A Skynet, o sistema fictício que entra em guerra com a humanidade nos filmes Exterminador do Futuro, tem ao longo do tempo se transformado em uma espécie de gíria da cultura pop que simboliza o medo das pessoas de um futuro distópico dominado pelas máquinas. Mas todos nós sabemos que isso é pura ficção, certo?
Nem tanto. A Skynet é uma entidade real. O nome é usado para um programa de vigilância tecnológica sob o controle da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), aquela mesma acusada de vigiar meio mundo, inclusive o Brasil.
Segundo um artigo publicado pelo site The Intercept, Skynet é um programa de segurança da NSA muito real que monitora os padrões de localização e comunicação de suspeitos de interesse através da colheita de metadados de redes móveis e registros de chamadas em massa. O relatório detalha como o jornalista e correspondente da rede árabe de comunicação Al Jazeera, Ahmad Muaffaq Zaidan, foi marcado como um alvo pelo sistema Skynet como suspeito “mensageiro” de informações entre agentes terroristas.
Combinação de dados
Em apresentações de PowerPoint internas fornecidas pelo denunciante da NSA e ex-empreiteiro da CIA, Edward Snowden, o programa Skynet é definido como um “esforço de pesquisa colaborativa em nuvem. A Skynet aplica complexas combinações geoespaciais, geotemporais, de padrão de vida e análise de viagens para identificar padrões de atividade suspeita”.
Os documentos ultrassecretos descrevem como o sistema Skynet analisa os movimentos e comportamentos de usuários de telefones celulares para determinar pessoas com pontuações altas, que são consideradas prováveis candidatas a mensageiros terroristas. Em um dos slides, Zaidan é identificado pelo sistema como o “seletor de pontuação mais alta que viajou para Peshawar e Lahore (Paquistão)”. Debaixo de sua imagem, Zaidan é descrito como um membro da Al Qaeda e da Irmandade Muçulmana, que “trabalha para Al Jazeera”.
Uma das apresentações, “Skynet: Courier Detection via Machine Learning”, algo como “Skynet: Detecção de Mensageiro via Aprendizado Maquinal”, explica como “estamos à procura de pessoas que usam telefones diferentes de formas semelhantes. De metadados GSM, podemos medir aspectos de cada seletor de padrão de vida, rede social e comportamento de viagem”.
Violação da liberdade de imprensa
Zaidan, que por causa da natureza do seu trabalho entrou em contato com (e entrevistou) vários chefes do Talibã e da Al Qaeda, incluindo Osama bin Laden, negou adesão a Al Qaeda e a Irmandade Muçulmana e criticou os métodos de vigilância secretas que o rotularam como um terrorista.
“Para nós, para sermos capazes de informar o mundo, temos de ser capazes de contatar livremente figuras relevantes no discurso público, falar com as pessoas cara a cara, e reunir informações críticas. Qualquer indício de vigilância do governo que impede este processo é uma violação da liberdade de imprensa e prejudica o direito do público de ser informado”, disse ele ao The Intercept. “Afirmar que eu, ou qualquer jornalista, tem qualquer afiliação com qualquer grupo por conta de sua agenda de contatos, registros de chamadas de telefone ou fontes é uma distorção absurda da verdade e uma total violação do jornalismo”.
Além das implicações práticas para jornalistas investigativos, as revelações fornecem mais uma prova das maneiras com que os metadados armazenados podem ser utilizados contra pessoas inocentes.
O lado bom é que pelo menos esta Skynet não está única e exclusivamente se ocupando com a criação de robôs assassinos, não é mesmo? [Science Alert]