O computador que pode sobreviver ao universo está mais próximo de se tornar realidade

Por , em 9.07.2012

Há um tempo, os cosmólogos chegaram à conclusão que o universo vai terminar na “morte térmica” também conhecida como entropia: todas as trocas de calor vão parar quando tudo estiver exatamente na mesma temperatura. Esta idéia provocou alguns cientistas a pensar em uma forma de driblar a situação como o escritor de ficção-científica Isaac Asimov neste brilhante conto.

O físico teórico Frank Wilczek, que trabalha no Instituto Tecnológico Massachusetts (MIT, nos EUA), é um destes cientistas.

Cristal-tempo

Estudando cristais, o professor Frank pensou no seguinte: um cristal é um objeto tridimensional com uma estrutura repetitiva – um padrão que se repete em 3D. O arranjo da estrutura é o que se chama de arranjo de energia de ligação mínima. E se pudéssemos criar uma estrutura repetitiva 4D, em que a quarta dimensão fosse o tempo?

Para fazer uma estrutura assim, as moléculas do cristal deveriam girar e retornar exatamente a mesma posição, o tipo de coisa que consome energia. Mas existe um tipo de “rotação” que acontece sem o consumo de energia: se você colocar uma corrente de elétrons em um circuito supercondutor, a corrente continua mesmo depois que você desliga a máquina. Falta juntar as coisas: um anel supercondutor, com uma corrente pulsante, que forme um padrão que se repita no tempo, e daí você teria um “cristal-tempo”, capaz de sobreviver a morte térmica.

Armadilha iônica

O cientista Tongcang Li, da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), ao lado de colegas da Universidade do Michigan em Ann Arbor (EUA), e da Universidade Tsinghua em Beijing (China), sugeriram uma maneira de criar o cristal-tempo.

Primeiro, você pega uma armadilha de íons, um aparato que prende partículas carregadas em um campo magnético. Em um campo frio, os íons se repelem e formam uma cristal em forma de anel. A seguir, você aplica um campo magnético estático mínimo, para fazer o anel de íons girar.

A mecânica quântica diz que a energia de rotação dos íons deve ser maior que zero, mesmo que o anel seja resfriado ao seu estado de energia mais baixo. Neste estado, os campos magnético e elétrico não são mais necessários para manter a forma do cristal e o giro do íons que fazem parte do mesmo. O resultado é um cristal-tempo – ou um cristal no espaço-tempo, porque o anel de íons se repete tanto no espaço quanto no tempo.

Por enquanto, este cristal-tempo está só no “mundo das ideias”. O professor Wilczek imaginou que daria para fazer vários anéis, um interferindo no outro, e com isto um computador. Mas há outro problema: os cristais-tempo, feitos em laboratório, exigiriam que esse laboratório também sobrevivesse para que o computador de fato superasse à morte térmica.

De qualquer forma, o que um computador destes faria? Calcularia o valor exato de PI para um número infinito de casas e contaria quantas vezes dentro deste número aparece o número PI com 100.000 casas de precisão (infinitas vezes)? Com certeza haveria tempo para isto, mas não haveria ninguém para comemorar o feito… [NewScientist]

9 comentários

  • David Msf:

    Este computador poderia passar a eternidade calculando uma forma de reverter a entropia e iniciar um novo big bang. Teria um tempo infinito para procurar a resposta, acabaria descobrindo como fazer isto…

    Ah é!! É exatamente isto que faz o computador no conto do Asimov que foi citado, hehehehe! 😀

  • Wesley Xavier:

    Isso não era ficção de filmes? Como assim cristal-tempo.
    A terra tem tipos de “portais” que interage com o sol! Agora querem fazer cristal-tempo? Nada parece estar ligado, mas ao mesmo tempo, parece totalmente ligados…
    Que dúvida cruel!Me recuso a acreditar ou mantenho atento as novidades?
    Detalhe! Como calcular PI (infinito) com exatidão, ou melhor, finito.
    É como pensar em: “Essa verdade é inverdade, ou essa inverdade é verdade?!”.
    Complexo.

  • Rafael2:

    Serão as lendárias(?) “caveiras de cristal”? Não sabemos o que ocorre nos laboratórios ocultos aos governos do mundo e das possibilidades extrafísicas.

  • andre_tohuin:

    O movimento perpetuo sem uso de energia é impossível. Pode se dizer que um palito de fosforo gera mais energia que é gastada para acende-lo, mas está contida no fosforo, sem nenhum reagente, seja qual for sua matéria seria impossível uma movimentação.
    Mais uma coisa. Quais seriam as consequências de um universo inteiro na mesma temperatura?

    • David Msf:

      Não é impossível, é apenas estatisticamente muito improvável. A energia de uma câmara de gás fria poderia perfeitamente fluir para uma outra de gás mais quente se esperássemos tempo suficiente para que isto ocorra. O fato do calor “escoar” do corpo quente para o corpo frio não é uma “lei imutável”, é apenas o evento mais provável de acontecer (99,999999999% de chance contra 0,00000000001% de chance de acontecer o oposto).

      Nunca aconteceria por exemplo no tempo de vida previsto para o nosso universo. Porém, se tivermos um tempo infinito para esperar, é certeza que vai acontecer. Pode demorar um tempo inimaginável, pode acontecer no segundo seguinte, mas, se pudermos esperar infinitamente, podemos afirmar com 100% de segurança que vai acontecer! 😀

  • garretereis:

    Recomendo veementemente a leitura do conto indicado!!
    Sou fã de ficção, principalmente de Júlio Verne. Mas gosto de contos futuristas, e digo q esse me surpreendeu!

  • Jairo R. Morales:

    Olha, eu não duvido que a humanidade encontre uma forma de escapar do fim do universo em um futuro (muito) distante: Ainda temos bilhões de anos de evolução tecnologica e cientifica pela frente e, se a escala N. Kardashev, uma civilização tipo III possuiria plenos recursos para evitar isso.

    Uma alternativa seja criar novas estrelas artificialmente (o que alias é sugerido no conto de Isaac Asimov) ou mesmo “reacender” o combustivel nuclear delas com uma bomba de hidrogênio (pelo menos é o que acontece no filme “Missão Sunshine”), sei que há uma grande diferença entre a realidade e a ficção… mas uma vez que não posso adivinhar como será o mundo nos próximos 4 bilhões de anos, não acho que essas sejam idéias tão absurdas assim 🙂

    Isso é claro só “atrasa” a entropia, sendo que a única forma de salvação verdadeira seria a fuga para um (possível) universo paralelo, ou mesmo criação um novo… quem sabe?

    • Rodrigo:

      Se analisarmos o avanço acelerado da tecnologia de hoje, e a iminência da fusão entre a computação quântica, a nanotecnologia, etc, é impossível prever o que será daqui há 300 anos, não precisamos falar em bilhões.

    • Wesley Xavier:

      Belas palavras, prefiro não achar impossível também, principalmente diante de tudo o qual se foi provado recentemente contra o grande ceticismo das pessoas. “Vai saber, a teoria diz ser possível…” rs

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