A múmia apelidada de Ata foi encontrada perto de uma cidade fantasma no deserto do Atacama no Chile em 2003, e ninguém sabia exatamente se aquele era o esqueleto de um ser humano ou não. Alguns diziam que era o esqueleto de um E.T., enquanto outros diziam que essa era a ossada de uma criança anã com raras mutações genéticas. Um novo estudo recém-publicado na revista Genome Research finalmente trouxe as respostas que precisávamos.
A pequena múmia foi encontrada em 2003 e vendida para o espanhol Ramón Navia-Osorio, que permitiu que ela fosse estudada por cientistas. O esqueleto ficou conservado em ótimas condições por causa do ambiente extremamente seco do deserto do Atacama, mas ela não é incrivelmente antiga. Acredita-se que ela tenha apenas 40 anos de existência.
Ata tem 15 cm de altura, uma cabeça cônica e ossos anormalmente duros. Ao invés de 12 costelas como uma pessoa normal, ela tem 10, e o formato das órbitas oculares não é arredondado.
Uma análise da composição de seus ossos realizada em 2012 pelo pesquisador Garry Nolan, da Universidade de Stanford (EUA), confirmou que os ossos são humanos e mostrou que as células presentes são típicas de uma criança entre seis e oito anos de idade. Mas muitas perguntas permaneceram sem resposta, como o sexo da múmia e porque ela tem essas características físicas tão incomuns.
O mistério apenas aumentou quando em 2013 o curador do museu Horiman de Londres, Paolo Viscardi, apontou que o esqueleto não poderia vir de uma criança, e sim de um feto abortado com desenvolvimento entre 14 e 16 semanas.
Cinco anos depois, Nolan e o colega Atul Butte, da Universidade da Califórnia em São Francisco, fizeram uma análise detalhada da parte física e genética de Ata. Este estudo traz as informações que faltavam no estudo anterior.
Ata é um feto de uma menina de descendência chilena, com várias mutações genéticas, sendo que vários genes foram responsáveis pelo desenvolvimento incorreto de seus ossos. Ela sofria de um problema raro que faz com que os ossos envelheçam rapidamente, por isso a análise de 2012 mostrou que ela tinha pelo menos seis anos de idade.
No total, os pesquisadores identificaram pelo menos sete genes anômalos que, separadamente ou juntos, foram responsáveis pela malformação.
“É surpreendente quantas mutações esse feto tem. E isso é muito relevante hoje. Crianças com doenças raras ou ainda não diagnosticadas cada vez mais estão passando por sequenciamento genético, e tipicamente procuramos por apenas um gene responsável pelo problema”, diz Butte. O problema, porém, pode estar na combinação de várias mutações, e não em uma só.
“Isso me ensinou que quando tentamos explicar problemas de saúde em pacientes, não devemos parar no primeiro gene problemático, e sim que vários genes podem ser o problema”, diz ele.
No caso de Ata, pode ser difícil e até impossível descobrir qual defeito genético pode ter causado os sintomas que observamos no corpo mumificado. Isso porque os cientistas não têm nenhuma informação sobre os parentes dela. Se eles tivessem acesso ao DNA dos pais, por exemplo, poderiam comparar quais mutações estão presentes em cada um. É possível que qualquer mutação que também estivesse presente no DNA dos pais fosse inofensiva para eles, já que eles viveram o suficiente para gerar um filho.
Mesmo sem saber muito sobre os pais dela, Nolan acredita que alguém cuidou do feto quando ele morreu há 40 anos. Ele aponta que quando ela foi encontrada, estava deitada no chão, cuidadosamente embrulhada em uma bolsa de couro. “Eles não simplesmente a jogaram fora. Alguém pensava que ela era importante”, diz ele.
Nolan agora espera que Ata volte ao Chile para seu descanso final. “Eu não acho que corpos deveriam ser vendidos como se fossem aliens em troca de vantagem financeira”, argumenta ele. [National Geographic, Gizmodo, Science Daily]