Uma epidemia devastadora de salmonela atingiu a África Subsaariana recentemente. Por conta da baixa imunidade da população, causada por doenças como a Aids, os pacientes não estão respondendo ao primeiro conjunto de antibióticos usados para combater a doença, o que exige o uso de drogas mais caras no tratamento da condição.
Chamada de salmonela não tifoidal (na sigla em inglês, iNTS, invasive Non-Typhoidal Salmonella), essa é uma forma relativamente nova da salmonela Typhimurium pathovariants, que se espalhou a partir de diferentes focos no centro e sul da África, emergindo em duas ondas separadas, a primeira em 1960 e a segunda em 1977.
Diferente da salmonela comum, que ataca o sistema digestivo e causa uma diarreia, a iNTS é uma infecção do sangue, que mata ente 25% e 45% dos africanos subsaarianos que contraem a mesma, contra 1% dos infectados no resto do mundo.
A razão para ela ser tão letal pode ser desnutrição, infecção paralela com a malária ou com HIV, ou até possivelmente com a nova versão mutante da bactéria salmonela.
Em um novo estudo, pesquisadores analisaram o genoma da bactéria e descobriram que ela está evoluindo para uma forma mais parecida com a tifoide, que se espalha de forma mais eficiente pelo corpo humano.
Esse conjunto de fatores – HIV, malária e desnutrição – permitiu que esta bactéria penetrasse, se adaptasse, circulasse e sobrevivesse. O vírus da Aids forneceu à bactéria da salmonela uma população humana enfraquecida que a permitiu evoluir para uma forma mais letal.
Outro fator importante para o sucesso da disseminação da iNTS foi o desenvolvimento humano de resistência a várias drogas usadas para tratar infecções no sangue (você já deve ter ouvido falar que, quanto mais nós usamos determinados remédios, mais bactérias mutantes que resistem a eles sobrevivem e se reproduzem, as chamadas “superbactérias”).
Mas nem tudo são más notícias. O estudo representa o primeiro uso do sequenciamento completo do genoma para rastrear a disseminação da iNTS, conhecimento que ajudará os pesquisadores a determinem como a doença é de fato transmitida na população africana subsaariana, um mistério ainda não resolvido, embora existam evidências de que ela é transmitida de pessoa para pessoa.[io9, Nature]