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Porque vale a pena sentir o gosto de palavras e ouvir cores

Eu vejo cores e ouço sons. Você provavelmente também. No entanto, algumas pessoas também ouvem as cores e sentem o gosto de palavras, um fenômeno misterioso chamado sinestesia, que ocorre quando um estímulo dos cinco sentidos desencadeia experiências em um sentido não relacionado.

Agora, pesquisadores sugerem que esta característica incomum pode proporcionar inúmeros benefícios mentais, explicando por que a evolução manteve o fenômeno vivo.

Os cientistas descobriram a sinestesia no século 19, ao observar que certas pessoas viam cada número ou letra tingidos com uma cor especial, mesmo que eles fossem escritos em tinta preta. Esta condição, conhecida como sinestesia grafema-cor, é a mais comum das mais de 60 variantes conhecidas da sinestesia.

Embora a sinestesia possa ocorrer devido ao uso de drogas, lesão cerebral, privação sensorial e até mesmo hipnose, pesquisas revelam que 2 a 4% da população em geral experimenta naturalmente a sinestesia. O fenômeno tende a ser herdado nas famílias.

Estudos recentes que analisaram o cérebro de pessoas com sinestesia grafema-cor revelaram que ela é causada por um aumento do número de conexões entre as regiões sensoriais do cérebro.

A principal questão relacionada à sinestesia é por que o fenômeno tem sobrevivido, se não parece fornecer qualquer benefício.

Agora, cientistas estão encontrando respostas a essa questão a partir daqueles que têm a condição – sinestetas.
Por exemplo, a sinestesia é sete vezes mais comum em artistas, poetas e romancistas do que no resto da população.

O neurocientista cognitivo Vilayanur Ramachandran, da Universidade da Califórnia, EUA, e seus colegas sugerem que os genes mutantes responsáveis pela sinestesia podem levar as pessoas a perceber as relações não só entre sensações aparentemente não relacionadas, mas também entre ideias aparentemente sem relação, levando a uma maior criatividade.

Curiosamente, sinestetas às vezes também demonstram habilidades notáveis de memória. Por exemplo, o escritor britânico
Daniel Tammet disse que, para ele, cada inteiro positivo até 10.000 tem a sua própria forma, cor, textura e gosto. Ele usou sua sinestesia para memorizar a constante matemática pi até 22.514 dígitos.

Os cientistas têm sugerido que a sinestesia pode estar ligada com savantismo, incrível experiência, habilidade ou genialidade em uma ou mais áreas, às vezes visto em pessoas com autismo ou outros transtornos mentais.

Além disso, os pesquisadores descobriram que sinestetas que ligam números a cores são melhores que outros em discriminar cores muito semelhantes, enquanto sinestetas espelho-toque – aqueles que experimentam sensações táteis em seu próprio corpo quando veem alguém ser tocado – possuem um sentido mais sensível de toque. Isto sugere que os sentidos dos sinestetas são reforçados de maneira muito sutil.

Os pesquisadores sugerem que a sinestesia pode fornecer pistas importantes para uma melhor compreensão geral da mente humana. A sinestesia pode ser uma variante extrema do processamento multissensorial – isto é, como o cérebro processa a informação de múltiplos sentidos de uma só vez.

Sendo assim, entender as diferenças entre esse tipo exagerado de processamento multissensorial pode ensinar sobre o funcionamento interno de processos normais multisensoriais. Os sinestetas também podem ajudar a entender melhor a neurociência da criatividade.[MSN]

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