização.

A travessia impossível: limites naturais da tecnologia

A ciência nos revela que há barreiras naturais no universo, como a velocidade da luz, um limite cósmico que não podemos ultrapassar, pelo menos com a tecnologia que conhecemos. Da mesma forma, há conhecimentos que podem estar para sempre fora de nosso alcance, escondidos em becos sem saída do universo, inacessíveis à nossa biologia. Ainda que inventemos ferramentas para ampliar nossos sentidos — como telescópios que enxergam os confins do cosmos e microscópios que desvendam o invisível —, cada nova descoberta exige uma engenharia cada vez mais complexa.

O físico Richard Feynman certa vez afirmou que só compreendemos aquilo que podemos criar. Gelis-Filho concorda, sugerindo que nossa capacidade de criar tecnologias depende daquilo que conseguimos entender. E, como um equilibrista que tenta atravessar um abismo cada vez maior, a tecnologia humana pode estar chegando a um ponto em que não há mais como seguir adiante sem um salto de proporções impossíveis.

O labirinto da complexidade social

Gelis-Filho também reflete sobre as complexidades sociais, que se tornam um fardo pesado para civilizações que buscam continuar avançando. Na história humana, sociedades crescem criando novas camadas de especialização: de tribos nômades com poucos papéis sociais a impérios com estruturas intricadas de classes e profissões. No entanto, cada camada adicional de complexidade exige mais energia e recursos para ser mantida, e chega um ponto em que os ganhos não compensam mais o esforço.

Joseph Tainter, um arqueólogo que estudou o colapso de várias civilizações, argumenta que a complexidade crescente gera um retorno decrescente, tornando a sociedade mais vulnerável. Esse conceito, aplicado por Gelis-Filho ao contexto astrobiológico, sugere que qualquer sociedade tecnológica, em qualquer lugar do cosmos, enfrentaria esse mesmo dilema. Assim como um edifício que, ao ficar alto demais, ameaça ruir sob seu próprio peso, uma civilização avançada poderia colapsar antes de se deparar com os limites físicos da ciência.

A garrafa cósmica: mensagens à deriva no espaço

Apesar dessa visão pessimista, Gelis-Filho não descarta totalmente a possibilidade de encontrarmos vestígios de outras inteligências. Ele imagina que, mesmo que as civilizações nunca tenham conseguido explorar outras estrelas de forma sustentável, ainda poderiam ter lançado “mensagens na garrafa” pelo cosmos: sondas espaciais perdidas, sinais de rádio esquecidos no espaço profundo ou tecnologias abandonadas, vagando como restos de naufrágios em um mar estelar.

Essa ideia lembra um capitão náufrago, isolado em uma ilha remota, que tenta enviar uma mensagem ao mundo com os poucos recursos que tem à disposição. Talvez algum dia nos deparemos com uma dessas mensagens, um sussurro de uma civilização que, como a nossa, sonhou com as estrelas, mas se deparou com um teto intransponível em seu avanço tecnológico.

Reflexões sobre o destino da humanidade

A hipótese do LUDT levanta questões profundas sobre nosso próprio futuro. Se a evolução tecnológica de qualquer civilização inteligente está destinada a desacelerar e a enfrentar obstáculos intransponíveis, nosso sonho de nos tornarmos uma civilização interplanetária pode ser mais frágil do que imaginamos. Nossa busca pelo conhecimento e pelo espaço talvez seja um pouco como tentar escalar uma montanha infinita, onde a cada passo a inclinação se torna mais íngreme e o ar mais rarefeito.

Ainda assim, enquanto persistirmos nessa jornada, continuaremos a perguntar: será que estamos sozinhos neste vasto universo, ou somos apenas mais uma civilização que, como tantas outras, alcançou o limite de seu próprio horizonte? A resposta pode estar no silêncio das estrelas, ou em um eco distante de uma mensagem perdida, viajando pela escuridão.

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