Pesquisadores da Universidade de Leeds (Inglaterra) anunciaram um estudo de imensas relações entre causa e efeito. No caso, uma queda na polinização de vegetais, por parte dos insetos, pode dar origem a uma crise alimentar, já que haverá queda na produção. Poderia parecer um problema de pequeno porte, se estivéssemos falando de um vilarejo, ou de uma pequena área geográfica. Mas o local onde isso foi verificado é a Índia, com seu 1,1 bilhão de habitantes, onde a fome já é uma das principais preocupações vigentes.
Um cálculo da universidade deu a noção de quanto a polinização representa financeiramente na produção agrícola: 224 bilhões de dólares (equivalente atual a 375 bilhões de reais) no mundo, anualmente. A Índia, que produz 7,5 milhões de toneladas de vegetais anuais (ficando em segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas da outra gigante, a China), representa 14% da produção total, o que sugere que uma eventual crise vai afetar muito mais gente do que os indianos. Ainda não está claro porque está havendo menos polinização de flores no país. Os números mostram também que a agricultura representa quase um quinto do produto interno bruto do país (PIB), enquanto a média mundial é de apenas 6%. O setor também oferece meios de subsistência para mais de metade da população da Índia, quase 600 milhões de pessoas.
Dentro da índia, também há uma universidade empenhada em descobrir mais sobre o problema. É a Universidade de Calcutá, que lamenta a falta de dados técnicos. O que existe é uma constatação de que os insetos têm visitado pouco as flores, mas não há levantamentos sobre isso em tempos, passados, para saber se há uma efetiva diminuição dessa taxa.
É claro que nem todas as plantações são dependentes da polinização de insetos. Uma das mais importantes, a de cereais, não precisa contar com eles, e está livre deste suposto problema. Mas há muitas outras plantações que necessitam da visita de abelhas, tais como abóbora, abobrinha, pepino e maxixe (um vegetal de parentesco com o pepino, muito apreciado na Índia). E esta visita parece estar declinando.
Para descobrir mais a respeito, os pesquisadores esquematizaram uma espécie de “agricultura ecológica”, na qual se busca os métodos mais naturais possíveis, caso da polinização. O resultado, segundo os pesquisadores, é que houve uma “indicação clara” de que a Índia está enfrentando um declínio no número de polinizadores naturais. Cerca de 10% a 20% dependem diretamente deste tipo de cultura.
Pouco mais de 100 espécies vegetais são responsáveis por 90% do abastecimento de alimentos para 146 países. Destas cem, 71 são polinizadas por abelhas, principalmente por abelhas selvagens, e uma pequena parcela é polinizada por outros insetos. Preocupada com esses números, a ONU lançou um alerta: “qualquer perda de biodiversidade é uma questão de interesse público, mas a diminuição do número de insetos polinizadores, em particular, pode ser algo problemático devido aos potenciais efeitos sobre a reprodução da planta. Consequentemente, isso afeta a segurança do abastecimento alimentar”. A causa exata desse problema, no entanto, continua sendo um mistério. [BBC News]