O que é preciso para ser um super-herói? Para a maior parte das pessoas, sorte: nascer no lugar certo na hora errada, como o Super-Homem na véspera da destruição de Krypton, ou se expor à um radiação ionizante e de alguma forma desenvolver habilidades sobre-humanas, ao invés de câncer, como o Homem-Aranha e Hulk.
Depois, há aqueles excessivamente ambiciosos multimilionários – Bruce Wayne, Oliver Queen e Tony Stark – que deixam de ser os mimados malvados para se tornarem Batman, o Arqueiro Verde e o Homem de Ferro, respectivamente.
Estes super-heróis não mutantes super ricos não têm poderes sobre humanos. Pelo contrário, eles confiam em sua inteligência, habilidade e força. Isso levanta a questão: se você tivesse alguns milhões de reais, é possível ser um super-herói?
A resposta é sim. Bem, pelo menos quase, de acordo com E. Paul Zehr, professor de neurociência.
Zehr analisa o Homem de Ferro, em especial no seu último livro, “Inventing Iron Man: The Possibility of a Human Machine” (Johns Hopkins University Press, 2011). O livro é repleto de imagens de figuras de ação do Homem de Ferro e contos reais de seu treinamento.
A base da pesquisa do autor inclui a neuroplasticidade, semelhante à religação neural, associada com o treinamento e reabilitação. Esta experiência, combinada com a curiosidade infantil de Zehr e sua eficiência em artes marciais, faz do livro uma exploração fascinante do potencial humano.
Em suma, sem querer estragar ou adiantar o livro, levaria anos para construir a armadura do Homem de Ferro, anos para se acostumar com a vestimenta e anos de treino para aprender a lutar e voar. Assim, você estaria na meia-idade antes que você pudesse começar sua carreira de Homem de Ferro.
Contudo, os conceitos de super-herói estão sendo inventados a cada dia.
Por exemplo, o traje de ferro do Iron Man evoluiu consideravelmente desde sua estreia em 1963, na história em quadrinhos da Marvel – passou de um cavaleiro com uma armadura para algo elegante e flexível. Também é assim na vida real para as roupas de proteção, coletes à prova de balas, macacão de astronauta… A encarnação moderna do Homem de Ferro tem agora um melhor controle de seu terno, como se fosse sua pele. Também é assim para as prótese. Estamos entrando em uma era de interface cérebro-máquina, na qual meros pensamentos podem controlar um cursor de computador.
E como Homem de Ferro pode voar, também pode o “Homem Jato” Yves Rossy, a primeira pessoa a conseguir voar prolongadamente com asas a jato nas costas. Rossy, de 52 anos de idade, de fato é muito parecido com qualquer super-herói em formação, correndo contra a velhice para aperfeiçoar sua “super” capacidade.
Mas aí vem a dose de realidade. Enquanto a armadura do Homem de Ferro é quase indestrutível, o homem interior não é. Tony Stark, em última análise, estaria condenado por choques e outros ferimentos.
Sabe-se que as lesões na cabeça, a longo prazo, podem causar depressão e transtornos cognitivos – mesmo depois de muitos anos após a batida. Mais perigosas ainda são as ondas de choque das explosões que muitos soldados experenciam, que rasgam o corpo com a velocidade do som.
O Homem de Ferro é exposto a impactos e ondas de choque que são amplificados através do ferro, tornando as coisas piores. Após uma década de tanta porrada, seria improvável que Stark mantivesse sua inteligência para operar a armadura, quiçá combater o crime.
Além disso, a interface cérebro-máquina só agora é um campo emergente. Macacos e seres humanos devem treinar por semanas ou meses para fazer algo tão simples como mover um cursor de computador com seus pensamentos. E será sempre difícil, porque sua mente tentará fazer algo que ela nunca foi programada para fazer.
O terno do Homem de Ferro precisa ser conectado ao corpo de Tony Stark, é como se fosse uma extensão dele; o Homem de Ferro não é apenas um cavaleiro de armadura. Este controle total levaria anos e anos de treinamento dedicados a dominar a máquina e os circuitos artificiais certamente iriam quebrar ou viver com mau funcionamento, particularmente na presença das ondas de choque acima mencionadas.
Por útlimo, há as consequência óbvias. Se a velhice não apanhar o “Homem Jato” Rossy, um acidente incapacitante ou fatal pode. A mesma constatação é válida para qualquer proeza de super-heróis.
Mas não fique chateado com tantos empecilhos. O livro “Inventing Iron Man: The Possibility of a Human Machine” é uma história de esperança. Não é preciso ir tão longe para ver que existem homens e mulheres da vida real que são de ferro, feridos em batalha, que se reinventam para recuperar a força e a mobilidade. Muitas das lutas que o Homem de Ferro consideraria pesada, estas pessoas encontram todos os dias. [LiveScience]