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Seremos Dominados Pelas Máquinas?

PARTE 2 – O ROBÔ COMO PATHOS (leia a Parte 1 – O Robô como Ameaça)

O grande ficcionista Isaac Asimov dividiu as histórias de ficção científica sobre robôs em três grandes grupos:

  1. O robô-como-ameaça: algo que pode ser resumido por “clangue clangue” e “Ah!” e “Há certas coisas que os homens não estavam destinados a saber”.
  2. O robô-como-pathos: a máquina é apenas uma ferramenta que pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. Nas histórias de FC os robôs desse tipo são geralmente amáveis, porém manobrados por seres humanos cruéis.
  3. O robô como produto industrial regulamentado: uma ferramenta que responde não apenas à sua programação, mas que também cumpre rigorosas normas de segurança (aquelas que, por exemplo, o impeçam de ferir ou destruir sistematicamente seu criador).

Na primeira parte de nosso artigo, publicada na semana passada discorremos sobre esse primeiro desdobramento na tentativa de responder a pergunta polêmica que vez por outra me é apresentada em palestras e seminários:

Seremos dominados pelas máquinas?

Do ponto de vista social, como dissemos anteriormente, existe uma preocupação crescente quanto ao desaparecimento do emprego, tendo em vista que historicamente se observa a substituição do trabalho humano pela automação.

Parece natural que a atividade braçal na lavoura e na indústria (só para citar esses dois exemplos) venha a ser substituída pela máquina em detrimento de todas as vantagens que esta substituição representa. É indiscutível que a necessidade tanto do aumento da produção quanto da redução dos custos (e consequente redução dos preços de seus produtos) tornam esse expediente imprescindível.

Porém o espectro do desemprego acena com suas consequências nefastas em uma matemática muito simples. Quando o trabalho realizado por dezenas de homens (e em alguns casos centenas) passa a ser realizado por apenas um homem — aquele que pilota a máquina, por exemplo — o que será feito desses 9 ou 99 desempregados?

Alguém há de contrapor que devemos capacitar esses trabalhadores para a realização de tarefas “menos braçais” e deixar que a máquina realize todo o trabalho pesado.

No entanto, quando as atividades “menos braçais” começam a ser perscrutadas pelos analistas de inteligência artificial (IA) e sistemas assistidos por computador principiam a execução com eficiência de muitas tarefas notadamente humanas, o imaginário popular novamente se inflama. Em países desenvolvidos muitos empregos já desapareceram — como é o caso dos cargos de “escriturário” e “caixa de banco” tendo em vista a criação de sistemas automatizados como “portais de serviços na internet” e “caixas eletrônicos”.

Num cenário pessimista muitos analistas projetam um futuro onde boa parte dos empregos desaparece, pois estas atividades serão executadas por máquinas.

Parece que o modelo “robô-como-pathos” se aplica de forma sutil neste cenário pós-moderno, apresentando o robô, ou a máquina de modo geral, como personagem útil e servil. Em primeira instância a máquina é uma mera ferramenta de uma artimanha cruel onde o grande capitalista assume o papel do vilão, que além de escravizá-la, reduz a maioria da população àquela massa subjugada de desempregados cuja mão de obra de reserva serve para puxar para baixo os valores dos salários (aqueles que o vilão ainda se obriga a pagar) e com isso aumentar mais e mais seus lucros.

Essa tese defendida por alguns teóricos da conspiração pode ser facilmente rebatida pela simples avaliação da economia de mercado. Em primeiro lugar, se o elo mais fraco da corrente produção-consumo for o salário, uma população sem poder aquisitivo fará com que boa parte dos produtos sobre nas prateleiras. Se não houver venda não haverá lucro.

É lógico intuir que a política do “ganha-ganha” é muito mais sustentável. Uma economia na qual o trabalho seja valorizado de tal forma que o trabalhador possa, com seu salário, usufruir dos bens de consumo oferecido pela sociedade, faz com que a riqueza circule e os lucros aumentem pela demanda e não pela especulação. Pode parecer utópico, mas isso já acontece em muitos países.

E onde entra a máquina nesta equação?

Como instrumento do aumento da produção e da redução dos custos. Além é claro de contribuir para a melhoria das condições de trabalho.

E o desemprego?

A palavra chave é a humanização. Não apenas para o mundo do trabalho. Mas também para esse novo mundo que se inicia. O mundo da informação e da interconexão.

O mundo onde o fator humano será o primordial, onde reinará a criatividade e a capacidade do ser humano em viver sua humanidade.

Mesmo na minha área principal de atuação que é a educação, já fui questionado várias vezes por desenvolver ambientes de ensino e aprendizagem assistidos por computador usando recursos da inteligência artificial.

Um colega professor me questionou se aquilo que eu desenvolvia não iria contribuir para a extinção da profissão de professor. Afinal um recurso multimídia capta melhor a atenção dos alunos e oferece estratégias extremamente eficazes — tornando as aulas muito mais produtivas.

Em sua forma de pensar, meu trabalho na criação de softwares educacionais contribuiria para que num futuro não muito distante os professores se tornassem obsoletos e fossem substituídos por computadores.

Eu devolvi a pergunta:

— Será que um professor que realiza um trabalho repetitivo, impessoal e automatizado não merece ser substituído por um computador?

Um robô que toca violino não substitui o artista. Um violinista de verdade não pode ser definido apenas pelo conjunto de suas habilidades técnicas. Ele toca seu instrumento também com o coração.

A meu ver, o ser humano que estiver cultivando em si mesmo todas as qualidades que o definem como tal nunca será substituído por uma máquina.

Afinal, nas palavras da poetisa Helena Kolody – um computador é incapaz de programar ternura.

[Foto por Tucia]

LEIA SOBRE O LIVRO A COR DA TEMPESTADE do autor deste artigo

Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa Mustafá Ali Kanso, nesse seu novo livro “A Cor da Tempestade” premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove.

Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” juntamente com obras de Lygia Fagundes Telles foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

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