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Psicopata e sociopata: qual a diferença entre eles?

Você já deve ter se deparado com manchetes do tipo “7 sinais de que seu chefe pode ser um psicopata” ou “Como escapar do sociopata do andar de baixo”. Em tempos de redes sociais, não faltam artigos revelando os sinais de alerta para esses perfis comportamentais. Mas, por que esses termos – psicopata e sociopata – aparecem com tanta frequência como se fossem sinônimos? E, mais importante, existe realmente uma diferença significativa entre eles?

Mesmo o lendário Hannibal Lecter, o infame assassino canibal de O Silêncio dos Inocentes, passou por essa confusão. No livro, ele é descrito como um “sociopata puro”. Já na adaptação cinematográfica, ele é chamado de “psicopata puro”. A verdade é que, na vida real, os psiquiatras talvez optassem por um diagnóstico completamente diferente.

A Psicopatia em Perspectiva

A psicopatia é discutida na literatura psiquiátrica desde o século XIX. No entanto, se você pegar a edição mais recente do famoso Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (ou DSM, para os íntimos), não verá a psicopatia listada como um transtorno clínico oficial.

Com o passar das décadas, os rótulos mudaram. Desde os anos 1950, o termo “distúrbio de personalidade sociopática” deu lugar ao transtorno de personalidade antissocial, o rótulo que usamos atualmente. Quem apresenta esse transtorno tem um padrão consistente de desrespeito pelos direitos alheios, que inclui desde a violação da lei até o envolvimento frequente em brigas e comportamento irresponsável, sem se importar com as consequências.

O DSM menciona traços tanto de psicopatia quanto de sociopatia dentro do transtorno de personalidade antissocial. Esses traços, no entanto, não são considerados transtornos mentais por si só, mas sim características associadas ao transtorno.

O psiquiatra Hervey Cleckley foi o primeiro a descrever formalmente os traços da psicopatia em 1941, após estudar pacientes em um hospital psiquiátrico. Ele observou características como charme superficial, falta de remorso e uma capacidade impressionante de ser inescrupuloso sem perder o sono à noite. Décadas depois, o psicólogo Robert Hare refinou essas observações, destacando também traços emocionais e comportamentais, como a manipulação e a ausência de empatia.

Um psicopata típico, portanto, é alguém que exibe uma mistura de carisma vazio, manipulação constante, grandiosidade e um desinteresse completo pelas consequências das próprias ações. Se adicionarmos a isso uma falta de empatia, um tédio constante e uma irresponsabilidade persistente, temos o pacote completo.

O Que Define um Sociopata?

Já o termo “sociopata” apareceu pela primeira vez nos anos 1930, graças ao psicólogo George Partridge, que estava mais interessado em entender como o comportamento dessas pessoas impactava a sociedade ao seu redor. Ele destacou que a sociopatia envolvia uma tendência a violar repetidamente os direitos dos outros. Mas por que a diferença de nome? Muitos profissionais preferiam “sociopata” a “psicopata”, porque o público frequentemente confundia psicopatia com psicose – o que, convenhamos, é bem diferente.

Na primeira edição do DSM, publicada em 1952, o transtorno de personalidade era rotulado como “distúrbio de personalidade sociopática”. Essa terminologia refletia as crenças predominantes da época: que comportamentos antissociais eram fortemente influenciados pelo ambiente social e julgados como desviantes quando desafiavam normas legais ou culturais. Em suma, se você fosse uma pessoa que constantemente quebrava as regras da sociedade, parabéns, você seria visto como um sociopata.

Com o tempo, os termos mudaram, e a sociopatia foi caindo em desuso, sendo engolida pelo conceito mais amplo de transtorno de personalidade antissocial.

Nascidos Para Isso ou Produtos do Meio?

Tanto a psicopatia quanto a sociopatia, que hoje chamamos de transtorno de personalidade antissocial, são resultado de uma complexa combinação de fatores biológicos, psicológicos e ambientais. No caso dos psicopatas, estudos mostram que eles têm certas diferenças cerebrais, especialmente em regiões associadas às emoções e ao controle de impulsos. Eles também apresentam um sistema nervoso peculiar – por exemplo, a frequência cardíaca reduzida em situações que normalmente causariam estresse nos outros.

Por outro lado, os comportamentos sociopáticos tendem a ser mais influenciados pelo ambiente. Pessoas que cresceram em famílias com altos níveis de conflito, abuso físico e instabilidade emocional têm maior probabilidade de desenvolver esses traços. A herança familiar também pode desempenhar um papel importante.

Os Impactos na Sociedade

Embora personagens como Hannibal Lecter e Villanelle (da série Killing Eve) façam parecer que todo psicopata é um assassino em série, a realidade é bem menos cinematográfica. Não é todo psicopata ou sociopata que vai se tornar fisicamente violento. Porém, estudos mostram que a psicopatia está fortemente associada à reincidência criminal, especialmente em crimes violentos.

No mundo “civil”, a psicopatia está frequentemente ligada a dependência de substâncias, falta de moradia e outras desordens de personalidade. Pesquisas até sugerem que psicopatas tinham maior tendência a desobedecer restrições de saúde pública durante a pandemia de COVID.

Em contraste, a sociopatia não é vista como um indicador tão claro de risco de comportamento antissocial futuro. Suas raízes no ambiente social dificultam a previsão de quando e se uma pessoa com esses traços vai realmente causar dano a outros.

Em Resumo

Nem a psicopatia nem a sociopatia são oficialmente classificadas como transtornos mentais em manuais psiquiátricos. Ambos os termos se referem a características de personalidade ligadas a comportamentos antissociais e falta de empatia. Enquanto a psicopatia parece ter bases mais biológicas e psicológicas, a sociopatia está mais ligada ao ambiente social em que a pessoa cresceu.

Entre os dois, a psicopatia se destaca como o traço que melhor prevê se uma pessoa é mais propensa a causar danos graves aos outros. Portanto, da próxima vez que alguém te perguntar se o vizinho estranho é psicopata ou sociopata, você já sabe – não é uma questão simples, mas pelo menos você pode explicar a diferença com um toque de humor. Afinal, é sempre bom se manter leve ao discutir temas pesados! [The Conversation]

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