Pesquisadores repetem famoso experimento da tortura e os resultados são desconcertantes

Por , em 16.03.2017

Você já deve ter ouvido falar dos experimentos Milgram, aquela série infame de testes que começaram em 1961 na universidade de Yale e concluíram que a maioria dos participantes torturaria outra pessoa se uma figura autoritária ordenasse isso. Os participantes eram instruídos a dar choques cada vez mais fortes em “alunos” que não acertassem a resposta de perguntas.

Dez anos mais tarde, em 1971, um estudo ainda mais famoso foi inspirado no de Milgram, chamado Experimento de Aprisionamento de Standord. Nele, os alunos da universidade interpretavam papéis de guardas ou prisioneiros de uma prisão fictícia. Conforme os dias foram passando, os guardas se tornaram cada vez mais cruéis com os prisioneiros. Os dois estudos se tornaram os experimentos de psicologia mais controversos da história, e foram desenvolvidos após a Segunda Guerra Mundial, durante os julgamentos dos guardas e soldados alemães que agrediram e mataram as vítimas do holocausto.

Agora, mais de 50 anos depois, pesquisadores da Polônia repetiram o primeiro teste e revelaram que o resultado ainda é o mesmo. “Quando ouvem falar sobre os experimentos de Milgram, a maioria das pessoas diz ‘eu nunca me comportaria desta forma’”, diz um dos psicólogos envolvidos no estudo, Tomasz Grzyb, da Universidade de Ciências Sociais e Humanidades SWPS.

“Nosso estudo ilustrou mais uma vez o tremendo poder da situação em que sujeitos são confrontados com coisas desagradáveis e podem concordar com elas”. Para explorar isso, os voluntários do estudo seguiram ordens de uma autoridade que pedia que eles dessem choques em uma pessoa em uma sala vizinha quando ela desse respostas erradas para perguntas. Os voluntários acreditavam que estavam participando de um experimento sobre a memória. Eles não podiam ver a pessoa da sala ao lado, mas podiam escutar suas reações à dor.

No primeiro estudo, havia 30 botões diferentes que os participantes poderiam apertar, cada um com uma etiqueta com uma voltagem diferente. Os choques começavam com 15 volts e iam até 450 volts, uma quantia perigosa. Eles eram informados de que poderiam machucar seriamente o receptor dos choques.

O que eles não sabiam é que a máquina apenas emitia sons e luzes assustadores para parecer que estava funcionando, quando na verdade a pessoa da outra sala era um ator que fingia estar em dor. Os voluntários acreditavam que realmente estavam machucando a outra pessoa.

O resultado do estudo original foi que 65% dos 40 voluntários seguiram as ordens e chegaram a apertar os botões de 450 volts, mesmo ao ouvir os terríveis gritos de dor da sala ao lado. Algumas pessoas se recusaram a participar e foram embora, e muitas protestaram verbalmente contra as ordens. A maioria, porém, continuou obedecendo.

Um estudo de 2014 sobre o estudo de 1961 mostrou que os participantes que obedeceram se mostraram orgulhosos por estar contribuindo com a ciência, e não com consciência pesada. Isso quer dizer que esses comportamentos provavelmente são movidos por vontade de realizar algo nobre e com valor, e não pela vontade de causar o mal.

Pesquisa atual

E=Experimentador, S=Sujeito, A=Ator

De 1961 para cá, muitos pesquisadores argumentaram que a metodologia de Milgram foi desleixada e que os dados foram manipulados, mas vários testes semelhantes foram repetidos no mundo todo, apresentando resultados consistentes. Até agora, o estudo nunca tinha sido feito na Europa Central.

“Nosso objetivo era examinar o nível de obediência que encontraríamos entre os residentes da Polônia”, escreveram Grzyb e seus colegas no trabalho publicado na revista Social Psychological and Personality Science.

Na versão mais atual do estudo, participaram 80 pessoas, 40 homens e 40 mulheres, com idades entre 18 e 69 anos. A principal diferença entre os dois testes foi que havia apenas os dez primeiros botões, para tornar o estudo mais ético. O resultado foi que 90% dos voluntários apertaram o décimo botão – a mesma porcentagem dos participantes do experimento de Milgram que apertaram os dez primeiros botões.

“Meio século depois da pesquisa original de Milgram de obediência à autoridade, a maioria dos participantes ainda está disposta a eletrocutar indivíduos indefesos”, concluiu Grzyb. Os pesquisadores poloneses não conseguiram avaliar se há diferença no comportamento masculino e feminino, por conta da pequena amostragem. [Science Alert]

2 comentários

  • Laucinélio Gomes de Resende:

    Até o século XXI as ciências médicas não é confiável. A esquizofrenia paranoide. Curei-me sem drogas.Dieta lacto-vegetariana e hipnoterapia

    • Cesar Grossmann:

      Laucinélio, não é assim que funciona a ciência. Por que uma pessoa “se curou” assim, não quer dizer que isto vai funcionar para todo mundo, ou até que a “cura” tenha sido resultado do que você acha que foi. Isto se você realmente foi curado…

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