Miscigenação: provavelmente, ratos de diferentes países se cruzaram, produzindo uma versão assustadora e “superior” da espécie, que é resistente a um veneno comum para roedores.
A descoberta demonstra como a hibridização pode ocorrer naturalmente entre os animais, produzindo indivíduos não estéreis com atributos benéficos. Neste caso, o resultado é um rato resistente a varfarina, um ingrediente tóxico, e geralmente mortal para muitos roedores.
Híbridos muitas vezes não podem se reproduzir. Há ocasionais hibridizações que acabam em uma nova e acertada combinação de genomas de duas espécies, que as torna, pelo menos temporariamente, superiores à espécie pura.
Os pesquisadores foram convidados para estudar ratos de uma padaria alemã. Os proprietários da padaria haviam chamado um especialista em controle de pragas para lidar com os pequenos roedores que infestaram o porão. O especialista tentou matar os ratos com bromadiolona, uma versão da varfarina, mas a química sequer os incomodou.
As amostras foram enviadas a um laboratório, onde foi feito uma análise genética. Os pesquisadores descobriram que uma grande parte do DNA dos camundongos alemães era idêntica ao de uma espécie que mora no deserto da Argélia. Este sagaz rato argelino já tinha desenvolvido imunidade à varfarina através de um processo chamado de “ponto de mutação” – quando os genes se adaptam por meio de mutações espontâneas durante a replicação do DNA.
Os pesquisadores acreditam que os ratos argelinos mutaram por conta de uma alimentação deficiente em vitamina K. O gene que faz com que os ratos sejam resistentes ao veneno também administra a vitamina no corpo.
Provavelmente, os ratos argelinos acasalaram com os ratos europeus, conferindo a resistência ao veneno para eles. Este processo é chamado de “transferência horizontal de genes” e normalmente é visto em micróbios.
Essa transferência dá mais variações no genoma da população do que de outra forma, como mutação simples, e pode acelerar a evolução.
Também, os seres humanos parecem ser a condução do processo. Os ratos de diferentes regiões provavelmente não teriam se conhecido se não fossem espalhados por causa das práticas agrícolas. O uso não profissional e indiscriminado de pesticidas parece ter favorecido a evolução e a disseminação de ratos e camundongos resistentes.
Mas a única coisa nova relatada no estudo é que esse uso também permitiu um processo de hibridização que transformou em vantajoso algo que geralmente não é.
A mutação genética que faz com que os ratos sejam resistentes ao veneno também provoca a calcificação arterial e osteoporose nos seres humanos. Ainda não está claro se eles também sofrem com esses problemas de saúde. Por enquanto, os roedores permanecem “superiores” sobre os ratos que ainda são vulneráveis à toxina comum.
O fator humano é bastante claro neste estudo. Uma das preocupações em preservar da biodiversidade é cuidar com a propagação de espécies invasoras em todo o mundo. Essa pesquisa expressa a urgência em acabar com o uso inconsciente de venenos antipragas, que no final das contas acabam criando novas pragas.[MSN]