Se você já não gostava de vespas, vai odiar essa com uma broca de metal no bumbum

Por , em 18.01.2016
Vespa parasita perfura figo com seu oviduto especializado

Vespa parasita perfura figo com seu oviduto especializado

Na Índia, as figueiras são mais do que árvores que possuem frutos deliciosos, são também um campo de batalha entre dois insetos notáveis: uma vespa polinizadora inofensiva e sua inimiga número um, uma vespa parasita com uma broca serrilhada reforçada com metal no bumbum.

Tal “broca” é mais fina do que um cabelo humano, mas de alguma forma é capaz de furar o couro duro de um figo verde para depositar seus ovos dentro da fruta, seriamente arruinando o dia das vespas polinizadoras miúdas que já estavam se escondendo dentro dela.

Me dá uma ajudinha aqui

As flores da figueira ficam envoltas nos frutos, o que causa um problema reprodutivo: a árvore não pode contar com o vento ou uma variedade de insetos para espalhar seu pólen ao redor. A solução foi pedir para a evolução criar uma espécie de vespa polinizadora hiper-especializada para o trabalho.

Quando uma vespa fêmea polinizadora consegue farejar uma árvore receptiva, ela pousa em um figo e faz o seu caminho através de uma pequena passagem que leva a um núcleo oco. A entrada é tão apertada que o inseto inclusive perde suas antenas e asas. Isso não é um incômodo, no entanto, já que ele não vai mais precisar dessas coisas.

Dentro do figo, a vespa coloca seus ovos e morre. Se você é vegano e gosta de comer figos, essa pode ser uma má notícia. Mas fique sossegado: não é como se você estivesse consumindo vespas inteiras. Conforme o figo amadurece, digere as polinizadoras mortas, de forma que você está consumindo na verdade uma geleia de vespa.

Quando os ovos eclodem em larvas, se alimentam do figo antes se transformarem em adultos e acasalarem uns com os outros. Os machos sempre cavalheirescos mastigam um buraco através do figo e morrem, permitindo que as fêmeas escapem e levem o pólen da árvore para novas figueiras, reiniciando o processo.

Isso quando não são interrompidas

Seria um exemplo lindo na natureza do ditado “uma mão lava a outra”, com as polinizadoras ajudando a figueira a reproduzir e a figueira fornecendo às vespas um bom viveiro, mas quando a vida é simples?

Logo, entra a vespa parasita Apocrypta westwoodi, que também acha o figo uma casa legal para estabelecer os seus próprios ovos, além da vantagem de já ter alimento lá (os ovos das polinizadoras) para seus filhotes.

O problema é que, quando a vespa polinizadora entra no fruto, uma gosma semelhante a seiva sela a entrada por trás dela. Assim, a vespa parasita precisa dar um jeito de atravessar essa camada dura. Para isso, ela possui algo chamado de “oviduto”, uma espécie de agulha ou broca alongada.

Depois de confirmar com suas antenas que há vítimas potenciais no interior do figo, a parasita usa seu oviduto para perfurar a fruta.

Reforçado com zinco

Não é uma tarefa fácil, considerando que o figo está imaturo neste momento. Mas esse oviduto em particular não está para brincadeira.

Namrata Gundiah, pesquisadora biomecânica do Instituto de Ciência Indiano, descobriu junto com colegas que a ponta serrilhada dessa espécie de agulha é enriquecida com zinco, tornando-a forte o suficiente para perfurar o figo sem rachá-lo. Por causa da resistência do oviduto, a vespa parasita pode perfurar até 20 figos em sua vida.

vespa parasita oviduto3

“A coisa que me chamou a atenção foi que o oviduto precisa ser extremamente duro para cortar o figo, mas também precisa ser flexível, porque tem de ser capaz de manobrar dentro deste substrato e não tem olhos”, explica Gundiah.

Os pesquisadores logo notaram que a ponta do oviduto é carregado com diferentes tipos de sensores. Gundiah acha que alguns deles são sensores químicos, pois as estruturas possuem neurônios que disparam se o produto químico certo as acertam. Teoricamente, isso permitiria que a vespa “provasse” as diferentes camadas da fruta conforme perfura mais fundo. O oviduto parece também vir equipado com sensores mecânicos que ajudam a vespa a navegar.

Uma luta que termina em empate

Ainda mais incrivelmente, a parasita é capaz de sentir e cheirar seu caminho especificamente até os bebês da polinizadora. Tudo isso parece absurdamente impressionante quando você considera que a “broca” é mais fina do que um fio de cabelo humano – estamos falando de uma engenharia mecânica muito avançada por parte da evolução.

vespa oviduto

Mas o que é interessante também, a partir de uma perspectiva evolucionária, é a diferença entre os ovidutos da parasita e da polinizadora. “A polinizadora tem uma estrutura mais como uma colher, muito mais curta do que a da parasita. Há um repertório muito mais amplo de sensores na vespa parasita, porque ela precisa sentir vários aspectos diferentes do seu meio ambiente”, afirma Gundiah.

A posição da parasita também a coloca em sério perigo. Ela tem uma abundância de predadores, que também vão atrás de seus filhotes, de forma que precisa cumprir bem seus deveres maternais levando seus ovos para dentro do figo para consumir as larvas das vespas polinizadoras. Quando ambos os filhotes das vespas parasitas e polinizadoras atingem a idade adulta, as fêmeas escapam da fruta.

Esse escape é como uma cena de filme de ação: tem mortes, tem ferimentos e tem sobreviventes. Nada disso incomoda a figueira, é claro. Isso porque, inevitavelmente, algumas vespas polinizadoras vão escapar do ataque das vespas parasitas, espalhando o pólen da árvore para outros figos em torno da floresta. [Wired]

Deixe seu comentário!