Viver pressionado pelo tempo, ser hostil, ter baixa autoestima, fazer esforço sem alegria. O que essas quatro coisas têm em comum?
São características que definem um tipo de personalidade conhecido como tipo A, descoberto nos anos 1950 por dois cardiologistas. E podem te matar mais rápido que fumar, ter pressão alta e estar acima do peso.
Personalidade estressante
De acordo com o neurobiólogo e primatologista Robert Sapolsky, da Universidade de Stanford (EUA), foi difícil para a comunidade médica aceitar o que Meyer Friedman e Ray Rosenman estavam propondo na época.
Nos anos 1950, a relação entre estresse e doença cardiovascular não era tão bem estabelecida, e os cardiologistas não tinham costume de conversar sobre questões psicológicas com seus pacientes.
“Não foi até a década de 1980 que havia dados suficientes para as pessoas dizerem que o tipo A é real. É um fator de risco maior para doenças cardiovasculares do que se você fuma, se está acima do peso e se tem níveis elevados de colesterol”, disse Sapolsky ao Scientific American.
A descoberta
A melhor parte da história é como Friedman e Rosenman descobriram o tipo estressante de personalidade A: com a ajuda de um estofador.
Sapolsky ouviu a história da boca do próprio Friedman. “Ele e seu parceiro tinham um consultório em San Francisco. Tudo ia muito bem, exceto por um problema. As poltronas da sala de espera se desgastavam a uma taxa incrivelmente alta. Todo mês um estofador ia lá consertar uma cadeira ou duas. Em um determinado mês, ele entrou de férias. Um segundo estofador foi até o consultório, deu uma olhada nas cadeiras e descobriu a personalidade do tipo A. Ele disse: ‘O que há de errado com seus pacientes? Ninguém gasta cadeiras dessa maneira’”, contou Sapolsky.
E que maneira era essa? Bom, os primeiros centímetros da almofada do assento e os apoios de braço ficavam totalmente rasgados, enquanto o resto da poltrona ficava intacta.
Isso significa que um paciente com personalidade tipo A literalmente sentava na beira do assento, arranhando os apoios e se contorcendo de preocupação enquanto esperava para descobrir se havia más notícias.
Sequer Friedman deu bola para o estofador de começo. Ele mesmo era muito tipo A para acreditar em tal relação.
Cinco anos mais tarde, no entanto, convencidos de que cadeiras de podólogos não tinham o mesmo desgaste, Friedman e Rosenman finalmente se reuniram com psicólogos para criar o perfil do tipo A e delinear a associação entre uma vida estressante e problemas cardiológicos.
Graças a um estofador. [ScientificAmerican]