Uma pesquisa arqueológica em um local da I Guerra Mundial, na Turquia, conseguiu encontrar até o momento um labirinto de trincheiras e algo em torno de 200 artefatos que oferecem pistas para a vida das tropas em Gallopoli, um campo de batalha que durou oito meses.
A sondagem é uma das mais amplas já feitas de um campo de batalha.
Em 25 de abril, de 1915, menos de uma hora após o início da Primeira Guerra, as Forças Aliadas – da Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra e França – chegaram à península de Gallipoli, hoje parte da Turquia. Quase um século atrás, essa terra pertencia ao Império Otomano, um aliado da Alemanha e dos Poderes Centrais.
A pesquisa está acontecendo no campo de batalha de Anzac, que tem em torno de sete quilômetros quadrados. Lá, o Exército da Austrália e da Nova Zelândia (conhecido como os Anzacs) enfrentaram as tropa do Império Otomano até 19 e 20 de dezembro de 1915, quando os Anzacs se retiraram.
Como nas outras batalhas da Guerra, tropas se enfrentaram em trincheiras cavadas fundo no solo. Algumas delas, encontradas perto da linha de frente do campo de batalha de Anzac, eram tão caóticas que seria difícil de mapear mesmo usando técnicas modernas, afirmam os pesquisadores.
As trincheiras de ambos os lados ficavam incrivelmente perto uma da outra, principalmente por culpa do terreno resistente, que tornou o sistema de trincheiras dessa região muito mais desordenado do que os da Europa ocidental, comenta Richard Reid, do Departamento para Assuntos dos Veteranos, e Ian McGibbon, Ministro da Cultura e da Herança da Nova Zelândia, ambos historiadores trabalhando no projeto.
As trincheiras da frente eram ocupadas todas as horas, já que os dois lados estavam tão próximos (9 a 18 metros). Em um dos pontos do campo de Anzac, chamado de Posto Quinn, ambos os lados constantemente jogavam bombas, então as tropas eram constantemente trocadas.
A pesquisa, parte da segunda sessão de trabalho de campo no local, também descobriu o topo de uma fileira de terraços construídos para abrigar as tropas aliadas no Posto Quinn. “Essa descoberta foi uma ótima surpresa, pois se temia que a erosão tivesse destruído as construções”, comentam.
“Em termos de arqueologia, os achados mais significantes são talvez relacionados às condições de vida dos dois lados – os hábitos de comer e beber das tropas. Um forno turco foi encontrado, além de 200 relíquias da luta, indo de balas até cantis com buracos de tiro”.
Isso inclui pedaços de recipientes médicos, containers que abrigavam comida, como sardinhas e geleia, muita munição, e fragmentos de arame farpado. Parece que as tropas turcas possuíam mais acesso à comida recém-cozinhada do que as aliadas, onde latas de comida eram abundantes.
“Apesar da importância histórica do campo de Gallipoli, nosso conhecimento da área era baseado em mapas e textos. Ele nunca havia sido estudado em detalhes, usando tecnologia moderna de pesquisa arqueológica”, disse o Ministro para os Assuntos dos Veteranos da Austrália, Warren Snowdon.
A pesquisa, que já dura cinco anos, e é conjunta entre a Austrália, Turquia e Nova Zelândia, é uma das maiores já feitas em um campo de batalha.
Escavações revelaram quase 5.719 metros de trincheiras, 16 cemitérios, algo em torno de 200 artefatos e numerosos túneis, abrigos e outros. A próxima sessão de trabalho no campo está planejada para setembro de 2012.
De uma perspectiva militar, os turcos venceram a campanha, mas perderam mais de 80 mil soldados. McGibbon e Reid comentam que o exército Otomano nunca se recuperou realmente desta perda, e teve que aceitar a derrota em 1918. Mas em última instância, a campanha foi importante para o desenvolvimento da Turquia moderna, Nova Zelândia e Austrália.[LiveScience]