Bebês nascidos em casa têm quatro vezes mais chances de morrer

Por , em 6.02.2014

Uma nova pesquisa a ser apresentada ainda esta semana é um baque à tendência cada vez mais crescente do parto domiciliar. Segundo o estudo, a taxa de morte neonatal de bebês nascidos em partos feitos em casa é mais de quatro vezes maior do que de recém-nascidos que vieram ao mundo em hospitais.

Os pesquisadores também encontraram taxas de morte excepcionalmente altas entre as mães que tiveram seu primeiro filho em casa, em vez de terem realizado o parto em um hospital.

O estudo não tem como objetivo denunciar ou recriminar a escolha do parto em casa, auxiliado por uma parteira ou doula, mas sugere que estes profissionais, em conjunto com a falta de estrutura da residência da mãe, podem não ser qualificados para lidar com os problemas da maneira que uma equipe médica poderia fazer em um ambiente hospitalar. Ou seja, os autores vinculam o aumento do risco de mortalidade neonatal com as condições de um parto em casa, e não com as capacidades da pessoa que ajudará no nascimento do bebê.

“Se você fizer seu parto em um hospital com uma parteira, você consegue evitar 75% de todos os óbitos neonatais”, comenta Amos Grunebaum, coautor do estudo e obstetra do hospital Weill Cornell Physicians, em Nova York, EUA. As mortes neonatais são aquelas que ocorrem dentro de um prazo de quatro semanas após o parto de um bebê nascido vivo.

A prática dos partos domiciliares tem aumentado nos últimos anos, mas o debate acerca da segurança desta opção continua. Além de muito debate, o assunto tem rendido estudos que chegaram a conclusões bem diferentes. Uma pesquisa realizada em 2013 na Holanda – onde cerca de 30% dos partos são realizados em domicílios – revelou que as mulheres possuem menos complicações nos partos em casa do que em nascimentos hospitalares, desde que já tenham dado à luz antes (ou seja, não sejam “mãe de primeira viagem”) e tenham tido uma gestações de baixo risco.

Por outro lado, um estudo de 2010 de uma revista científica dos Estados Unidos chegou a uma conclusão praticamente semelhante à da pesquisa recente: bebês nascidos em casa enfrentam um aumento no risco de morte infantil. Em 2012, um estudo sobre partos realizados por parteiras em comunidades Amish encontrou uma menor taxa de complicações para as mães, mas um índice equivalente de morte neonatal nos partos domiciliares, em comparação com partos hospitalares.

No Brasil, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro causou polêmica ao proibir o parto em casa no estado, em julho de 2012. No resto do país, a indicação é semelhante: a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, assim como o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, não recomendam o parto domiciliar, devido ao “risco desnecessário à mulher e ao bebê”. Entretanto, a posição dos conselhos encontra resistência em diversas mulheres adeptas a prática, que a consideram a maneira mais natural e adequada de dar à luz seus filhos.

O novo estudo analisou certidões de nascimento e de morte de 14 milhões de bebês nascidos vivos nos Estados Unidos, então os dados representam a realidade para aquele país – assim como é o caso do estudo holandês. Os pesquisadores consideraram apenas bebês únicos e desconsideraram os nascimentos de gêmeos, trigêmeos etc.

Entre os nascimentos realizados por médicos obstetras em hospitais, houve um índice de morte de 3,1 bebês para cada 10.000 nascimentos, em comparação com 13,2 mortes para cada 10.000 nascimentos entre os bebês que vieram ao mundo por meio do trabalho de uma parteira, em um parto domiciliar.

Para as mães que estavam em seu primeiro parto, os nascimentos em casa conduzidos por parteiras apresentaram resultados ainda piores: 21,9 bebês faleceram para cada 10.000 nascimentos. Os riscos também aumentaram para as mulheres mais velhas e àquelas que estavam com 41 semanas de gravidez (ou seja, uma semana a mais do que a data prevista para o parto).

Mesmo quando se olha para os pacientes de baixo risco, os partos em casa são mais arriscados. Isso porque até mesmo um parto simples pode se transformar em uma emergência muito rapidamente. Quando o bebê está em apuros, você tem literalmente minutos para realizar o parto; não há tempo para transferir o paciente da casa da mãe até um hospital próximo a tempo.

As mulheres que desejam menos intervenções médicas durante o parto, mas sem abrir mão da infraestrutura e a consequente diminuição dos riscos para o bebês, devem considerar escolher o trabalho de parteiras treinadas para realizar o parto em um hospital. [Live Science e Science 2.0]

17 comentários

  • Elisa Vieira:

    Se é tão inseguro, por que um hospital da rede pública possui atendimento ao parto domiciliar planejado? Leia sobre Hosp. Sofia Feldman!

    • Cesar Grossmann:

      Elisa, a estatística é um fato. Se um hospital tem atendimento ao parto domiciliar, as estatísticas deles são diferentes? Onde estão os números?

  • Elisa Vieira:

    Texto tendencioso!Parto domiciliar planejado conta com enfermeiras obstetras/obstetrizes e equipe humanizada.Doula faz parte, não faz parto!

    • Cesar Grossmann:

      Tendenciosa por quê, Elisa? A estatística de morte de crianças é 4x maior nos partos realizados em casa. Isto é FATO.

  • Camila Lima:

    Só se for de morrer de amoooor gente! <3

  • Daisy Ferreira:

    Acredito que hoje o que pesa é o que os hospitais perdem, financeiramente falando, com a volta desse tipo de parto, que é muito melhor.

  • António Pina:

    Qualquer parto, mesmo os de baixo risco, pode correr mal. Assim, só dentro dum hospital se pode resolver melhor o que pode correr pior!

  • carlosminer:

    Doula é uma profissional que presta apoio físico e emocional durante a gestação, parto e pós parto, não presta assistencia ao parto propriamente dito. Existem parteiras leigas , sem formação formal, enfermeiras com formação universitária e pós graduação em obstetricia, que no Brasil são chamadas de enfermeiras obstetras e obstetrizes que fazem um curso universitário de obstetrícia, chamadas de obstetrizes. Em diferentes países as denominações e formações variam.

    • Gabriela Dias:

      O Renascimento do Parto, um documentário com inúmeros dados e premiado internacionalmente.

  • carlosminer:

    A qualidade da assistência muda tudo, partos domiciliares assistidos por obstetrizes como na Holanda tem resultados iguais aos hospitalares. Nos EUA existem diferentes qualificações das profissionais que atendem os partos (parteiras leigas e enfermeiras formadas) , gerando a diferença nos resultados. Além disso na Holanda existe um sistema integrado que permite transferência para hospitais quando necessário.

    • Marcelo Ribeiro:

      O Dr. Carlos aí é que trouxe meu menino para este mundo. O homem sabe muito.

      Doula, obstetriz e parteira é a mesma coisa? Falando nisso não encontrei “doula” no Houaiss de 2009.

    • Monica Davila:

      É fantástico como a mídia pode ser “boa” ou “ruim”. Uma pesquisa comparando dados só é válida quando os dados são semelhantes/similares. DOULAS não são profissionais habilitadas a atender partos, emergências ou quaisquer situações “técnicas”. Elas trabalham um suporte físico e emocional e de logística para as parturientes e suas famílias. Comparar doulas e obstetras é como comparar Professor de canto com otorrinolaringologista. O “foco” é o mesmo, a atuação absolutamente diferente.

  • Mário:

    Poucas conclusões se tiram sobre a segurança do parto domiciliar a partir daqui. É importante distinguir os partos em casa planeados e assistidos dos que não o são. E por quem são assistidos. Além do que não estão contempladas as consequências a longo prazo para mãe e bebé do parto hospitalar com intervenções desnecessárias. Não é o local, é o que se se faz (ou não se faz) que mais importa. A evidência científica é clara: não há razão para recomendar mais um do que o outro.

  • Veronica F. Garcia:

    Teria que olhar esse estudo. O parto domiciliar só é indicado em gestação de baixo risco. Se eu comparar mulheres que parem em casa por questões culturais mesmo tendo gestação de alto risco, obviamente os prognósticos serão ruins.
    E outra, pela matéria parece que estão comparando o ATENDIMENTO ao parto e não o local: na Holanda os parteiros são profissionais em obstetrícia, não são leigos como em comunidades Amish. Eu pari em casa após cesariana eletiva, assistida por um obstetra e recomendo.

  • rafinha-15:

    Bem, sempre achei que parto em hospital é mais confortavel. Agora sei que também é mais seguro 🙂 Obrigada pela ótima materia

    • Mário:

      Se se sente mais confortável no hospital, claro que deve ir para o hospital 🙂 Isso é das coisas mais importantes! Mas acho que não se consegue concluir que um local é mais seguro que o outro só a partir desta informação.

    • Monica Davila:

      Ótima matéria, mas sem dados completos? Um estudo comparando os nascimentos hospitalares e domiciliares com atendimento por profissionais capacitados (obstetras ou enfermeiras obstétricas ou obstetrizes) chegou a um número bem diverso: a mortalidade neonatal hospitalar era maior do que a domiciliar. Engraçado como de um estudo para outro os dados variem tanto, não? E apenas avaliando as certidões de óbito e nascimento, não tem como fazer uma comparação decente.

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