Procurando por vida em Marte? Tente no sal ou no gelo

Por , em 27.02.2011

Marte pode estar nos ensinando uma lição importante: nem sempre as coisas estão aonde normalmente deveriam estar.

Os cientistas afirmam que a principal razão para explorar o planeta é determinar se já houve vida lá. Há séculos os astrônomos vasculham o planeta, diretamente (a missão Viking) e indiretamente (todas as outras missões à Marte), sem sorte até agora.

Eis que podemos simplesmente estar procurando nos lugares errados. Hoje, a superfície de Marte é extremamente fria e seca. A radiação cósmica e solar não é impedida pela atmosfera fina e atinge a superfície, e o solo contém oxidantes fortes que destroem compostos orgânicos. Vida mais impossível impossível. Mas não foi sempre assim.

No início de sua história, Marte era mais quente e úmido o suficiente para o desenvolvimento de rios, lagos e oceanos. A atmosfera era mais espessa e havia um campo magnético protetor. A vida teria sido possível no passado. É por isso que as missões futuras procurarão sedimentos antigos, na esperança de encontrar evidências fósseis de vida.

Falar é fácil. Na prática, a história é outra. Para chegar aonde queremos, temos primeiro que encontrar um local promissor para a vida – a partir de uma reconstrução da história marciana. Nós precisamos descobrir se havia água corrente, o tempo e a extensão dessa água, que tipo de minerais foram formados, e se as condições geoquímicas são compatíveis com a vida.

Depois que os locais promissores forem identificados, precisamos descobrir se existem processos físicos ou químicos que poderiam ter destruído evidências fossilizadas e, finalmente, buscar essas evidências.

Isso torna a pesquisa extremamente sofisticada e cara. A NASA pretende lançar este ano um laboratório para estudar tudo isso. Com ele, vem o robô mais avançado já enviado a qualquer planeta. Por volta de 2018, uma missão conjunta da NASA e da Agência Espacial Européia vai enviar duas sondas para a superfície de Marte, que devem retornar além de 2020. O seu valor científico será enorme, mas pode engolir o orçamento da NASA para a década.

Sendo assim, seria essa uma boa estratégia? Talvez não.

Se tomarmos a Terra como exemplo, vemos que a vida é possível nos lugares mais impossíveis. O deserto do Atacama, no Chile, e os vales secos da Antártica parecem sem vida, mas não são. O Atacama é o deserto mais seco do planeta, com apenas um chuvisco ocasional a cada 10 anos ou mais. Os vales secos da Antártica são os mais frios desertos da Terra. A maioria da água está congelada no solo, e a pouca neve que cai sublima antes de derreter. Em ambos os lugares a água líquida, ingrediente chave para a vida, é extremamente rara.

Estes desertos são as analogias mais próximas que temos para a superfície marciana, e nos permitem estudar o que acontece com a vida quando os ambientes são mais secos e mais frios.

Por exemplo, a vida busca refúgio em nichos onde a água líquida ainda pode se formar, mesmo que apenas por um tempo curto de vez em quando. Isso ocorre em dois substratos: sais e gelo.

Sais absorvem vapor de água da atmosfera e formam soluções líquidas a baixa umidade relativa do ar, fenômeno chamado de liquefação. Quando o gelo fica em contato com partículas de sedimento, ele derrete e forma de filmes finos de água líquida que são estáveis, mesmo em temperaturas muito abaixo de zero.

Em outras palavras, sais e gelo expandem a janela de condições físicas em que a água líquida é estável, mesmo quando o ambiente torna-se geralmente inabitável. No Atacama, onde a maior parte da água está na atmosfera, a vida é encontrado dentro de rochas de sal, enquanto que nos vales secos da Antártica é encontrada na interface entre o gelo ou neve e sedimentos.

Não só o sal e o gelo podem permitir a vida, como também são excelentes substratos para a preservação da vida. Antigos depósitos de sal e gelo na Terra contêm compostos orgânicos, biomoléculas complexas e até mesmo células inteiras que foram preservados por milhões de anos.

As boas notícias continuam: há ambientes salgados e de gelo em Marte. Grandes depósitos de sais são comuns no hemisfério sul, e o calote polar norte contém espessas camadas de sedimentos e gelo. Se alguma vez houve vida em Marte, esses são os nichos onde ela poderia ter existido, e onde a vida fóssil seria melhor preservada.

Mais do que boas notícias: uma verificação nesses locais poderia ser feita com pequenas missões de baixo custo. O que será que os cientistas estão esperando? [NewScientist]

10 comentários

  • magoado:

    Nada contra as pessoas que querem ir para marte…mas se eu tivese como me manter [$] ,eu queria passar o resto dos meus anos conhecendo melhor a terra ,conhecendo pessoas diferentes suas culturas seus modos de vidas ,saboreando as culinarias de outros paises[povos]Queria aprender mais sobre a terra onde estou ,com as pessoas que vivem nela,seu rios lagos e lugares exoticos….sem pressa de voltar pra casa porque eu já estou em casa…..!

    • Yahana Hatake:

      Assim como os primeiros desbravadores que “descobriram” a Ámérica, somos nós hoje, descobrindo o que há ao nosso redor. Temos recursos suficientes para conhecer melhor a Terra e os nossos vizinhos do sistema solar, mas como todos nós já sabemos, a ganância de certos indivíduos nos atrasa.
      Eu particularmente acho facinante o trabalho que estão fazendo para achar possíveis moléculas orgânicas fossilizadas, assim como o estudo dos ocêanos, que nos surpreende cada dia mais com descobertas de formas de vida do mais variado tipo em lugares que só poderiamos sonhar. Particularmente, acho que cada um tem que fazer sua parte, a ciência que estuda possíveis formas de vida ETs (extraterrestres) gasta seu tempo e recurso no que bem entender, assim como todas as outras ciências. Não digo que estou certa em afirmar isso, porém é a minha opinião, se é que em um mundo como o nosso opinião faz algum sentido.

  • Walter:

    Porque insistem em Marte?
    Primeiro, nós precisamos saber o que está ao nosso redor pra ir pra outros lugares mais distantes.
    Segundo, é o planeta do qual a gente mais sabe(tirando o nosso), e ficaria muito mais caro ir até vênus.Se a NASA vai gastar quase todo o seu orçamento pra ir até Marte, imagina pra ir até Vênus.

  • Jack Harry Baker:

    você e muito apaixonado por eles, você não tem a sua própria opinião , sinto muito falar isso mas é a verdade.

  • Almir:

    O Sol é uma estrela!
    Até onde sabemos a física das estrelas é bem conhecida pelos astrofísicos. Sem chances de vida similar a nossa.
    Marte é o escolhido por ser o planeta onde é possível encontrar habitats mais semelhantes onde existe vida (ou existiu) como na Terra. Lá a procura por vida realizada pelos Lander foi muito tímida e mesmo assim obtivemos resultados tidos como inconclusivos. Marte também é um forte candidato a uma colônia humana e só por isso o estudo do planeta é tido como muito importante.
    Outro lugar que promete sem dúvida é a lua de Júpiter Europa. Essa também seria uma boa aposta para a busca.

  • Jack Harry Baker:

    sabe , porque só marte? porque logo ali? se muitas pesquisas que já fizeram deu negativo,pra que ficarem ali? a bilhões de planetas e escolhem 1 só pra fica décadas tentando descobrir algo e nunca recebem nenhum positivo de lá.Existem sim com certeza outros planetas com vida , é impossível ser só o Planeta Terra ter vida, as vidas por esses planetas podem ser diferente claro,mas não existe essa de que a terra é o único planeta com vida, vejamos o sol a gente não sabe nada dele ninguém sabe mesmo , dizem ai que sabem e tal , mas não sabem
    vai me dizer que essa camada que ele tem não pode ser um proteção pra algum planeta? como a nossa camada de ozônio, a nossa é invisível, mas lá não talvez seja um planeta que nunca quer ser descoberto a gente não sabe de nada da nossa vida , essas pesquisas apontam cada coisa que você fica besta tem coisas que da pra concordar, mais tem algumas que pelo amor de Deus. obrigado essa e a minha sugestão se não gosto , que se dane.

  • Almir:

    O Crítico só mais uma coisa.
    Se a vida existiu em Marte posso apostar com quase certeza que ela ainda existe no planeta. Ela pode, e deve estar, refugiada no subsolo do planeta. No caso poderia ser Arqueobactérias metanogênicas que produziriam metano como subproduto. E é justamente a presença hoje de metano em Marte que sugerem a possibilidade dessa vida existir.

  • Almir:

    O problema principal de Marte não é a sua gravidade. O maior problema é que o seu pequeno tamanho fez com que o seu dínamo durasse pouco tempo. Por volta de 3,5 bilhões de anos atrás ele parou de funcionar. Com isso o campo magnético global que envolvia o planeta acabou e as erupções vulcânicas também acabaram. Os próximos bilhões de anos o vento solar fez o serviço e varreu boa parte da sua atmosfera que já não era renovada e protegida. É bem verdade que se especula que grandes colisões no passado aceleraram o processo levando boa parte da sua atmosfera.
    Já quanto a Vênus já li em algum lugar que a quantidade de água original no planeta era inferior ao que se supõe que se tinha na Terra primitiva. Talvez esse possa ser um dos motivos que levou ele ao que é hoje. Um pequeno reservatório de água seria insuficiente para capturar o CO2 atmosférico em carbonato nos oceanos venusianos e evitar o efeito estufa que fatalmente ocorreria com o aumento da idade do Sol e seu aumento de luminosidade.

  • Joni:

    Por enquanto, isso não muda nada na minha vida… bem, até 2020 podemos fazer grandes descobertas. Fico no aguardo.

  • O Crítico:

    É triste saber, que se já ouve vida em Marte ela talvez já não exista.
    Marte e Vênus tinham muito potêncial para a vida.

    Marte tem o tamanho errado, sua fraca gravidade faz com que tenha uma atmosfera fina e deixa o planeta vunerável a radiação solar.

    Vênus está no lugar errado, tem a mesma quantidade de carbono que a Terra, mas está muito perto do Sol, o carbono virou nuvens de dióxido de enxofre criando um efeito estufa descontrolado.

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