Chute no saco: por que é sempre tão engraçado?

Por , em 9.09.2013

Normalmente, não achamos engraçado a dor de outras pessoas. Mas, quando é uma performance, ou mesmo um vídeo amador no YouTube, não dá para evitar a gargalhada. Um dos temas recorrentes é a dor genital masculina.

Mas por que um chute no saco é tão engraçado?

Para entender o fenômeno, precisamos entender o que nos faz rir.

Psicólogos, filósofos e teóricos do humor têm tentado descobrir porque achamos certas coisas engraçadas desde os tempos de Platão e Aristóteles.

O humor continua sendo um fenômeno complexo, e nenhuma teoria capaz de compreender e explicar todas as coisas que achamos engraçadas foi encontrada — ou pelo menos uma que todos os pesquisadores concordem. Mas existem algumas hipóteses que podem se aplicar ao humor relacionado à dor.

Violação

De acordo com o psicólogo e diretor do Laboratório de Pesquisa de Humor da Universidade de Boulder, Peter McGraw, nós nos divertimos com coisas que perturbam nosso mundo de formas pequenas, às vezes imperceptíveis. Ele está investigando uma teoria de que todo humor resulta de algum tipo de violação benigna, algo que nos torna desconfortáveis de forma subconsciente.

O conceito de “violação benigna” diz que o humor consiste de uma incongruência entre um elemento socialmente aceitável e um elemento que viola a “ordem moral subjetiva”.

É inquietante para nós ver alguém ser machucado, algo que achamos que não deveria acontecer em circunstâncias normais. A risada aparece apenas em certas condições, como quando uma situação parece irreal ou distante, ou se algumas pistas nos informam que se trata de comédia — vídeos de tombos e trombadas não ficam tão divertidos sem a música e risadas de fundo.

Ria de si mesmo e melhore seu senso de humor

Teoria da agressão e superioridade

O ataque físico definitivamente como um chute no saco viola a maior parte das ideias de ordem moral da sociedade, o que talvez explique porque a agressão cria certo tipo de humor. Freud acreditava que o humor servia como uma forma de dissipar tensão sexual ou agressiva, mas de uma forma socialmente aceitável. Thomas Hobbes alega em seu livro “Leviatã” que a gargalhada vem do sentimento de superioridade, e que é uma extensão de um sentimento de “glória súbita” ao percebermos que alguém é comparativamente defeituoso ou fraco.

Apesar do humor e da risada não estarem sempre interligados, rir do sofrimento e humilhação de outra pessoa pode estar relacionado a colocar o outro em níveis de igualdade, ou colocá-lo no seu devido lugar.

Joseph Polimeni, psiquiatra e professor associado da Universidade de Manitoba, afirma quando rimos de um chefe, ou os alunos riem dos professores, estão desafiando a hierarquia na forma de um jogo. É por isto que é mais engraçado um executivo pomposo escorregar na casca de uma banana que um aleijado. Este tipo de humor pode vir dos primatas, da forma que jovens chipanzés golpeiam um macho alfa durante as brincadeiras, para testar os limites do que podem fazer.

Compromissos equivocados

O pesquisador cognitivo Matthew Hurley, da Universidade de Indiana, tem outra teoria para o humor: a de que ele resulta quando percebemos que fizemos uma conclusão errada sobre o mundo, um “compromisso equivocado” em nossa memória. A natureza nos recompensa com a risada ao percebermos a inconsistência em nossa visão de mundo.

Isto explica porque não é divertido quando as pessoas se machucam de certas formas, como em uma briga de bar, mas, voltando ao exemplo anterior, escorregar em uma casca de banana é. Nossa presunção automática de que a calçada não tem cascas escorregadias é contestada.

Distanciamento psicológico

O distanciamento psicológico nos ajuda a distinguir entre situações que parecem engraçadas das que são assustadoras ou repugnantes, o que faz com que acidentes em filmes ou no YouTube pareçam engraçados mesmo quando as situações na vida real não são.

As brincadeiras não parecem tão engraçadas se o espectador sentir empatia pela vítima. Esta é também uma das razões pelas quais deixamos nossos filhos assistirem desenhos animados onde os personagens ficam agredindo um ao outro — animais de desenho animado não são humanos.

Como eles não são reais para nós, não ligamos se eles se machucam ou não, uma ideia que é reforçada quando eles reaparecem, inteiros como sempre estiveram, de situações fatais como cair de penhascos ou serem achatados por carros. Mas, ao mesmo tempo, distância demais pode diminuir a graça de uma situação dolorosa: tropeçar pode parecer engraçado no momento, mas um ano depois ninguém dá bola.

Excitação emocional

Existem outras forças em ação quando vemos humor físico. O cérebro entra em curto quando vê alguém sendo machucado. À medida que a situação se desenrola, uma testemunha não sente a mesma valência emocional negativa que a pessoa que sente a dor, mas o cérebro ainda registra excitação emocional, e pode categorizar erroneamente a emoção súbita como positiva.

A pessoa não está achando a dor divertida ou mesmo tem pouca empatia com a tragédia alheia, mas o sistema emocional é ativado para responder ao cenário. Talvez a parte do cérebro que ache graça nas coisas simplesmente seja ativada com mais intensidade que a parte que reconhece que alguma coisa está errada.

Comédia embolada

Voltando à nossa pergunta inicial, acertar alguém nas “joias da família” é um tipo de comédia perturbador — se você perguntar, todo mundo vai dizer que não é divertido levar pancada nos testículos. Mesmo assim, é um tipo de comédia que não parece ter perdido a graça.

Existem mais algumas razões para tal tipo de dor ser considerada engraçada. Uma delas é a referência velada à sexualidade, que tem sido parte da própria essência do humor — um golpe nas virilhas é particularmente humilhante e incapacita alguém rapidamente.

Excluindo as implicações freudianas da agressividade e tensão sexual da situação, existe também a rapidez com que um golpe “baixo” consegue derrubar até mesmo um homem grande. Colocar de joelhos alguém que antes parecia poderoso e orgulhoso, em resposta ao que parece uma ofensa menor, é uma violação das expectativas.

Some estes dois fatores às teorias que apresentamos, e você tem uma situação engraçada nas mãos. Talvez seja por isto que achamos graça só de ouvir que alguém foi atingido na virilha. [PopSci]

Para a sua diversão

4 comentários

  • datoru01 .:

    Ainda bem que eu não me enquadro nesta vasta maioria. Sinceramente não sei como alguém pode rir destas coisas, e o pior, é MUITA gente. Ver alguém sofrer por acidente é bom para estas pessoas. Eu só ri apenas do gif lá de cima, porque o cara mereceu.

  • Igor.R:

    Casa comigo?

    https://www.facebook.com/igor.rocha.313

  • Marcelo Ribeiro:

    Acho que pessoas que pensam como tu assistem muito jornal da TV. Até onde observo a maioria das pessoas é boa e honesta.

  • Marcelo Ribeiro:

    Caraca, que deprê! Ler seu comentário foi quase como um chute ali embaixo (chute no próprio, ver um chute no saco alheio seria hilário).

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