Recife de corais de 1.000 km é descoberto na foz do Rio Amazonas

Por , em 24.04.2016

Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu um longo recife de corais de 1.000 km na foz escura e barrenta do rio Amazonas, de acordo com novos relatórios.

A incrível descoberta prova que não importa o quão bem nós pensamos que mapeamos a superfície do nosso planeta, ainda há segredos a serem descobertos. Neste caso, uma enorme, esponjoso e florescente recife de corais que parece se esticar a partir da ponta sul da Guiana Francesa todo o caminho até o estado nordestino do Maranhão.

O anúncio também vem num momento em que nós estamos com um nível incrivelmente baixo de esperança nos recifes de coral em todos os lugares – os cientistas admitiram esta semana que 93% da Grande Barreira de Corais já está empalidecida, e grandes porções dela podem não se recuperar. Portanto, a descoberta de um novo recife é uma boa notícia. Mas como ele ficou tanto tempo sem que ninguém o visse?

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Desconfiança antiga

O local foi capaz de se manter escondido tão bem porque a foz do Amazonas é uma grande confusão. De toda a água que flui de rios da Terra para os oceanos da Terra todos os dias, cerca de um quinto está na foz do Amazonas.

Com essa água, vêm nutrientes, resíduos e matéria orgânica coletados ao longo das sinuosas viagens de 6.992 km do rio através das florestas e terras da América do Sul. E no momento em que estes materiais atingem a água, eles trazem consigo um monte de lama e desencadeiam uma abundância de algas, sendo que ambos turvam a água da ravina.

“Eu meio que ri quando o oceanógrafo brasileiro Rodrigo Moura (da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ) falou para mim sobre a procura de recifes. Quero dizer, é escuro, é lamacento – é o rio Amazonas”, conta Patricia Yager, uma das pesquisadoras envolvidas. “Mas ele mostrou um artigo de 1977, dizendo que esses pesquisadores conseguiram pegar alguns peixes que indicariam que haviam recifes lá. Ele disse: ‘Vamos ver se podemos encontrar eles’.”

Ajuda bem-vinda

O documento em questão, produzido há quase 40 anos, descrevia espécies de peixes de recife e esponjas sendo dragados da foz do Amazonas – e estas espécies são únicas da flora e fauna tropical que você encontraria nas ilhas do Caribe.Mas, desde então, ninguém tinha realmente dado muita atenção a este fato, uma vez que as chances de encontrar um recife de coral no Amazonas seriam muito pequenas.

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Yager nem estava na Amazônia para procurar por um recife de corais. Ela estava usando o navio de pesquisa RV Atlantis para analisar a forma como a pluma do rio Amazonas – a água do rio que invade o oceano – estava afetando a absorção de dióxido de carbono no oceano. Mas, para obter a aprovação para o estudo da foz do Amazonas ela precisava envolver oceanógrafos brasileiros no estudo, e um desses, Rodrigo Moura, pediu sua ajuda para procurar o recife enquanto eles estavam lá.

Para surpresa de todos, quando colocaram para baixo a draga, ela voltou com esponjas, estrelas e peixes. “Fiquei espantada, assim como o resto dos 30 oceanógrafos”, diz Yager.

Adaptação

A descoberta faz com que o recife seja o mais setentrional conhecido no Brasil, Meyer relata. O mais surpreendente é o fato do recife poder simplesmente existir, considerando o fato de que toda a lama na pluma amazônica mantém ele protegido do sol a maior parte do tempo. Mas as pesquisas de Moura e outros cientistas brasileiros têm sugerido que a biologia dos recifes sofre alterações dependendo da sua localização, e de quanto sol eles pegam.

“O trecho sul só é coberto pela pluma três meses do ano, de modo que seus arredores podem completar mais fotossíntese. (A maioria dos corais vivem em relações simbióticas com algas fotossintéticas que habitam os seus poros.) O trecho sul contém mais staghorns (uma espécie de coral conhecida como “chifre de cervo”) e outros corais coloridos, muito parecido com o que imaginamos quando pensamos em um recife de corais”, diz Yager. “A parte norte, dominada por esponjas e criaturas carnívoras, é protegida da luz solar pela pluma barrenta mais da metade do ano”, explica.

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Ainda não existem muitas informações sobre o novo recife – a descoberta ainda vai ser publicada na revista Science. Mas Rebecca Albright, oceanógrafa e pesquisadora de corais do Instituto Carnegie para a Ciência, nos EUA, que não esteve envolvida no estudo, afirma que a descoberta é algo muito grande.

“Tradicionalmente, a nossa compreensão dos recifes concentrou-se em recifes de corais rasos tropicais que abrigam biodiversidade que rivaliza com a das florestas tropicais”, disse ela. “O novo sistema de recife amazônico descrito neste trabalho é outro exemplo de um recife marginal que anteriormente não sabíamos que existia”, confirma ela. [Science Alert]

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