O jornal New York Times fez uma matéria sobre o trabalho na Foxconn, empresa de manufaturas que domina grande parte das fábricas chinesas, responsáveis por montar os iPads, iPhones e iPods.
A história está cheia de exemplos das condições horríveis de trabalho nessas fábricas.
A Foxcoon opera 24 horas. Os empregados trabalham seis dias por semana, algumas vezes em turnos de 12 horas. Eles ficam no trabalho por tanto tempo que suas pernas começam a cansar. Existem trabalhadores menores de idade. Eles vivem em dormitórios lotados no terreno da fábrica. Já até houve boatos de trabalhadores que se suicidaram.
A reportagem ainda descreve a horrível morte de um trabalhador da Foxconn, após a explosão de um local que fabricava iPads em Chengdu, na China. De acordo com o Times, a pele do trabalhador estava quase completamente queimada. Ele morreu poucos dias depois, com a família ao lado.
A Foxconn nega os boatos de que as condições de trabalho são como o Times descreve. A Apple se recusa a comentar, mas um e-mail vazado de um dos chefes da Apple, Tim Cook, enviado para todos os funcionários, diz que a empresa está comprometida a trabalhar de maneira segura e que leva todas essas denúncias a sério.
Sabendo tudo isso, nós deveríamos nos preocupar com a origem de nossos iPhones e outros dispositivos, e com o modo como são fabricados? Ou o custo humano está abaixo da nova tela touchscreen do momento?
A questão está inclusive reunindo pessoas em um boicote. Uma tentativa, localizada no site Chance.org, coletou mais de 145 mil assinaturas para que a Apple proteja melhor seus trabalhadores.
Apesar de esses esforços serem nobres, não há modo de boicotar os aparelhos da Apple.
Vamos começar com o porquê das pessoas continuarem comprando iPhones e iPads aos milhões, toda semana. Quando o assunto é smartphones e tablets, a Apple continua fazendo os melhores. Com o iPhone e o iPad, a empresa criou um padrão que outras companhias gigantes estão tentando imitar. E a Apple não consegue fabricá-los tão rápido. Em dias de lançamento, as filas ficam gigantescas para comprar o novo aparelho.
Mesmo que os consumidores saibam o que foi necessário para que o aparelho fosse fabricado – graças às notícias espalhadas pelo mundo sobre os trabalhadores explorados -, é óbvio que isso ainda não é suficiente para mantê-los longe de um novo lançamento.
Mas não é apenas a popularidade massiva dos aparelhos da Apple que mantém as pessoas comprando. É o preço.
Nos EUA, o último e melhor modelo do iPhone, o 4S, custa U$ 199 (cerca de R$ 360). Os iPads começam com U$ 499 (cerca de R$ 900). Uma das maiores razões para a empresa conseguir vender os produtos a preços tão baixos é porque são produzidos na China, algumas vezes sacrificando boas condições de trabalho (se você acredita nas denúncias).
Essas produções de baixo custo são o motivo de muita raiva que a Apple gera por ser uma empresa de muito valor. No momento, ela tem cerca de R$ 280 bilhões no banco. Ela poderia usar um pouco desse dinheiro para exercer pressão sobre a Foxconn e outras fábricas em busca de melhores condições de trabalho.
Um boicote de sucesso conseguiria forçar a Apple a tomar esse tipo de atitude, mas os consumidores terão que sacrificar algo também.
Em uma enquete feita pelo Times, em conjunto com a matéria sobre a Foxconn, a maioria dos consumidores disse que pensa que a Apple deveria fabricar seus produtos nos EUA, mas eles não conseguem aceitar os preços de fabricação.
Em outras palavras, eles não querem pagar mais por iPhones e iPads apenas para garantir que os trabalhadores das fábricas tenham melhores condições de trabalho. Tudo gira em torno do dinheiro.
Então, mesmo que a Apple movesse sua produção para os EUA ou investisse muito na China para melhorar as condições por lá, isso resultaria em preços maiores para os consumidores. Para uma empresa tão rentável quanto ela, há quase nenhuma chance de que queira absorver esses custos.
Sim, muito do calor dessa discussão tem sido colocado na Apple. Mas ela não está sozinha nisso. A Foxconn e fábricas similares na Ásia montam aparelhos para muitas outras marcas grandes. Mudar de um iPhone para outro smartphone não vai necessariamente melhorar a vida daqueles que os fabricam.
Você até pode se sentir culpado por comprar um produto da Apple, mas o problema não será resolvido até que todas as fabricantes de eletrônicos mudem também.
No fim, os consumidores terão que pagar para melhorar as condições de vida daqueles que produzem seus iPhones. Você estaria disposto? [CNN]