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Uma girafa beija seu tratador à beira da morte

Todo mundo já deve ter visto e/ou compartilhado a imagem da girafa beijando seu tratador à beira da morte, em um zoológico holandês. Mas será que a girafa estava dando um beijo de adeus?

A resposta mais simples é “provavelmente não”. Apesar de Mario Eijs, 54, ter trabalhado por 25 anos como tratador e faxineiro nas jaulas dos animais, não há como garantir que as girafas tenham demonstrado um ato de simpatia pelo paciente terminal de câncer.

As girafas talvez entendessem alguma coisa sobre a saúde do tratador, mas não há como saber; não se trata de um experimento controlado e, embora existam evidências de que as girafas são capazes de reconhecer a morte em sua própria espécie, ainda não sabemos se elas são capazes de reconhecer a morte em outras espécies.

Sobre o reconhecimento de um humano específico, é possível que o tratador tenha sido reconhecido pelas girafas, afinal de contas, ele fazia a limpeza rotineira na jaula das mesmas, apesar de ter sido contratado para limpar o aquário do zoo. Se ele visitava as girafas com bastante frequência, e é possível que elas o tenham reconhecido.

Mas é preciso um contato bastante extenso para que animais de uma espécie sejam capazes de reconhecer visualmente indivíduos específicos de outras espécies. E isto vale para nós também – é fácil distinguir indivíduos da nossa espécie (em geral), mas para reconhecer um indivíduo específico em um grupo de girafas (ou de outra espécie animal), é preciso treinamento.

As girafas em questão têm um extenso contato com a nossa espécie, já que estão em um zoológico, então é possível que elas tenham aprendido a reconhecer alguns indivíduos, como o tratador Mario Eijs.

Se as girafas não são tão boas em reconhecer alguém específico, ou os sinais da morte em outras espécies, como explicar seu comportamento?

Uma explicação simples seria a de que as girafas simplesmente ficaram curiosas com o novo objeto, uma maca, colocada em sua jaula, junto com uma pessoa. Elas não têm experiências com macas hospitalares, e não sabem seu significado, então poderiam estar simplesmente “explorando” a novidade.

Mario Eijs, que por causa de um tumor não pode andar ou falar, foi levado de maca para o zoológico pela fundação holandesa Ambulance Wish, que conta com 200 voluntários trabalhando para atender o último desejo de pacientes terminais, e que também foi responsável pela publicação da foto de Mario ganhando “uma lambida e várias fungadas”, conforme contou Olaf Exoo, um dos empregados da Fundação.

Uma das ilusões que nós, humanos, temos, é de que os animais que amamos nos amam com a mesma intensidade, mas não é bem assim. De fato, isto vale até mesmo para cachorros, ou outras pessoas, como qualquer pessoa com o coração partido ou em um relacionamento platônico pode confirmar.

De tudo que sabemos, o relacionamento cão-homem é muito complexo e rico, mais do que talvez imaginemos, e o mesmo vale provavelmente para o relacionamento girafa-homem. O desejo daquele moribundo de dar adeus a seus animais prediletos é algo bonito, mas nem sequer precisamos apelar para antropomorfismos fantásticos para encontrar beleza e maravilha na natureza. [Ambulance Wish, USA Today, Gawker, io9]

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