Primatas com cócegas revelam as origens do riso a 16 milhões de anos

Por , em 8.06.2009

Não tente fazer isso em casa, mas fazer cócegas em um gorila, orangotango, bonobo ou chimpanzé pode causar explosões de grunhidos.

E, de acordo com Marina Davila Ross, da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, esses sons são risadas. No estudo mais divertido do ano, Davila e colegas analisaram sons de grandes primatas e de bebês humanos com cócegas e traçaram uma linha comum de sons do riso. As raízes da risada surgem há aproximadamente 10 a 16 milhões de anos, de acordo com relatório feito pelos pesquisadores publicado online em quatro de junho.

O biólogo inglês Charles Darwin explorou no fim do século XIX a possibilidade de que expressões de emoções tipicamente humanas, como o riso, poderiam ter “primos” evolucionários em outras espécies. Davila Ross e seus colegas aproveitaram a antiga ideia com uma técnica moderna: um computador criou uma espécie de árvore genealógica baseado nas gravações dos sons produzidos pelos primatas e pelos humanos.

Davila Ross gravou o riso de bebês e de amigos convidados para uma sessão de cócegas. Para gravar o som dos primatas, ela registrou as cócegas em zoológicos europeus e em um centro malaio de primatas. De acordo com a pesquisadora, os primatas gostavam da experiência: “Depois que terminávamos o trabalho, eles ficavam por perto”.

Ancestrais dos grandes primatas provavelmente emitiam sons longos e grunhidos lentos, parecidos com os orangotangos emitem atualmente, segundo os pesquisadores. Com a evolução da linhagem, os sons de reação às cócegas passaram a ser mais curtos e rápidos; os chimpanzés e bonobos atuais emitem sons mais curtos e com menor tempo de espaço entre os sons.

Semelhanças

Os padrões de fluxo de ar também mudaram durante a evolução do riso, de acordo com o estudo. Humanos dão risada quando sentem cócegas de um modo que o ar só sai dos pulmões, e especialistas acreditavam que primatas não tinham o sistema nervoso “treinado” para apenas expirar. A recente pesquisa confirmou que os primatas não são não restringidos: gravações incluíam exemplos de risadas com expiração.

O time de cientistas também chegou à conclusão que durante a evolução do riso, as vibrações das cordas vocais tornaram-se cada vez mais importante. Na risada humana, as cordas vibram regularmente, criando uma estrutura melódica, porém, o estudo mostrou que bonobos têm risadas com vibração regular das cordas vocais.

Outros estudos

“É fascinante”, afirma Jaak Panksepp, da Universidade de Washington (EUA), mas também diz que os resultados encontrados pelos grupos de cientistas são conservadores. De acordo com Panksepp, as origens do riso vêm de uma linhagem mais antiga que a dos grandes primatas. Ele realizou estudos de sons emitidos por ratos com cócegas: “Estimo que a prova empírica já apóie um cenário evolucionário mais antigo para o surgimento de respostas emocionais nos circuitos cerebrais”.

Assim como no caso dos primatas, que ficavam por perto querendo mais cócegas, vídeos dos estudos de Panksepp mostram que os ratos recebem as cócegas e, depois que elas acabam, correm atrás das mãos do pesquisador, como se quisessem mais. De acordo com ele, a chave para descobrir se o riso surgiu em um nível menos avançado da escala evolutiva será a identificação dos genes ligados a circuitos cerebrais relacionados à alegria. “Isso será a maior prova evolucionária, contra ou a favor, para um modelo de continuidade evolutiva”, afirma Panksepp. [Science News]

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