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Um a cada três cânceres detectados por mamografia nunca ameaçariam a vida da paciente

Segundo um novo estudo conduzido pelo Dr. H. Gilbert Welch, da Escola Médica de Dartmouth (EUA), e pelo Dr. Archie Bleyer, da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon (EUA), uma em cada três mulheres diagnosticadas com câncer de mama (de 50.000 a 70.000 casos por ano) tem um tumor que é tão pequeno e cresce tão lentamente que jamais causaria problemas, mesmo que nunca fosse tratado.

O câncer de mama é o câncer que mais atinge mulheres e as causa morte por câncer em todo o mundo. Cerca de 1,4 milhões de novos casos são diagnosticados por ano.

Sendo assim, a mamografia tem se tornado uma ferramenta muito útil e bastante utilizada na “guerra” contra essa doença.
Enquanto muitos países recomendam que as mulheres acima de 40 anos façam mamografias anualmente (no Brasil, a recomendação do Instituto Nacional de Câncer é para as mulheres de 50 a 69 anos realizarem mamografia a cada dois anos e exame clínico das mamas anual), diversos estudos mostram que esse exame é falho, diagnosticando cânceres incorretamente e levando a tratamentos excessivos.

O maior problema é que os médicos não podem dizer antecipadamente se um tumor vai ser inofensivo ou mortal, então eles têm que tratar todos. Só que alguns desses tratamentos, como quimioterapia, podem aumentar o risco de uma mulher desenvolver leucemia e outras doenças, por exemplo.

Pior ainda: o estudo também descobriu que a mamografia não está detectando alguns tumores verdadeiramente perigosos que mais tarde acabam por se tornar câncer em estágio avançado dificilmente tratável.

Mamografias supostamente deveriam detectar cânceres de mama precocemente, mas, depois de 30 anos de existência da mamografia agressiva, as taxas de câncer de mama avançado caíram muito pouco.

Conclusão: mamografias têm feito muito pouco para identificar cânceres de mama mortais antes que se espalhem, enquanto mais de um milhão de mulheres foram tratadas por cânceres que nunca teriam ameaçado as suas vidas.

A pesquisa

Os pesquisadores analisaram dados nacionais de mamografias feitas nos EUA e registros de cânceres entre 1976 e 2008.

Eles descobriram que, durante este tempo, o dobro de casos de câncer em estágio inicial de mama foi detectado (de 112 para 234 casos a cada 100.000 mulheres). No entanto, eles também estimam que 31% dos tipos de câncer detectados eram de crescimento lento e nunca teriam ameaçado a vida da paciente. Já a detecção de cânceres em estágio final caiu apenas 8%, de 102 para 94 casos por 100.000 mulheres.

O estudo também descobriu que, conforme a mamografia cresceu em popularidade, a taxa de mortalidade por câncer de mama caiu 28% em mulheres com mais de 40 anos de idade. Porém, eles acreditam que isso é devido, em grande parte, ao desenvolvimento de melhores tratamentos, não às mamografias em si.

Se as mamografias estivessem fazendo seu trabalho, deveria haver um paciente diagnosticado com câncer em estágio avançado a menos para cada paciente adicional cujo câncer foi encontrado em um estágio anterior.

Mas, como todo bom estudo, esse não deixa de ser polêmico. É importante lembrar que muitos especialistas e pesquisadores não concordam com os resultados encontrados pelos médicos.

O Colégio Americano de Radiologia emitiu uma declaração dizendo que o relatório de pesquisa é “profundamente falho e enganoso”, uma afirmação que os autores do estudo refutam. O Dr. Len Lichtenfeld, vice-diretor médico da Sociedade Americana de Câncer, disse que, embora o “sobrediagnóstico seja um assunto merecedor de atenção”, as conclusões do estudo “devem ser vistas com cautela”.

Mamografia: fazer ou não fazer?

Apesar do novo estudo discutir a precisão da mamografia, ele não discute sua validade. A recomendação não muda: as mulheres ainda devem fazer mamografia, já que o exame realmente já salvou algumas vidas ao longo dos anos.

Porém, decidir quando e com que frequência as mulheres deveriam fazer mamografias deve ser uma decisão pessoal, baseada no que seu médico recomenda, e nas suas convicções pessoais (por exemplo, se você acha que pode fazer a cada dois anos, e não anualmente, tudo bem).

Ainda assim, essa decisão precisa ter um pouco de senso para que a mamografia continue sendo útil à saúde das mulheres.

Então, especialistas sugerem que você conheça as recomendações de diferentes institutos de saúde (e suas argumentações).
Por exemplo, a Sociedade Americana do Câncer e o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas recomendam às mulheres fazer mamografias todos os anos a partir dos 40 anos de idade, enquanto o Instituto Nacional de Câncer brasileiro recomenda mamografias a cada dois anos a partir dos 50.

Também, é importante conhecer seu histórico familiar. Recomendações de triagem são diferentes para determinados grupos, como mulheres com um histórico familiar de câncer de mama e mulheres que testaram positivo para os genes do câncer de mama.

Você também pode se informar sobre outras ferramentas de triagem, além de mamografias. Ultrassom, ressonância magnética, autoexames e exames realizados pelo seu médico também podem ser usados para detectar cânceres de mama.

Por fim, tenha em mente que as mamografias são falhas, e podem não detectar muitos cânceres , bem como detectar um que nunca lhe faria doente. Ter essa consciência vai lhe ajudar a decidir se quer fazer o exame anualmente mesmo assim.

As mulheres não devem ter uma falsa sensação de segurança só porque fizeram uma mamografia, já que esta deixa escapar cerca de um em cinco tipos de câncer de mama.

Ao mesmo tempo, o exame pode detectar um tumor inofensivo, que você vai ter que tratar de qualquer maneira, já que os médicos não podem discernir um prejudicial de um inofensivo só pela mamografia.[CNN, MedicalXpress, INCA]

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